Dor de Cabeça
Um dos grandes prazeres que eu encontrei nestes anos vivendo nos EUA foi escrever. Eu confesso nunca ter me considerado um expert nesta arte. Nem poderia... Dizem que para escrever bem deve-se, primeiramente, ser um ávido leitor. Isso eu nunca fui. Eu sou mais daqueles que prefere ouvir o livro a sentar em um sofá, ou na cama, e ler. Sofá e cama, para mim, não combinam com leitura. Esta combinação sempre me levará para um mundo distante. O mundo dos sonhos. Dormindo.
Eu conheci os audiobooks – livros narrados – não faz muito tempo. O meu primeiro contato com esta modalidade de livros se deu em um dos episódios do seriado Seinfeld quando George – o baixinho careca que gostava de levar vantagem em tudo – decide lançar mão deste recurso quando ele vê um cego no metrô de Nova Iorque ouvindo um livro. Para mim, a grande vantagem de se ouvir um livro é que você pode estar no meio de outras atividades e, ainda, ter a oportunidade de aprender alguma coisa. A grande desvantagem, porém, é não ter a chance de marcar um parágrafo ou colocar um marcador sobre qualquer parte que te interesse para depois voltar e rever aquela parte.
Este ano de 2019 foi um ano de muito aprendizado profissional para mim. Como Team Leader eu aprendi muita coisa na área de relações interpessoais e recursos humanos. Aprendi que, modestamente, tenho uma inteligência emocional não tão ruim assim, aprendi que não se deve nunca seguir as ordens de instâncias superiores ao pé da letra, aprendi a ficar calado quando eu devo ficar calado, aprendi que confiança deve ser conquistada com a boca fechada e mostrando resultados e aprendi que manter um diário sobre as ocorrências dentro do trabalho pode te ajudar a tirar um peso de dentro de você.
Como parte deste aprendizado um audiobook que eu encontrei e de onde eu aprendi muito foi sobre Pressão e Estresse. Eu vinha passando por um momento de pressão e estresse dentro do trabalho e comecei a procurar sugestões de livros que falavam sobre este assunto na internet. Eu achei um muito interessante, escrito por dois autores, que primeiramente mostrava a diferença entre estar sob estresse e estar sobre pressão. No livro, define-se estresse como aqueles momentos onde a gente sente que as horas do dia não serão o suficiente para concluir todas as nossas tarefas. Pressão é quando a gente tem alguma coisa a perder. Um exemplo interessante de momento de pressão contado no livro foi a história de um piloto de helicóptero que durante um treinamento ele acabou tendo problemas com seu equipamento e se ele não conseguisse concluir a sua tarefa estaria colocando em risco a sua vida e a vida de outras pessoas.
Em linhas gerais, o que ele quis dizer foi que momentos que passamos de pressão é quando temos alguma coisa importante a perder.
Eu entendi que passei por poucos momentos de pressão na minha vida. O grande vilão da história toda é o nosso medo de enfrentar momentos que nos coloquem fora da nossa zona de conforto. Mas ao mesmo tempo quanto mais criamos situações para sairmos da nossa zona de conforto mais seguros nos sentimos em momentos inesperados. Uma área da minha vida profissional onde eu tenho uma dificuldade enorme e preciso ainda muito aprimoramento e experiência é lidar com pacientes beligerantes.
Este ano eu me deparei com um paciente assim. Quando eu achei que tinha lidado da melhor maneira possível, fui me reportar para meu Diretor e aprendi que o que eu fiz foi simplesmente ter dado poder para o paciente que estava alterado, xingando e exigindo tratamento. No final do dia eu acabei recebendo uma autorização do meu Diretor para negar tratamento àqueles pacientes que não mostram um comportamento adequado dentro do consultório e que não é fazendo o que eles querem que eu mostrarei eficiência e profissionalismo.
O paciente não pode ditar o tratamento que ele quiser. Na Odontologia o cliente não tem razão. O que ele entende como prioridade não pode se sobrepor ao que o Dentista entende como o mais importante para ele. Cabe ao profissional ouvir o paciente até o fim. Deixar o paciente falar e colocar para fora suas frustrações e ansiedades é a melhor forma de se ter uma visão mais ampla sobre os motivos que o levaram até lá. De posse das informações cabe ao Dentista explicar de maneira simples e objetiva a melhor forma de se chegar ao resultado que o Dentista crê que será o melhor para o paciente. Ninguém é obrigado a fazer aquilo que não achar certo. Perder um paciente aqui e outro ali simplesmente por você não concordar com o que ele acha certo nunca será uma perda. Sempre será uma bênção.
Mantenha sempre seus ouvidos abertos para os pacientes e espere o tempo necessário para falar. Não interrompa o paciente durante seu discurso, querendo completar suas frases para ganhar tempo. Ouça de maneira paciente. Mostre-se aberto através da sua linguagem corporal. Não cruze os braços e não cruze as pernas. Olhe diretamente para o paciente e demonstre atenção. Desenvolva empatia com ele. Fale sobre situações similares que você já presenciou ou mesmo tenha ocorrido com você. Isso aproximará você cada vez mais dos seus pacientes e desenvolverá um sentimento de confiança muito mais forte por parte dele. Seja humano e mostre que você está ali disposto a ajudar da melhor maneira possível. Se o que você oferecer não for o que o paciente espera ele tem toda a liberdade de buscar o auxílio de outro profissional. Se possível, encaminhe ele para quem você acha que possa oferecer um tratamento melhor. Pode parecer que você estará perdendo um paciente, mas certamente será uma dor de cabeça a menos para você.
Um abraço e sucesso sempre!