Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Cabeça aberta

Cabeça aberta

            As pessoas me perguntam se eu estou ansioso para iniciar as aulas. Por enquanto eu não estou. Acho que a minha ansiedade, no momento, reside nos meus últimos dias dentro do meu local de trabalho; mais por saber que eu não vou mais voltar para lá e reencontrar a minha equipe de trabalho e alguns pacientes do que o trabalho em si. Digo isto, porque o trabalho é aquilo que a gente já está habituado. Meu procedimento começa quando eu chego ao trabalho, abro o computador e elaboro o plano para os pacientes. Eu abro o prontuário, vejo o que foi feito anteriormente, reviso a história médica do paciente, vejo se existe alguma ressalva colocada na última consulta e faço uma anotação na tela do agendamento do anestésico que eu vou usar, a sua quantidade, que tipo de agulha – curta ou longa – vou precisar e o procedimento que será feito. Se for Classe II com dentes adjacentes presentes eu peço um sistema de matriz específico – Palodent – e se for sem a presença de dentes adjacentes eu peço a matriz Tofflemire. Se for Endodontia, faço a anotação de que será um tratamento de canal e se for extração eu anoto quais dentes serão extraídos e se haverá a necessidade de fazer odonto secção, marcando a necessidade de uma caneta de alta rotação.

            Uma vez feito isto, eu sei que os Assistentes terão em mãos o material necessário para que eu possa chegar e começar o procedimento. Eu entro no consultório, me apresento e digo o que está planejado para fazer naquele dia. Eu acho muito importante fazer esta documentação antes de iniciar o procedimento para que o paciente saiba precisamente o que irá acontecer, porque já houve momentos onde eu comecei o procedimento e o paciente dizer que eu estava trabalhando no lado errado, mesmo que o caso em questão estivesse devidamente planejado. Algumas vezes o paciente passa por um momento inusitado antes da consulta e a presença dele ali é para resolver algum outro problema que esteja causando incômodo naquele momento. Se o que está causando problema faz parte do planejamento inicial, eu mudo o procedimento para resolver ali, na hora mesmo. Caso seja um problema não observado anteriormente – como uma fratura de coroa, abscesso ou qualquer outra ocorrência, eu procuro resolver o problema ali na hora deixando o paciente ciente da necessidade do retorno para dar continuidade ao tratamento previamente planejado.

            Quando extrações são necessárias, a gente faz o que se chama “Time Out”, onde confere-se em voz alta o nome do paciente e qual dente será extraído. Antes mesmo disto acontecer – caso haja qualquer motivo de dúvida por parte do paciente ou mesmo por minha parte – eu pego um espelho, peço para o paciente segurar, aponto com o meu dedo ou peço para o paciente apontar qual o dente que está incomodando para dar continuidade ao procedimento. Ter criado este hábito fez muita diferença na minha vida profissional depois de um caso quando o paciente chegou reclamando de um primeiro molar inferior com um abscesso muito grande, e ele jurava que o dente que incomodava era o adjacente, por conta de uma restauração antiga de amálgama que era possível visualizar. Pelo fato de o dente não estar com um aspecto estético muito bom e pelo fato de a dor estar próxima, para ele o problema era o dente previamente tratado. Radiograficamente o dente restaurado se mostrava hígido e sem comprometimento periodontal, ao passo que o dente adjacente apresentava evidências radiológicas de problemas bem claros. Foi então que de posse de um espelho em mãos eu pude mostrar para o paciente que o dente que precisava de tratamento – no caso a extração – não era o que ele achava que fosse. Quando você obtém do paciente o consentimento para dar continuidade ao tratamento tudo se move de uma maneira muito mais tranquila.

            Outra coisa importante de se lembrar é de que o paciente nunca pode ditar o tratamento que deverá ser feito. Se o paciente se sentar na cadeira exigindo que seja feito algum tratamento ao qual não foi previamente planejado ou que o profissional não ache que seja necessário o Dentista não deve ceder, levando muitas vezes o paciente elevar o tom de voz ou criar confusão por estar sendo contrariado. Neste momento entra a necessidade de calma e bom senso para mostrar para o paciente – nunca convencer – de que aquilo que está sendo exigido não condiz com o benefício dele próprio e que contraria a sua conduta profissional. Particularmente eu acho muito desgastante engajar em discussão com o paciente. Acho muito mais fácil dizer que eu não sou capaz de realizar aquele procedimento e encaminhar para quem sabe fazer melhor do que ceder, fazer um tratamento a contragosto e depois “casar” com o paciente para o resto da vida. Aqui vale a máxima: “You touch it, you own it!”. Você colocou a mão, agora o problema é seu.

            Claramente tudo isto vem com o tempo. A habilidade de saber lidar com diferentes tipos de pacientes vem com a experiência clínica durante os anos e é uma aprendizado constante. As diferentes pessoas que a gente encontra diariamente servem para que a gente possa tirar um pouco delas e oferecer um pouco da gente. Este processo é o que nos torna pessoas melhores e melhores profissionais. Manter a cabeça aberta para novas experiências certamente fará de você um profissional que certamente será lembrado quando o assunto for Odontologia.

            Um abraço e sucesso sempre!

Descanse

Descanse

Força, Fé e Foco

Força, Fé e Foco