Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Entrevista

Entrevista

E cá estamos. Tudo pronto para retornar para casa.

Retornar de onde?

Eu já conto.

Contei no último texto que na semana passada eu recebi um email me convidando para participar de uma entrevista para Residência em Endodontia. No momento estou no Hotel em Chapel Hill na Carolina do Norte esperando dar a hora para eu tomar café da manhã, me dirigir para o aeroporto e voltar para casa.

Não fosse a pequena demora no embarque para Raleigh, a saída de Boston teria sido totalmente normal. Como bobeira pouca é bobagem, eu posso adicionar o fato de que o portão de embarque também mudou e o motivo da demora para o embarque se deu, também, pela mudança da aeronave. Coisas que acontecem… A chegada em Raleigh foi tranquila. A segunda vez por aqui em menos de seis meses não me fez sentir em casa. O aeroporto não parece ser muito grande, mas o que me chamou a atenção por aqui foi a cordialidade das pessoas.

Desta vez eu procurei um hotel que ficasse mais perto da Universidade. A minha primeira visita aqui em abril, eu procurei ficar próximo do aeroporto e percebi que não tinha sido uma boa escolha por dois motivos: o primeiro foi a distância necessária para chegar aonde que queria e a qualidade do hotel não foi lá aquelas coisas. Novamente, lições de vida. Desta vez, eu encontrei um hotel com boas recomendações e há pouco mais de um quilômetro da faculdade. O hotel, desta vez bem melhor, como serve para uma única função, desta vez, cumpriu com a qualidade esperada.

O dia da entrevista começou cedo. Tudo bem que eu caio da cama todos os dias e como sempre, não foi nada diferente. Bom, na verdade, a maior diferença veio do hotel que, desta vez, ofereceu um bom café da manhã. Voltei para o quarto e voltei a estudar e a me preparar para a entrevista. Perguntas que poderiam me fazer, treino mental de como responder, o que responder, para onde olhar, colocação das mãos durante a entrevista, a história da faculdade, origem dos nomes, Diretores… eu tinha tudo preparado e pronto para ser questionado sobre o meu conhecimento sobre o programa, professores e linha de pesquisa.

Cerca de uma hora antes da entrevista eu combinei um encontro com um dos professores da Universidade. O Dr. Antonio Moretti – um dos entrevistados aqui no blog (veja a entrevista aqui) – muito gentilmente me recebeu no seu escritório e conversamos um pouco sobre os meus planos, sobre a sua atividade na Faculdade. Essa conversa me deu muito ânimo para o que estava para acontecer dali há pouco tempo. Quem dera que o mundo tivesse mais gente como ele. O Dr. Moretti é, sem dúvida, um ponto fora da curva.

Ele me levou até o prédio onde seria feito o encontro com os demais candidatos e onde teríamos o primeiro contato com a equipe da Endodontia. Quando eu cheguei no local eu encontrei 5 candidatos. Todos jovens, bem vestidos, conversando uns com os outros e apresentando-se como um sincero sorriso no rosto. Duas mulheres e seis homens. Eu soube depois que o numero original de candidatos selecionados eram dez, mas dois desistiram por terem sido aceitos em outros programas. Logo que entramos na sala de conferência onde o almoço (pizza) foi servido os residentes começaram a chegar. Os residentes do primeiro ano – que começaram o programa a menos de um mês – pareciam ser os mais receptivos. Não me entenda mal. Todos pareceram estar bem dispostos ali, mas eu senti um pouco mais de abertura por parte dos “calouros”.

Este primeiro contato com os Residentes e demais candidatos é muito, muito importante. Entenda que a entrevista não começa na hora que você ingressa na sala e fica frente a frente com os membros do grupo. A sua entrevista começa na sua reposta positiva de que você estará presente no dia selecionado e somente termina quando você envia um email de agradecimento pela oportunidade de ter participado do processo. Eles olham tudo em você. O seu jeito de se aproximar, de falar, de iniciar uma conversa, de colocar assuntos, como perguntar, o corte de cabelo – que no meu caso não precisaria me descabelar por isto – sapato, roupa, tudo. Eles fazem um raio X de cima abaixo para saber se você será um bom representante do nome da Instituição no futuro. Mais do que isto, eu aprendi ali que os residentes se dão muito bem. Um deles, na verdade, disse que a pessoa que causava drama ali já tinha se graduado há algum tempo. Todos parecem ter um bom relacionamento entre si.

É interessante pensar, também, que este processo de entrevista é uma via de mão dupla. Não é porque eles estão ali oferecendo uma vaga disputadíssima que eles não tenham que se mostrar abertos e atraentes para os candidatos. A atenção e vontade de responder perguntas, abertura para conversar faz muita diferença também. Afinal quem é que quer passar os próximos anos em um ambiente tóxico e pesado? Isso nem de longe foi a impressão que eu tive deste grupo. Todos ali se mostraram muito dispostos a ajudar.

A minha entrevista começou com uma prova pratica. Fomos direcionados para a clinica de Endodontia onde eu teria que fazer uma cirurgia de acesso em um dente de manequim. O dente era um primeiro molar superior direito. Não fosse a textura do dente ser tão macia e aquele cheiro de plástico queimado, tudo correu sem maiores complicações. Esses dentes são fabricados cum uma câmara pulpar grande e a anatomia interna é como a que a gente encontra nos livros. Eu e outros dois candidatos tivemos 45 minutos para fazer a cirurgia de acesso. Usei 3 brocas. Uma 557, Endo Z e Gates Glidden numero 6. Quinze minutos mais ou menos. Vinte, talvez. Sem problemas nesta parte.

Saindo da clínica fomos direcionados para a sala de conferencia onde tivemos o almoço. Ali, teríamos outros 45 minutos para fazer a leitura critica de um artigo cientifico. O artigo falava sobre a relação entre dentes tratados Endodonticamente e os tipos de restaurações feitas. Descrevia a longevidade dos casos bem sucedidos ou não. Também, sem maiores complicações, uma vez que bastava fazer a leitura do artigo e responder cinco questões feitas. Também, sem maiores problemas. Os outros dois candidatos usaram quase todo o tempo oferecido. O que eu respondi em pouco mais da metade de uma folha de papel almaço, eles pareceram ter sido bem mais prolixos do que eu. Não sei… tem que esperar.

A última parte foi a conversa entre os candidatos e os membros da disciplina. Dois grupos separados e liderados pelos dois Professores ali presentes. Os mais membros eram um residente, uma Dental Assistant e dois outros membros da administração da cadeira. Aqui, todo o estudo e prática entraram em cena. Valeu cada minuto estudado, conversado e orientado. Se você não sabe como se portar durante uma entrevista para Residência, procure ajuda de quem sabe sobre o assunto porque isto é ponto chave neste processo. O que você deve falar, o que não deve falar, onde olhar, onde colocar as mãos, sinais de ansiedade, medo e preocupação. Uma tempestade de emoção que se não for bem treinado e orientado pode colocar tudo a perder.

Ao final do dia, todos se dirigiram para um happy hour onde todo o peso da entrevista acabou. Eu tive a oportunidade de conversar bastante com um candidato que, acredite ou não, ainda não terminou a faculdade. Ele iniciará o seu ultimo ano do curso daqui dois dias e se ele ingressar no programa, ele irá direto para Residência em Endodontia. Inacreditável! A única coisa que eu pensei foi que ele realmente deve ser muito fera na graduação, para competir com gente já trabalhando no mercado há algum tempo. Confesso que ali eu era o tiozão. Depois de mim, a pessoa com mais tempo de experiencia tinha seis anos de pratica privada. No nosso primeiro encontro cada um falou o tempo de experiência. Três anos, quatro, seis, ainda faculdade… quando chegou a minha vez, eu falei meio encabulado: vinte e quatro… mas tudo bem. Este rapaz, ainda na faculdade, durante o happy hour, me pediu conselhos para depois que ele terminar o curso. O que fazer, para onde ir e como guiar sua vida. Dá pra imaginar uma oportunidade de ouro como esta? Eu fiquei feliz e lisonjeado. De fato, foi uma experiencia muito boa.

No final do dia, eu cheguei no hotel, liguei para casa, conversei com as meninas, liguei para meus pais e meus irmãos em vide conferência e digitei um email de agradecimento ao Diretor do Programa pela oportunidade de ter participado da entrevista. Durante o happy hour eu tive um feedback de uma Dental Assistant sobre a minha entrevista. Ela disse que eu tinha ido bem, mas agora é esperar.

            Um abraço e sucesso sempre!

 

29 de julho 2022

29 de julho 2022

Fé