Muito Obrigado!

            Minha faculdade formou grandes nomes dentro da Odontologia. Muitos ganharam o mundo e hoje desenvolvem sua atividade em países como Portugal, Suíça, Espanha, Irlanda e por aqui mesmo nos Estados Unidos. Nunca houve dúvida nenhuma de que o ensino oferecido dentro dos anos acadêmicos na nossa instituição provou ser de alta qualidade, ainda que não carregasse a tradição de instituições financiadas pelo governo.

            Um dos nomes que a UNITAU formou era muito conhecido entre os alunos pelo seu apelido. Sim, ele era Professor. O nome dele era João, assim como o meu, e como tantos outros professores da casa graduou-se nos idos de 1980. Temido por quase todos e odiado por muitos, ele fez a sua carreira dentro da Faculdade com um modo muito peculiar de administrar as atividades clínicas: terrorismo, assédio moral e sarcasmo.

            Mas ainda que esta descrição possa parecer deméritos, ele era um excelente professor. Ele sabia ensinar e sabia o que estava ensinando. Sua peculiaridade no ensino fugia completamente do que a gente estava habituado. Ele mandava a classe toda colocar-se em círculo e ele ministrava as suas aulas magistralmente, chamando aos alunos por nomes ou apelidos que ele mesmo criava ali na hora. Mais do que transmitir conhecimento, ele transmitia segurança e fazia os alunos entenderem que aquilo que estávamos aprendendo poderia mudar a nossa vida.

            Mudou a minha.

            Fui seu aluno de clínica. Ou seja: eu o tinha como meu professor e ele supervisionava os monitores da disciplina. Ele era o que avaliava o trabalho ao final do dia e dava a nota. Eu era o último da fila. O último da turma. Não tanto por ser o pior clinicamente, mas porque o meu nome era o último da lista da sua turma, e ele fazia questão de chamar a todos um por um em ordem de chamada. Na época quando a turma estava sendo dividida no início do ano, eu sinceramente fiquei decepcionado com a desistência daquele aluno logo no primeiro ano, porque se ele tivesse ficado, eu não teria caído na famigerada turma A2.

            Quis Deus que assim acontecesse, e em nada eu me arrependo.

            Eu posso dizer aqui que eu carreguei uma dependência do terceiro para o quarto ano nesta disciplina. Acho que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Este segundo ano revisitando as bases da disciplina por mais um ano me deu mais conhecimento e segurança para toda a minha vida. Eu me lembro quando, em aula, ele disse que se eu estivesse competindo por alguma vaga de trabalho e seu nome aparecesse como tendo sido meu professor a vaga seria minha. Isso nunca aconteceu, mas certamente todo o terror porque eu aprendi a lidar trabalhando semanalmente para aprender e desenvolver o meu gosto pela Odontologia, teve muito a ver com aquelas aulas, gritos, comentários sarcásticos e terror.

            Hoje eu não sou especialista na área, mas eu me sinto tão capacitado quanto alguém que dedica suas horas exclusivamente para este trabalho. Acho até mesmo que eu estou um pouco à frente, porque eu ainda faço coisas que os especialistas não fazem. Em nada carrego dentro de mim qualquer sentimento de rancor ou ressentimento. Muito pelo contrário. Eu sempre fui muito grato a ele por ter semeado este amor pela atividade que hoje tem feito me destacar dentro do trabalho. Se uma coisa que eu poderia dizer-lhe se hoje eu o encontrasse seria:

            - Muito obrigado!

            Um abraço e sucesso sempre!