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No início dos anos 50 foi a primeira edição da revista MAD foi lançada nos Estados Unidos inicialmente como o que eles chamam por aqui de “comic book”, posteriormente tornando-se uma revista. Seu objetivo principal era fazer sátiras de situações diárias que acabou marcando época tornando-se referência no assunto quando, principalmente quando a sua mascote oficial, Alfred E. Newman, aparecia estampada em bancas de jornais e revistas.
A revista tornou-se um grande sucesso pelo mundo, tendo alcançado dezenove países sendo que o Brasil teve sua primeira edição no início dos anos setenta tendo como seu editor Otacílio D’Assunção – o Ota – que trouxe para a linguagem popular brasileira as traduções e adaptações do idioma inglês, assim como a produção de material nacional. Três editoras foram responsáveis pela edição bimestral da revista: Editora Vecchi, Editora Record e finalmente a Editora Mythos.
Eu não era assíduo leitor da revista porque eu sempre achei as ilustrações muito intensas. Também não era leitura comum dentro de casa porque meus pais não eram muito a favor de determinados assuntos mostrados ali. Algumas piadas eram de um certo gosto duvidoso, mas algumas charges não tinham como não chamar a atenção como Spy vs Spy e os traços marcantes do cartunista americano Don Martin sempre me chamaram a atenção pela ironia, sarcasmo e estupidez de alguns de seus personagens como o imbatível Capitão Klutz.
Uma das minhas partes preferidas da revista em português era “Respostas cretinas para perguntas imbecis”. Bem no estilo do personagem Saraiva tão bem representado pelo ator Francisco Milani as charges mostravam diferentes opções de respostas cretinas para aquelas perguntas imbecis que são feitas no dia a dia. Quem nunca passou por uma situação como esta e se segurou na cadeira para não dar uma resposta sincera para aquela pergunta imbecil? Como quando você chega em casa pingando porque a chuva te pegou desprevenido sem guarda-chuva e perguntam se você se molhou. Ou como quando você bate com a canela na mesa de centro e aquela dor sobe pela sua espinha e perguntam se doeu. Ou mesmo quando sua esposa está grávida e perguntam o que aconteceu.
Ainda que as regras de boas maneiras impeçam que uma resposta direta seja parte deste tipo de interação, ainda hoje eu me vejo prestes a soltar uma resposta imbecil para a mesma pergunta que me fazem pelo menos uma vez por semana no trabalho: Preciso tirar a máscara? Decidi escrever algumas respostas que me vêm à mente neste momento, não para ensinar más maneiras para ninguém. Também não quero parecer pedante ou me mostrar melhor do que ninguém. Eu mesmo tive a minha fase de fazer perguntas imbecis, mas eu sei que eu já superei este momento. Eu me lembro bem. Eu tinha uns doze anos.
Imagine a cena: A assistente traz o paciente, obtém os dados do paciente, afere pressão arterial, temperatura, deixa tudo preparado para quando a gente chegar para o atendimento. Cumprimentamos o paciente, fazemos alguns comentários iniciais, enquanto posicionamos a cadeira na posição de trabalho. Tudo pronto para iniciar o procedimento e o paciente com a máscara no rosto. Ele olha para você e pergunta: “Tiro a máscara agora?”. Respostas não dadas:
- Não, fica com ela até o final da consulta.
- Não, vamos esperar ela sair sozinha.
- Imagine, você está tão bem com ela.
- Não, deixa ela aí que o meu trabalho fica mais fácil.
- É melhor não porque pelo que eu me lembro seu mau hálito está bem protegido.
- Não, deixa ela aí porque eu já tive um pesadelo essa noite que passou.
- Hoje não. Vou tentar uma técnica de restauração mágica.
Uma das coisas que a pandemia do COVID 19 trouxe para nosso dia a dia foi a necessidade de um equipamento de proteção individual muito mais elaborado e eficiente. Mesmo fazendo uso diário de todo equipamento sugerido, ainda assim parece que o número de casos não têm regredido como o esperado. Ainda que o governo local tenha removido a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes sociais, ainda hoje dentro do ambiente do consultório o uso de máscaras é obrigatório. Eu não sei por quanto tempo esta obrigatoriedade vai permanecer, mas tenho certeza de que quando tudo isto acabar outras perguntas imbecis irão aparecer, e a primeira que me vem à cabeça é:
- Precisa abrir a boca?
Um abraço e sucesso sempre!