Trinta dias
Hoje completamos 30 dias de quarentena. Um mês inteiro dedicado à permanência em casa ou, como está tão difundido atualmente, distanciamento social. Um distanciamento que acaba não sendo muito difícil de se obter por conta da tecnologia que nos cerca atualmente. Quando tudo começou eu fiquei imaginando o que seria passar por todo este processo sem ter acesso à internet, vídeo conferências e vídeo chats. Fico pensando quando meus pais moraram nos EUA no início dos anos 70, quando se levava mais de um mês para receber informações sobre familiares vivendo no Brasil através de cartas. Ligações telefônicas existiam, mas o preço por minuto era impraticável. Telegramas, talvez, mas a quantidade de informação era muito restrita.
Há alguns anos eu estava me perguntando o que significava o termo “take for granted”. A primeira vez que eu ouvi este termo eu fique pensando o que aquilo queria dizer. Ouvi de uma paciente que atendi em Hyannis, quando ao final da consulta ela se mostrou muito grata por ter sido vista e disse que não “take for granted” nada na sua vida. Este termo significa dizer que a gente aceita as coisas sem questionamento ou objeção. Quando a gente olha uma torneira a gente “take for granted” que no momento que abrirmos a torneira água irá sair. Ou o ar que a respiramos. Ou para as gerações mais novas, ligar o computador eles irão se conectar imediatamente à rede mundial. Eu cresci em um tempo quando que para conseguir a melhor conexão para a internet eu deveria aguardar todo mundo ir para a cama, ter a linha de telefone desocupada, esperar dar meia noite para a tarifa de pulsos telefônicos ficar mais barata para poder usar um modem para conseguir uma conexão discada.
Hoje a nossa quarentena não tem sido tão difícil se pensarmos que há poucos anos estar-nos-íamos de gladiando dentro de casa por total e completa falta do que fazer. Quantas vezes as donas de casa não teriam mudado todo o layout da casa para conseguir ocupar o tempo. Ou maridos entediados estariam procurando diferentes projetos dentro de casa para simplesmente ter o que fazer. Crianças cheias de energia sem ter onde extravasar todo aquele potencial energético. Hoje a nossa quarentena nos oferece algumas alternativas para uma aproximação maior de queridos que não se veem ou se falam há muito tempo. Facetime, Zoom, Skype, Hangout e outras tantas plataformas existentes que possibilitam um contato antes impossível de se conseguir.
Faltam 10 dias para se completar uma quarentena. Ninguem sabe, ainda, quando este distanciamento social irá terminar. As pesquisas pelo mundo a fim de se obter uma vacina ou um tratamento eficaz acontecem ininterruptamente. A esperança do mundo inteiro é para que tudo volte ao normal em breve tempo. Vale o momento para que possamos refletir se nossa atitude frente ao que reclamávamos anteriormente irá continuar quando retornarmos às nossas atividades. O trabalho ainda será um fardo? Existirão ainda motivos para reclamar? Talvez um pouco cedo para dizer, mas conhecendo os participantes deste enredo, eu creio que muitos irão querer voltar aos tediosos dias de reclusão.
Estamos vivendo a história! Nossos netos ouvirão e aprenderão nas escolas as dificuldades do ano de 2020 e eles não terão a mínima idéia do que isto significou, assim como muitos hoje em dia não têm idéia do que é uma ficha telefônica.
Um abraço e sucesso sempre!