Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Pacote de Aplicação - Entrevista

Pacote de Aplicação - Entrevista

             A gente aprende que o processo seletivo para programas de Residência em Odontologia e os chamados Advanced Standing (AS) - que têm como alvo Dentistas graduados fora dos Estados Unidos – é uma coisa muito diferente do que a gente está acostumado no Brasil. Você já deve ter testemunhado um processo seletivo para uma pós-graduação em uma instituição brasileira. Quem sabe uma pequena prova, uma breve entrevista – que acaba se tornando um bate papo se você tem familiaridade com os membros da equipe – talvez uma prova prática para demonstrar suas habilidades e vez ou outra é questionado sobre a sua habilidade de pagar pelo curso.

            Pois aqui nos Estados Unidos este processo de seleção acaba sendo muito mais abrangente do que a gente imagina. O processo de aplicação para programas de Residência e/ou o AS cobrem uma gama muito mais ampla de assuntos pertinentes ao candidato do que simplesmente uma prova com uma nota alta, uma simples conversa ou bate papo ou até mesmo a sua habilidade de pagar pelo curso. Veja bem: ao contrário do que a gente está habituado a encontrar no Brasil os programas de Residência e Advanced Standing têm uma particularidade em comum: a chancela do Commission of Dental Accreditation ou o chamado CODA. Esta instituição visa calibrar o ensino da Odontologia em âmbito nacional a fim de existir uma padronização do ensino da Odontologia. Todas as Universidades e instituições que oferecem estes programas de especialidade e formação de Dentistas estrangeiros devem seguir uma série de exigências estruturais – como local para aulas e clínicas - exigências de pessoal – como corpo docente capacitado e condições de oferecer um ambiente onde o aluno irá poder explorar o máximo daquele momento dedicado ao estudo.

            O pacote de aplicação para estes programas compõe basicamente do histórico escolar, o curriculum vitae, uma carta de intenção fazendo um breve discurso sobre quem é o candidato, quais suas aspirações profissionais e uma breve história da sua vida até ali e finalmente uma entrevista. Na maioria das vezes é nesta entrevista onde a seleção final acontece e a resposta do “sim” ou “não” acontece. E qual a razão deste último passo ser tão decisivo? As demais partes não possuem o mesmo peso durante o processo seletivo? Vou dar um exemplo:

            Ano passado eu fiz uma viagem para conhecer dois programas de Endodontia e conhecer dois chefes da Residência. O primeiro foi na Universidade da Carolina do Norte (UNC), o segundo a Universidade de Houston. Tanto em uma Universidade como na outra, a principal coisa em comum que eu encontrei foi o elevado número de candidatos que aplicam para estes programas. Na UNC eram mais de 150 aplicações por ano para 3 vagas. Em Houston o número subia para entre 250 e 300 aplicações por período para 5 vagas. O número de candidatos chamados para uma entrevista não passa de 10 por ano, então para que você seja chamado para uma entrevista, significa que aquela primeira parte do seu pacote de aplicação já chamou muito a atenção do comitê de seleção. A entrevista servirá para conhecer aquela pessoa extraordinária que se apresentou no papel e confirmar se pessoalmente como e de que forma ela irá agregar valor ao programa.

            Eu tive a oportunidade de ser entrevistado pela UNC e foi uma excelente experiência de vida. Talvez eu não tenha obtido a resposta que eu desejava, mas só de saber que eu cheguei a ser considerado já foi uma grande conquista, ainda mais por não ter sido graduado em uma Universidade Norte-Americana. Como bônus, eu ainda consegui fazer parte de uma lista de espera. Para o Texas eu nem cheguei a receber um e-mail dizendo que tinham recebido minha aplicação. Aconteceu o que eles chamam de “ghosting” que é quando eles simplesmente ignoram o candidato. Na minha opinião não é a coisa mais educada a ser feito, mas... a vida segue.

            Há poucos dias eu recebi o convite para uma outra entrevista, agora para o AS em uma renomada instituição Norte-Americana. Tendo já passado por uma entrevista similar, desta vez eu sabia o que falar e como falar. A experiência nos faz mais sábios e cautelosos; até mesmo para dizer que o resultado só vem quando o tão esperado e-mail chegar, por que quando eu fiz a entrevista na UNC no final de julho do ano passado eu tinha certeza de que eu era um dos candidatos mais fortes para o programa. Tudo bem que não foi como eu esperava, mas eu aprendi que cantar a vitória antes do tempo é criar alicerce para uma frustração muito grande caso o que a gente queira ouvir não ressoa pelos nossos tímpanos.

            A entrevista aconteceu dentro do meu ambiente de trabalho. Uma coisa que eu fiz questão de não esconder da minha Diretora é o meu plano de seguir dentro de um programa de AS ou Residência. Ela tem sido a primeira pessoa com quem eu comento qualquer evolução neste sentido. Acho que é no mínimo a coisa certa a ser feita e eu tenho encontrado muito apoio por parte dela neste sentido. No dia marcado para a entrevista eu fui com a minha melhor roupa para o trabalho. Todos me olharam com surpresa ao me verem totalmente trajado com o meu melhor terno e sapato social para uma entrevista que aconteceria via Zoom e que somente o meu torso apareceria. Mas o que significa entrevistar para um programa tão concorrido se eu não demonstrar integridade? A roupa eu troco depois, não tem problema. O problema é não estar totalmente imerso naquele momento e estar completamente paramentado para tal era fundamental.

            Perguntas como: Porque aquela instituição em especial, por que buscar este programa agora depois de tanto tempo de trabalho em Community Health Center, o famoso “fale-me de você”, o que você vai fazer depois que o programa terminar... todas as perguntas previamente ensaiadas que pouco ou quase nada se diferenciaram daquilo que eu estava esperando. Uma pergunta diferente do planejado foi se eu estaria preparado para receber instrução de gente com menos experiência que eu. Isso é muito importante, porque pode mostrar a qualidade de ser “ensinável”, coisa que muitas vezes passa batido por alguns candidatos que têm muita experiência clínica e de vida e que acabam batendo cabeça com professores e chefes de programa. Demonstrar abertura, disponibilidade e vontade para aprender deve ser o foco principal neste momento e, principalmente, a mudança de chave interna dentro da nossa cabeça de que enquanto a gente estiver ali dentro nós seremos alunos. E aluno novo na minha época chamava-se calouro e calouro por definição é burro.

            Burrice maior do que arranjar encrenca é não aplicar o que se aprendeu durante a vida. Se Deus me permitir ingressar neste programa eu quero entrar de coração e mente aberta. Quero aprender e tirar o máximo possível de quem tem para oferecer. Erros acontecerão, com certeza,, mas serão eles que me ajudarão a me tornar um Dentista e uma pessoa melhor. A minha experiência de vida poderá ajudar alguém ao meu lado e, se Deus permitir fazê-lo quero deixar a marca de que mais do que ser um membro destacado da sociedade, um Dentista deve ter em primeiro lugar o bem-estar do próximo, buscando servir sempre a quem realmente necessita.

            Um abraço e sucesso sempre!

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