Funções bem definidas
Dia sete de Dezembro de 1942. Segunda-feira. O dia que viveu na infâmia para os moradores dos Estados Unidos.
Dia primeiro de maio de 1994. Domingo. O Brasil inteiro parou para acompanhar o acidente que tirou a vida de um de seus maiores ícones.
Dia onze de setembro de 2001. Terça-feira. O mundo assistiu estarrecido o colapso da representação do poder de uma nação.
Dia sete de fevereiro de 2008. Quinta-feira. Foi o dia do meu renascimento profissional.
Existem dias que ficam marcados na memória e na história. O primeiro acima foi o dia quando o Japão bombardeou a base militar norte-americana em Pearl Harbor. O dia que ficou na infâmia para os americanos foi o estopim para que eles ingressassem na segunda guerra mundial. Milhares de jovens norte-americanos levantaram-se para se juntar às forças militares e lutar pela liberdade ameaçada pelo Eixo, Alemanha, Itália e Japão. O segundo dia eu me lembro nitidamente dos detalhes daquele domingo pela manhã, quando o piloto de fórmula 1 Ayrton Senna chocou-se no muro de proteção da curva Tamburello no circuito de Imola na Itália. A comoção tomou conta do país inteiro. Mais do que o representante do Brasil neste esporte, Ayrton Senna era a representação do que todo o brasileiro gostaria de ser para si: um vitorioso, audaz e bem-sucedido piloto de fórmula 1. O país inteiro chorou com a sua partida e ainda hoje seu nome brilha no panteão dos heróis nacionais. O terceiro dia citado acima para mim é memorável – e para sempre será – porque foi o meu primeiro dia trabalhando no Community Health Center onde eu trabalho.
Quinze anos atrás eu dava os meus primeiros passos como Dentista nos Estados Unidos. Eu ainda me lembro da minha primeira paciente, uma menina de nove anos que precisava fazer um exame clínico. Ao meu lado uma Dental Assistant já veterana na profissão que me ajudou muito durante este primeiro dia, me dando informações e orientações de como lidar com as anotações do computador, e de onde eu comecei a obter meu aprendizado com os termos técnicos dentro do consultório odontológico.
Esta semana eu completei quinze anos trabalhando como Dentista aqui nos Estados Unidos. Parar para pensar e lembrar por tanta coisa que passei durante este período chega a ser emocionante. Sem ser piegas, eu digo. Tanta gente que passou pela minha vida profissional e que me fez chegar onde eu estou hoje não me dá outro sentimento do que o de gratidão. Durante meus dias no Brasil eu nunca tive a oportunidade de trabalhar com um assistente. Primeiro porque eu não podia pagar para ter alguém me auxiliando, e segundo porque eu não tinha dinheiro para pagar o salário para uma auxiliar. O terceiro e quarto motivo também estão relacionados com a minha falta de fundos para cumprir com os honorários trabalhistas de uma auxiliar, então vamos entender que o motivo pela qual eu não trabalhei com uma auxiliar quando eu estava no Brasil era porque era caro. Mas quando eu comecei a trabalhar nos Estados Unidos eu tive à minha disposição a presença de auxiliares competentes, treinada(o)s – porque homens também trabalham como auxiliares – e que estavam dispostos a me ajudar. E como eu aprendi com eles todos. Eu gosto de dizer que esta foi a minha primeira escola de inglês aqui nos Estados Unidos. Escola, porque eu tive a oportunidade de aprender de uma maneira muito dinâmica.
Um grande exemplo sobre este aprendizado acontecia quando eu estava com o paciente na cadeira, eu no lado esquerdo – canhoto – o paciente à minha direita e a minha auxiliar, na época, à direita do paciente. Ela estava sempre atenta a tudo o que estava acontecendo e prestando atenção na conversa que eu tinha com os pacientes. No momento que eu perdia o sentido a palavra, ou o termo odontológico não surgia, ela entrava e complementava a linha de raciocínio com o termo e significado do que eu queria dizer. Eu digo que isto era um aprendizado dinâmico, porque logo depois eu já usava aquilo que ela falou para um outro paciente, e assim minha alfabetização odontológica em inglês aconteceu de maneira lenta e permanente.
Eu tenho um sentimento de gratidão muito grande pela equipe com quem eu trabalho. Eu costumo dizer para cada um deles que eu não poderia fazer o que eu faço sem a presença deles ali. Alguns agradecem, outros rebatem dizendo que eles não fariam aquele trabalho sem a minha presença ali, mas eu tenho muito claro para mim que, mais do que um trabalho em conjunto, o trabalho de um Dental Assistant é de uma importância enorme no sucesso de um Dentista. Não somente aqueles que estão ao nosso lado. As pessoas responsáveis pela recepção, agendamento e gerenciamento do local de trabalho têm ainda mais a sua importância destacada quando o volume de pacientes aumenta ou diminui. Um consultório bem administrado tem no seu quadro de funcionários pessoas engajadas com o sucesso, não do Dentista, mas de toda equipe. A recepção fica a cargo de agendar e preencher a agenda do dia. O gerenciamento do local e pessoal fica sob a responsabilidade de uma pessoa habilitada em administrar o prédio, pessoal e o financeiro. As Auxiliares têm como responsabilidade o cuidado com o paciente, controle e pedido de material, biossegurança e a garantia de que o Dentista irá ter o que precisa durante o procedimento.
Como dá para perceber as funções dentro de um consultório odontológico norte-americano são muito bem delineadas e é função é semelhante a engrenagens de uma máquina onde cada uma destas partes estarem bem engraxadas e em harmonia para que este motor funcione da maneira mais eficiente possível.
Se você tem alguém te auxiliando no seu consultório, reconheça a sua importância para o sucesso do seu trabalho. Faça com que ela se sinta parte de alguma coisa e reconheça que sem ela a sua vida profissional não seria tão bem-sucedida. Você se sentirá bem com você mesmo, ela se sentirá bem com o trabalho que ela realiza e no final todos crescem e saem ganhando.
Um abraço e sucesso sempre!