Cabeça Ocupada
Durante estes dias de confinamento eu tenho procurado manter minha cabeça sempre ocupada. Nada sobre trabalho. Eu não saberia dizer o que pensar sobre este assunto, a não ser entrar em contato com alguns pacientes para saber como eles estão passando. Também mais por curiosidade do que sobre o tratamento propriamente dito.
Mas para manter a cabe.ca ocupada com o que venho pensando eu precisaria do auxílio de São Pedro, para que a gente não ficasse tanto tempo dentro de casa. Pelo menos a oportunidade de dar uma saída para o quintal. Mas nem isso. O que fazer então? Vez ou outra eu me sento na frente do computador e assisto a vídeos de entrevistas, estou ouvindo um audiobook e assistindo vídeos de cirurgias. Dois dias atrás eu assisti a uma cirurgia de prótese de quadril. Fiquei mesmo foi surpreso com o tamanho da cicatriz. Para uma coisa tão grande, eu imaginei um acesso enorme. No final o médico mostrou com uma régua. Somente dez centímetros. O acesso para a remoção do meu apêndice foi quase a mesma coisa!
Mas falando sobre o exercício da Odontologia nos EUA.
No momento estamos passando por uma crise em nível mundial que, com certeza, está afetando muitos profissionais da área; principalmente aqueles que dependem do número de pacientes e procedimentos que entram em seus consultórios. Eu não tenho a estatística sobre o assunto, mas geralmente são em momentos como o que estamos passando que conseguimos entender a importância do que aprendemos quando iniciamos nossas atividades profissionais. Para todo dinheiro que entra, devemos separar parte dele para momentos de emergência.
No meu caso, por trabalhar para uma companhia que presta serviços de saúde, eu tenho alguns benefícios que acabam fazendo parte do pacote. Para momentos como este, não existe nada especificamente falando sobre interromper as atividades por conta de uma pandemia mundial (seria “pandemia mundial” uma redundância?). A primeira coisa que foi mencionada pela nossa Liderança foi o uso do recém instituído Personal Time Off (PTO). E como funciona este PTO?
Até o ano passado, a cada quinze dias, a gente acumulava um determinado número de horas para férias e sick time (quando ficamos doentes). Na época era muito chato, quando ficávamos doentes e tínhamos que dizer que não poderíamos trabalhar. Era necessário ser bem específico. Para férias era a mesma coisa. O problema era quando o número de horas de sick time acabava e era preciso tirar das férias. Tinha gente que não gostava, outros achavam injusto e outros nem ligavam. Com o PTO tudo ficou junto e não tem mais a necessidade de discriminar um ou outro. Não veio para o trabalho por qualquer motivo? Tira as horas do PTO.
Agora, que temos que ficar em casa, a companhia está utilizando o PTO dos funcionários para poder continuar o pagamento do salário. Estamos em férias forçadas e tendo nosso salário garantido pelas horas acumuladas. Para uns isto é errado, para outros é inconveniente. Eu mesmo estou feliz de ter o número de horas suficientes para ficar parado pelo tempo inicialmente previsto. Mas e quando este tempo passar? O que fazer?
Inicialmente a companhia irá permitir que os funcionários acumulem um determinado número de horas negativamente. Se eu chegar a zero horas de PTO disponível, pelos dias que eu continuar sem trabalhar eu vou poder ficar com o número de horas acumulado negativamente por até duas semanas. Se eu trabalho vinte e quatro horas por semana, vou poder acumular menos quarenta e oito horas. O que passar disto a gente começa a ficar sem receber.
Sinceramente – e é o que eu espero – este problema não vai se arrastar por mais de duas semanas. Para uns é tempo demais, para outros é o tempo máximo para não começar a entrar em desespero. O Governo Federal está trabalhando para tentar minimizar o impacto neste período de quarentena na vida da população. Quem pode trabalhar não interrompeu suas atividades. Tenho um vizinho que trabalha com pintura e mesmo nestes dias de quarentena ele tem enviado alguns de seus funcionários para trabalhar. Não quero crer que sejam todos, mas o grupo continua a se reunir na frente de sua casa.
Uma alternativa que ouvi de uma colega, foi o que aconteceu com seu marido. Sendo um plumber membro do sindicato, ele foi demitido para poder coletar seguro desemprego. Neste caso uma alternativa financeiramente interessante para o empregador, porque ele não vai precisar pagar salário para os funcionários e, estes terão uma fonte de renda até que retornem para suas atividades regulares.
A luta diária tem sido manter-se calmo neste momento de incerteza. Não luta propriamente dita. O que quero dizer é manter a cabeça ocupada. É hora de limpar os armários e passar por uma sessão de desapego das coisas inúteis que a gente acumula. Já basta o stress acumulado.
Um abraço e sucesso sempre!