Alicerce Para o Futuro
No final dos anos oitenta eu passei por uma mudança muito grande. Nada relacionado com pelos em lugares inesperados ou mudança de voz. Um processo de amadurecimento que eu prefiro pensar em alguma coisa como “pegar no tranco”. Foram necessários dois anos de insucesso nos bancos escolares para que eu tivesse a compreensão de que a vida não se resumia ao que eu pensava ser a realidade.
Perdi dois anos na escola de maneira consecutiva e isso acabou me dando um senso de responsabilidade que até então eu não tinha. Eu me lembro quando eu estava deitado no colo da minha mãe em casa quando a primeira vez aconteceu e ela me consolando. Eu sabia, lá no fundo, que eu não tinha como me queixar daquele resultado, porque eu realmente não tinha sido o aluno que eu deveria ter sido aquele ano inteiro. Eu me envolvi com um grupo na sala de aula que não estava muito aí para escola. Eu me sentava no fundo da sala, ficava literalmente viajando durante o dia inteiro, entretido no meu mundo e em conversas paralelas, imaginando o que eu não faria no dia seguinte. Ainda que eles todos deste grupo tenham sido aprovados, eu fui o único que foi - como a escola preferia dizer - retido.
“Perder um ano na escola não é grande coisa” diziam as pessoas. “É o momento que ele vai amadurecer e no próximo ano tudo vai melhorar”. O que eu não imaginava era que a coisa estava mais verde do que o esperado. A segunda tentativa de prosseguir veio e a minha atitude mudou. Meu pedido foi de permanecer em uma sala de aula onde eu não tivesse contato com nenhum outro aluno da mesma escola. A minha sala de aula neste segundo ano tinha alunos vindo de outras escolas. Para mim um ambiente totalmente diferente que me ajudaria a não me distrair com conversas paralelas e poder me concentrar no que realmente era importante. Bom... não foi bem isso que aconteceu.
Esse segundo ano acabou se tornando o “jump start” que eu precisava. Eu não tenho como culpar ninguem mais além de mim mesmo deste segundo insucesso. A impressão que eu tive comigo mesmo foi péssima. Um segundo fracasso nos bancos escolares, e de maneira consecutiva, literalmente não ressoava muito bem ao meu favor. Eu precisava mudar, mas não sabia como e não sabia por onde. Na escola onde eu estava eu não teria como permanecer mais um ano. Quando eu penso nisso hoje, eu seria o aluno “mau elemento” da sala de aula. Três vezes sentado na mesma sala, assistindo as mesmas aulas e todos os outros colegas com quem eu frequentei a escola desde a segunda série do primário terminando o colegial naquele ano. E eu? Ainda começando.
O senso de responsabilidade que floresceu dentro de mim veio como um relâmpago. O meu objetivo era não mais falhar. Eu precisava de um lugar onde eu conseguisse ser aprovado. Eu precisava de um novo ambiente escolar, uma nova escola, novos professores e uma nova vida. No meu caso, eu precisava simplesmente ir para um lugar mais fácil. E foi justamente essa mentalidade que minha mãe teve quando foi fazer a minha matrícula em uma escola Estadual. A reputação desta escola realmente não era das melhores, mas neste caso era a melhor opção porque quem em sã consciência gastaria mais um ano de mensalidade escolar com quem perdeu dois anos consecutivos dentro da sala de aula?
A mudança se deu neste dia da matrícula quando minha mãe estava entrando na escola Estadual para fazer a minha matrícula e ela encontrou o nosso Dentista que estava ali próximo naquele momento. A proximidade daquele momento não foi coincidente, porque do outro lado da escola ficava - e ainda fica - a Faculdade de Odontologia da UNESP. Nosso Dentista de anos passados era professor da Disciplina de Ortodontia da UNESP. A amizade que florescera entre nosso Dentista e a família se deu ao longo dos anos ao ponto da gente chama-lo pelo primeiro nome. Nunca o chamei de doutor. Era sempre pelo segundo nome, tamanha intimidade que existia entre a gente. Naquele dia ele viu a minha mãe entrando na escola, chorando e completamente sem esperança de oferecer a única coisa que ela e meu pai tinham se proposto a oferecer de melhor para os filhos.
A intervenção Divina se deu naquele encontro. Naquela conversa minha mãe foi convencida que a minha matrícula em uma escola Estadual não seria o melhor para mim. Contrariando todas as expectativas eu acabei sentado em uma das escolas mais caras da cidade e ali foi que tudo mudou. Mais do que a responsabilidade que eu tinha de seguir à frente, agora, mais do que nunca, eu não poderia decepcionar ou mesmo desperdiçar o investimento que estava sendo feito em mim. O ambiente escolar totalmente diferente de onde eu estivera por mais de dez anos anteriormente foi o que realmente fez a diferença. Novo ambiente escolar, novas pessoas ao meu redor e a impressão de que o mundo era maior do que eu imaginava. Maior do que aquele mundo de regras onde eu vivera até então. Uma escola onde não era necessário o uso de uniforme e onde o senso de responsabilidade era oferecido aos alunos de uma maneira muito diferente do que eu compreendera até então.
Eu agradeço muito aos meus pais pelo voto de confiança que eles me deram. Realmente eles não desistiram de mim quando eu mais merecia. Eu reconheço o sacrifício deles é como uma grande prova de amor e não tem como não pensar assim. Se eu estou onde eu estou hoje, fazendo o que eu faço, onde eu faço e com quem eu faço é por mérito do sacrifício que eles fizeram. Eu reconheço e não tem um dia que eu não agradeço por ter passado pelo que eu passei. O que eu quero dizer com isso é para que você não desista do que você quer para sua vida. Se você chegou até aqui neste texto o que eu quero dizer é para que você não desista do que você tem almejado para a sua vida. Sonhar é o primeiro passo para conquistar o que se deseja. Busque o conhecimento do caminho a ser seguido por quem pode te ajudar. Esteja próximo de quem tem mais experiência e oferece a oportunidade de te fazer maior de te fazer mais forte. O que pode parecer um fracasso hoje pode ser o alicerce para seu sucesso no futuro.
Um abraço e sucesso sempre!
