Entrevista Para Emprego
O meu primeiro contato com uma Universidade Norte Americana se deu no final de setembro de 2007. Fazendo uma pesquisa na internet para conseguir um trabalho eu me deparei com uma oportunidade na Universidade de Boston – Faculdade de Odontologia – para trabalhar como Dental Assistant no Departamento de Pós-Graduação. Esta Pós-Graduação era voltada para alunos recém formados que gostariam de adquirir mais experiência clinica antes de iniciarem suas carreiras em consultórios. Mais tarde vim a saber que este programa de Pós-Graduação se chamava Advanced Education in General Dentistry (AEGD).
Naqueles dias eu já tinha conseguido a minha carteira de motorista – historia que posso contar em outra oportunidade – e, ainda que eu não tivesse plena confiança de andar de carro em Boston – esta ainda outra historia – eu me senti pronto a pegar emprestado o carro do pessoal com quem eu estava morando para poder fazer a entrevista de emprego. Na época era uma Cherokee com uns 10 anos de uso, muita milhagem completada e que parecia muito bem cuidada, mesmo para um carro considerado muito velho aqui nos Estados Unidos. Eu falei com o dono do carro se ele poderia me emprestar o carro por uma manha para eu ir fazer a entrevista. Sem problemas, estava tudo certo.
Aquele carro, na verdade, não pertencia à quem eu achava que pertencia. O que aconteceu foi o seguinte: O pessoal com quem eu morava, compraram aquela casa em parceria com o dono da companhia de pintura onde eles trabalhavam. A casa foi dividida por 3 pessoas. Um deles era brasileiro, mas com cidadania americana. Os outros dois eram brasileiros. A Cherokee estava no nome do chefe deles, e ainda que seu chefe não tivesse emitido opinião sobre usar ou não o carro, na manhã do dia da entrevista eu recebi uma ligação do pessoal de casa dizendo para que eu não usasse o carro por conta de um problema na transmissão. Seria mais seguro eu ir de ônibus para Boston e deixar o carro em casa.
A correria foi enorme. Tudo bem que eu não pudesse ir de carro, mas por conta da pressa agora para pegar o ônibus para Boston, eu consegui emprestar o carro para ir até a rodoviária para pegar o ônibus. Estacionei o carro, paguei por muito mais tempo do que eu ficaria, mas pelo menos consegui chegar na entrevista em tempo. A viagem em si não era de nada. Um ônibus que parava em todos os pontos até Boston – cinco ou seis paradas. Na famosa South Station eu peguei um taxi e em cinco minutos eu estava na frente da Faculdade de Odontologia de Boston – Boston University.
Para quem estudou em um prédio que um dia foi uma serralheria onde tudo era na horizontal com um corredor amplo que ligava o portão da frente com o Diretorio Acadêmico e tinha à esquerda as salas de aula e ao lado direito as clinicas, eu me deparei com um prédio vertical com uma pequena entrada e elevadores para me movimentar dentro do prédio. Naquele dia eu vi que os alunos para se locomoverem mais rapidamente eles utilizavam as escadas, coisa que foi corroborada alguns meses mais tarde quando tive a chance de conhecer a Universidade de Nova Iorque – Dental School. A mesma coisa.
Minha entrevista seria no decimo segundo andar. Consegui chegar com alguns minutos de antecedência e logo fui chamado pelo Diretor do Programa. Um senhor com seus cinquenta e poucos anos, alto, cabelos fartos e encaracolados. Foi muito atencioso e leu de maneira bem interessada meu curriculum. Fez algumas poucas perguntas e no final disse que não poderia me contratar porque meu curriculum era o que ele chamou de “over qualified”. Por um lado, fiquei lisonjeado, mas por outro um pouco frustrado por conta de ter um curriculum tão bom que não poderia ser contratado. Agradeci muito pela atenção e voltei para casa. No ônibus de volta eu pensei que se eu tivesse conseguido aquela vaga, minha vida ficaria muito mais corrida porque ou eu me mudaria para Boston ou eu ficaria maluco de cansado haja visto a necessidade diária de viajar para trabalhar. Deus sempre soube o que faz.
Alguns anos depois tive a oportunidade de retornar para a Boston University para fazer um curso de um dia naquele mesmo departamento e com aquele mesmo Dentista. No intervalo da aula eu me aproximei e me apresentei dizendo que alguns anos antes eu tinha feito uma entrevista com ele para a vaga de Dental Assistant. Eu não sei se ele se lembrou mesmo de mim como ele disse que se lembrara, mas fiquei feliz de naquele momento eu já estar trabalhando como Dentista podendo conversar com ele.
O mundo dá muitas voltas. Muitas vezes, a gente para no mesmo lugar. Umas vezes na mesma posição; outras um pouco acima ou um pouco abaixo. O que importa é não ficar parado esperando as coisas acontecerem. Tudo acontece de bom para a gente quando saímos do nosso comodismo e fazemos as coisas se moverem ao nosso favor. Seu sonho de exercer a Odontologia nos Estados Unidos só vai acontecer quando você começar a se movimentar em direção ao sucesso. Não fique parado. Comece hoje mesmo!
Um abraço e sucesso sempre!