Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Acabou?

Acabou?

Em setembro de 2021 eu estabeleci algumas metas pessoais a fim de mudar de vida no ano que eu completasse cinquenta anos. Passar no INBDE, contratar um profissional para na ajudar na elaboração de um curriculum e uma intent letter, conseguir uma nota de inglês alta suficiente e competitiva para aplicar para programas de residência em Endodontia.

Como Massachusetts não me possibilitaria trabalhar como Endodontista depois de concluir o curso, meu objetivo se fixou em partir para um Estado onde eu poderia cursar um programa renomado e poder estender minha permanência como Endodontista e residente. De todos os programas oferecidos o Texas foi o primeiro Estado pesquisado.

Na minha pesquisa inicial, pensei em entrar em contato com algum residente a fim de prospectar mais informações sobre o curso. Encontrei um cara novo, com um sorriso sincero na página da Universidade do Texas em Houston. Entrei em contato com ele e, para minha surpresa, como fui bem atendido! Sem mesmo me conhecer ele me ofereceu seu número de telefone para que conversássemos e no dia que nos conectamos tive uma excelente impressão do entusiasmo que ele passou durante nossa conversa.

Mas o problema maior residia na minha idade. Seria eu já velho demais para aplicar para um programa de residência? Novamente pesquisando sobrei assunto, encontrei um Endodontista em Boston que ingressou na Residência em Harvard quando ele tinha 56 anos. Inacreditavelmente eu consegui conversar com ele e expressar a minha preocupação sobre a idade. Ele me fez sentir capaz de continuar com este plano e, depois de uma longa conversa, continuei com meu projeto. Idade não poderia ou deveria ser problema.

Meu entusiasmo começou a crescer e decidi que Houston seria o meu principal alvo. Encontrei, na época, o telefone de contato do chefe de departamento da Endodontia em Houston, um brasileiro. Conversamos pelo telefone e falei sobre a minha situação e perguntei se a idade e a experiência clínica e não acadêmica seriam problema nas chances de ser selecionado, pelo menos para uma entrevista. Ele foi categórico em dizer que isto contariam pontos a meu favor. Mais uma vez um empurrão emocional para continuar seguindo em frente.

Como nem tudo na vida são flores, na nossa busca pelo sucesso, a gente encontra os que dizem ser impossível. Infelizmente eu encontrei esta barreira de quem eu menos esperava. Uma colega de faculdade que mora e trabalha em Houston me disse que era impossível um estrangeiro ser aceito na Endodontia no programa local. Uma colega de turma que ouviu do mesmo professor que me falou ser impossível ser Dentista nos EUA tendo me formado no Brasil, usou as mesmas palavras que me foram ditas naquele sábado de 1994. Eu desliguei o telefone como que não tivesse mais chão sob meus pés. Será que eu estava correndo atrás de nada?

Conversei muito com minha esposa e outros mentores que busquei colocar ao meu lado durante este projeto e todos eles me disseram não me deixar abater por estas palavras e que eu deveria seguir em frente.

Em outubro de 2021 eu encontrei um vídeo no YouTube de um Endodontista americano dando dicas de como ter melhores chances de conseguir uma posição dentro de um programa de Residência em Endodontia. Dentre essas recomendações ele sugeriu: criar um portfólio de casos clínicos, associação junto a Associação Americana de Endodontistas, participação do congresso anual onde a sociedade de Endodontia americana se reúne para trocar experiências e cursos presenciais. No meu caso, o objetivo principal seria fazer network, apresentar-me como futuro candidato à residência e conhecer, futuros candidatos, Diretores de programa e Residentes. Como última sugestão no vídeo, o Endodontista sugeriu que se fizesse uma visita presencial ao programa, apresentar-se ao Diretor e demonstrar meu interesse em fazer parte do programa.

Com isso tudo em mente eu precisava me planejar, mas eu precisava procurar fazer minhas horas fora do trabalho de maneira eficiente, para que eu não perdesse muitos dias fora do trabalho. Em janeiro de 2022 o Congresso da AAE abriu inscrições para a última semana de abril. Meus planos seriam visitar dois programas - Carolina do Norte e Houston - e viajar para Phoenix para participar do Congresso. Mas quis Deus que as coisas não fossem como eu imaginei.

Uma intercorrência médica na família tomou prioridade nos dias do Congresso em abril. Eu ainda conseguiria fazer a visita aos dois programas, mas a chance de network teria que ser deixada de lado. Graças a Deus o problema médico foi resolvido de maneira eficiente e definitiva e mesmo não tendo a oportunidade de participar do Congresso Anual, eu fiz as duas visitas planejadas acreditando ter deixado uma boa impressão por onde eu passei.

A data para a inscrição finalmente chegou e eu consegui ter tudo em mãos para fazer o envio de toda documentação no mais breve tempo possível. Curriculum Vitae, Carta de intenção, 4 cartas de recomendação, aprovação no INBDE e nota 101 na prova do TOEFL.

No site da ADEA - American Dental Education Association - os programas disponibilizam informações individualizadas para cada local. Houston, logo de cara, mostrava informação dizendo que o dia da entrevista seria sexta feira 15 de julho. Alguns outros programas variando um pouco as datas entre um e outro, mas parecia que as datas estariam, se não coincidindo, quase interpondo-se uma das outras. Isso poderia possibilitar um certo desgaste caso o candidato recebesse convites de programas com grande distancias geográficas. No meu caso, os programas que eu escolhi - seis no total - não pareciam apresentar este problema, então eu somente precisaria relaxar e esperar um e-mail de convite para uma entrevista.

Os dias foram passando e nada de e-mail chegar. Depois de cada paciente atendido, a primeira coisa que eu fazia ao me sentar na frente do meu computador no trabalho era checar o recebimento de algum e-mail oriundo de algum programa que eu apliquei. Visitas diárias à caixa de Spam para verificar se algum deles tinha sido direcionado para lá. Nada. Os dias passando e nada, nada, nada… até que eu me lembrei de um fórum online onde candidatos para residência em qualquer área médica e odontológica trocam informações e experiências. Claro! Vou ver o que está acontecendo e se existe alguma informação sobre os programas onde eu apliquei.

Bom… no final das contas, eu percebi que a data limite de inscrição para os programas nada mais é do que uma mera formalidade. Pelo menos quinze diferentes programas fizeram o envio dos convites para entrevista no começo do mês de junho de 2022 e entre estes programas, Houston estava lá. A Universidade de Connecticut estava lá também, tendo enviado o convite para entrevista ainda antes do de Houston. Tenho ainda quatro outros programas onde estou aguardando um e-mail de convite, mas eu devo dizer que eu não estou muito esperançoso. Acho que é melhor eu não ter esperança de ser chamado e ter uma boa surpresa com um convite do que me manter confiante na esperança de receber um e-mail me convidando para uma entrevista e não receber nada. Acho que a coisa mais difícil de se fazer é viver o que se fala, quando a gente diz que confia na providência e soberania de Deus na nossa vida e fica chateado quando as coisas não acontecem como a gente gostaria. São momentos como estes onde a nossa hipocrisia vem à tona de maneira tão evidente que acaba nos tornando mais humildes e reconhecendo que a gente mesmo não tem controle sobre nada. O meu sonho durante os anos de colegial e cursinho foi cursar a UNESP em São José dos Campos, SP. Eu fiquei por 4 candidatos na lista de espera e quis Deus que eu cursasse a Faculdade de Taubaté. Foi o melhor para mim. De lá eu aprendi a ser o Dentista que sou e ainda trouxe comigo a minha esposa. Quem diria?

No final das contas, o que vale é o esforço que a gente faz e o que a gente aprende durante o caminho. Nestes meses que se passaram, quem diria que eu seria aprovado em um exame tão difícil quanto o INBDE? Ou que eu obteria uma nota tão boa no TOEFL? Ou quem sabe, conhecesse gente tão legal e inspiradora nas visitas que eu fiz? 
É fácil não receber a resposta desejada? Não, não é. A gente se sente super mal e fica remoendo o passado para ver o que deveria ter sido feito diferente.

É fácil continuar como se nada tivesse acontecido? Não! Também não é!

Acho que o segredo do sucesso é aprender com o que passou. Não digo aprender com os erros porque não acho que eu tenha errado em nada, mas como um dos meus mentores sugeriu, eu deveria entrar em contato com os Diretores dos programas que não me enviaram o convite para entrevista e buscar informações de como melhorar a minha aplicação para o proximo ciclo. Eu mandei um email para Houston fazendo esta pergunta e aguardo ansiosamente uma resposta por parte deles. Até o momento ainda outros quatro programas não enviaram convites para entrevista, então não acho que as portas tenham se fechado definitivamente.

Mesmo que as chances de me tornar um Endodontista não sejam as mais promissoras neste ciclo, eu sei que ainda tenho outras opções que venho considerando com muita atenção, como um programa de AEGD de dois anos, ou mesmo o de um ano para, quem sabe assim, fortificar um pouco mais o meu curriculum para, quem sabe no futuro a Residência em Endodontia se tornar mais plausível.

É fácil dizer, difícil viver, mas está nas mãos de Deus.

Um abraço e sucesso sempre.

Tocando em Frente

Tocando em Frente

29 de julho 2022

29 de julho 2022