Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Cair, Levantar, Repetir

Cair, Levantar, Repetir

             Nossos primeiros pacientes são personagens memoráveis na nossa vida. Se seus nomes nos fogem da memória, a fisionomia e o que a gente sentiu no momento que passamos com eles, acabam ficando marcados para sempre na nossa cabeça. Tomo como exemplo a minha primeira paciente na faculdade. O ano foi noventa e cinco, aula de Odontologia Preventiva e eu tive que fazer profilaxia e aplicação de flúor. Nem vou comentar sobre a mau jeito e falta de posicionamento para este procedimento, mas a emoção maior foi a sujeira que eu acabei fazendo com o evidenciador de placa bacteriana. Uma coisa que eu descobri? A sobrancelha da menina tinha placa porque ficou super evidenciada.

            No segundo ano da faculdade a matéria clínica onde tivemos nosso primeiro paciente foi Prótese Total. Dona Palmira – nunca vou esquecer esse nome. Dona Palmira tinha recentemente perdido todos os dentes e nunca usou dentadura. Durante as aulas teóricas a gente aprendeu que os casos mais difíceis e desafiadores eram pacientes com pouco osso alveolar, porque isso acabaria dificultando a retenção das próteses totais. Mas a Dona Palmira foi diferente. Por conta de as extrações terem sido feitas não há muito tempo, ela tinha osso alveolar até demais. Moldar com godiva aqueles rebordos alveolares foi uma das coisas mais difíceis que eu já tentei fazer. Meu professor passava do lado da cadeira e só ria me vendo sofrer para conseguir obter uma moldagem boa o suficiente para o próximo passo. Tenho certeza de que consegui logo na primeira, mas quem disse que a moldeira saía da boca da Dona Palmira?

            No terceiro ano o grande medo era a Endodontia. Era o terror dos quatro anos. O primeiro ano de Endo. Para ajudar um pouco, eu acabei caindo na turma do mais exigente e sádico – mas também o melhor – professor da disciplina. Depois de ter falhado miseravelmente no atendimento do manequim – conto esta história outra hora – a minha primeira paciente de Endo me deu muita satisfação e surpresa quando ela voltou para a segunda sessão. E sem dor! E sem inchaço! Grande vitória! Tudo bem que eu fiz Endodontia I no último ano, mas acho que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Esta DP de Endo me ajudou a solidificar o conhecimento e me dar a paixão que eu tenho pela área.

            No quarto ano não foi um caso em particular que me chamou a atenção. Aliás... foram pelo menos dois. Ou três. O primeiro foi mais uma situação, quando na clínica de Odontopediatria o choro incessante da paciente de 5 anos começou a me afetar emocionalmente. Eu não conseguia parar de tremer. A minha mão não parava. Meu professor entendeu a minha situação e disse: “Ignore a tremedeira. Finja que nada está acontecendo”. Por mais frio que este conselho possa ter parecido acabou me ajudando. Os casos de pacientes aconteceram ao final do ano letivo quase comprometendo a minha graduação. O primeiro foi um paciente de Endodontia que eu tive que ir atrás dele na zona rural de Taubaté e implorar para que ele viesse terminar o tratamento de canal naquele dia. Ele disse que não. Não fosse um amigo que terminara o tratamento mínimo dele ter encaminhado seu paciente para eu terminar o meu tratamento mínimo, eu não sei o que teria sido de mim. O outro foi um paciente de Prótese Clínica que me deu um calote no pagamento da armação metálica da PPR dele.

            Tudo isso para chegar na minha primeira paciente aqui nos Estados Unidos.

            E no Brasil? Tudo bem. Eu falo. Mas vai ser rápido: Uma menina de oito anos chamada Bianca que eu atendi com a mãe dela sentada na minha frente, me fuzilando com os olhos porque a cárie da filha dela tinha dado exposição pulpar e eu tive que fazer uma pulpotomia de emergência – sem auxiliar – em um consultório sem ar-condicionado e o suor de dentro da minha luva escorrendo pelo meu braço sob a cobertura do jaleco. Eu não tive mais informações da Bianca. Sobre a mãe dela, eu fui notificado que eu recebi uma reclamação por ter tido que tratar o canal da Bianca.

            Aqui nos Estados Unidos, a impressão que eu tive foi que a história se repetiu. Minha primeira paciente foi uma menina de 10 anos que precisava de uma limpeza e profilaxia. A grande diferença desta vez foi que ela não tinha placa bacteriana na sobrancelha dela. Isso porque o evidenciador de placa desta vez acabou não chegando até lá. Treze anos depois, cá estou fazendo odontologia nos Estados Unidos. Será que eu poderia ter chegado antes? Com certeza! Meu primeiro paciente depois da Faculdade nem precisaria ter sido a Bianca, mas se não tivesse sido ela, certamente eu não teria aprendido tanto quanto eu aprendi e não tivesse chegado com o nível de maturidade clínica com que eu cheguei aqui.

            O que eu quero dizer é que tudo acontece no momento certo. Não adianta pensar no que teria sido se as coisas tivessem acontecido de maneira diferente. Quando olhar para trás, veja o que aconteceu de errado e use toda essa informação para que não aconteça novamente e siga em frente. Por maiores tropeções que a gente leve – sempre vai levar – cair faz parte da trajetória. Ficar caído ou se levantar e continuar andando depende exclusivamente de cada um de nós.

            Um abraço e sucesso sempre!

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