Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Protocolo

Protocolo

Acho que todo mundo que acompanha este blog sabe das lutas e dificuldades pelas quais um Dentista no Brasil passa. Seja antes mesmo do inicio das atividades profissionais, ainda na Faculdade, com provas e situações nunca antes conhecidas, problemas financeiros para o pagamento das mensalidades ou mesmo pacientes que causam discomforto durante os procedimentos, ninguém se sente preparado para o que pode acontecer durante a nossa vida profissional.

Eu acho que já contei aqui sobre a minha experiência no meu consultório quando eu fui assaltado a mão armada. Também já devo ter comentado sobre a ocasião quando o paciente limpou seu trato sinusal na minha cuspideira ou até mesmo quando um paciente irado com o fato da sua esposa estar com um abscesso e ter vindo pedir o ressarcimento do pagamento feito pela emergência por conta da dor não ter sido resolvida.

O fato é que o stress e dificuldades do dia a dia acaba nos abalando simplesmente por não termos nunca passado por situações semelhantes. Para alguns, talvez, não éramos - ou ainda não somos - maduros o suficiente para passar por aquele momento e não sabemos como lidar internamente com a situação.

Meu Diretor é um cara novo e já passou por situações completamente bizarras como Diretor de um outro Centro. Disse ele, certa vez, que um paciente derrubou todos os monitores de computador de cima de uma bancada, por simplesmente não ter as suas vontades feitas. Hoje ele conta essas experiências dando risada e, com uma habilidade muito grande, sempre acha graça quando conta os casos. Demorou um pouco para eu entender o nível de maturidade dele como Administrador e, mais ainda, o profissionalismo dele transmitindo a informação de que todos nós devemos tratar os pacientes - por mais dificeis que sejam - da melhor maneira possível, nunca elevando o tom de voz e sempre procurando chegar a um denominador comum.

Eu não tenho o hábito de ver os pacientes que atenderei no dia seguinte. Isso acaba disparando um nível de stress desnecessário e por muitas vezes eu acabei perdendo parte das minhas noites de sono pensando no que iria acontecer. Não ter este hábito pode ir contra a lógica comum de muitos profissionais que dizem estar preparados para o dia seguinte. Eu mesmo consigo me planejar de maneira mais eficaz fazendo o planejamento no próprio dia, tendo tido uma noite de sono em paz na noite anterior.

Semana passada eu tive uma paciente difícil de lidar. Ela já está nos seus setenta e alguma coisa anos de vida. Pelo tom de voz dela, da pra imaginar que ela sempre abusou do cigarro e quase nunca teve uma palavra de atenção e afeto dirigida à ela. Ou isso ou ela é uma grossa mesmo. De qualquer forma, quando eu vi logo cedo que ela seria uma das minhas ultimas pacientes do dia, eu procurei não pensar muito sobre o assunto, por que certamente ela estava de volta para, ou reportar como fora a consulta com o Periodontista para o qual eu a encaminhei, ou para fazer o exame de rotina com 4 radiografias inteproximais, exame clinico e periodontal. Neste caso e reposta foi NDA.

Sentado onde eu fico fazendo as anotações clinicas eu já pude ouvir o tom ríspido da sua voz dizendo que ela estava ali para fazer restaurações e que ela não estava lá para fazer exame nenhum. Uma delicadeza sem precedentes - sarcasmo evidente aqui. A minha Auxiliar do dia chegou para mim e disse exatamente o que eu - e todo mundo em volta - ouviu. Se isso tivesse ocorrido alguns anos atrás, eu nem teria ido conversar com a paciente. Eu simplesmente teria dito para a Auxiliar preparar tudo para a restauração e deixar a paciente feliz.

Quis os anos de experiência me ensinar que na Odontologia o cliente nem sempre tem razão. Quem manda dentro daquelas quatro paredes não sou eu e certamente não é o paciente. Quem manda ali dentro é o que é o melhor para o paciente e eu devo ser o condutor deste resultado final. O procedimento padrão ao qual a gente deve se guiar, dita que todos os pacientes - a cada ano - devem passar por exame clinico e radiográfico contendo, anualmente, 4 radiografias interproximais e a cada 3 anos, uma tomada radiográfica completa contendo 18 radiografias. No caso da nossa paciente em questão, sua última tomada radiográfica com 18 imagens estava atrasada em aproximadamente 5 anos.

Quando eu cheguei ao seu lado, já sentada na cadeira, eu perguntei qual era o problema e ela foi categórica dizendo que ela já tinha em mente que ela perderia seus dentes a qualquer momento e que fazer radiografias seria perda de tempo e ela não estava ali para perder tempo. Concordei com ela, porque eu também não estava ali para perder tempo com uma discussão completamente sem sentido como aquela. O problema era que eu não poderia simplesmente fazer o que ela quisesse simplesmente porque ela queria. Eu realmente tentei argumentar sobre a necessidade de se obter imagens para conhecer mais a fundo a real situação clínica dela, quando ela disse:

- Você tem seus procedimentos e eu tenho as minhas prioridades.

- Excelente! - disse eu - Então sem radiografias, não tem restaurações.

Não foi preciso elevar tom de voz ou dar nenhum ultimato. Quando ela percebeu que ela sairia de lá sem o que ela queria a não ser que ela tivesse o que fosse necessário, tudo correu bem. Para ajudar ainda um pouco mais o paciente que estava agendado depois dela acabou cancelando a consulta e ela pode sair de la com o que era preciso e o que ela queria.

No final das contas, sempre vale a manutenção da calma e a expectativa de que tudo de melhor vai acontecer. Se a gente seguir o protocolo e não abrir mão por conta de alguém que erga a voz simplesmente por ter perdido a razão tudo correrá bem. Vale mais dizer, ainda, que ter o apoio e suporte por parte do meu Diretor sempre foi fundamental. Quando muita gente coloca o que os pacientes falam sobre o que o Dentista fala - eles maiores a que a gente - tudo correrá para acabar com a sua habilidade de lidar com casos difíceis, mas no momento que você adere ao protocolo clínico previamente estabelecido e tem o suporte de quem te dirige a paz e tranquilidade de fazer o que você gosta será sempre um grande prazer.

Um abraço e sucesso sempre!

Força para Frente

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