Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Sábado de Manhã

Sábado de Manhã

            Todos os sábados pela manhã eu acordava junto com meus irmãos e a gente esperava para irmos visitar meu avô em sua alfaiataria no centro de São José dos Campos. Ali ele era uma referência de qualidade e trabalho. Muitas pessoas conheciam ele pela sua dedicação ao trabalho e ternos bem cortados. A gente chegava por lá e fazia o que a gente quisesse. Ele nunca disse não para qualquer um dos netos. Eu ficava brincando com o rolo de durex, subia e descia a escada do seu mezanino (até o dia que eu caí e rachei a cabeça), brincava com o rolo de papel que ele usava para embrulhar seu trabalho para ser entregue (eu nunca consegui puxar uma folha sem rasgar o final dela como ele fazia. Aquilo me deixava maravilhado). Eu brincava com os retalhos deixados no chão e brincava, também, com as amostras de tecido que ele mostrava para seus clientes.

            A nossa principal missão todos os sábados, na verdade, era esperar dar a hora do almoço para a gente ir ao Mercado Municipal da cidade para comer pastel. Aquilo, sim, era o momento esperado por todos. Pastel, guaraná caçulinha e, quem sabe, um outro salgado. O vô Antonio ia com a gente para comer pastel, conversava com todo mundo do local – conhecia a todos pelo primeiro nome – e volta e meia contava algumas histórias de quando ele era mais moço. Uma das suas histórias favoritas foi a ocasião quando seu irmão caçula estava trabalhando com ele. Meu avô contava, dando boas risadas, algumas das brincadeiras que ele fazia com o irmão.

            Certo dia chegamos na alfaiataria pouco antes da hora do almoço. Eu pulei na mesa onde ele trabalhava e peguei um pequeno pedaço de pano e comecei a examinar. Eu perguntei para ele se ele me ensinaria ser alfaiate como ele. A resposta dele foi direta: “Não! Você vai para escola estudar!”. Nunca mais eu repeti a pergunta. Com aquela afirmação mais que definitiva, eu entendi que ele não queria passar seu conhecimento para frente através dos seus netos. Ele ensinara muitas pessoas, mas entendi que ele não queria que nenhum de seus netos seguisse seus passos. Alguns anos depois eu vim a entender o motivo.

            Por mais de 40 anos ele trabalhou incessantemente. Ele entrava na alfaiataria logo cedo e fechava as portas, trabalhando de portas fechadas até a hora quando o comércio abria. Ele levantava a porta de aço, trabalhava até o final do expediente, fechava a porta de aço e ficava ali concluindo seu trabalho até tarde da noite, quando então, ia para casa. Eu acho que ele não queria que seus netos tivessem a mesma dinâmica de trabalho que ele teve por tantos anos. Uma coisa que no final das contas, enquanto no Brasil, eu acabei fazendo. Entrava no consultório antes do primeiro paciente para poder arrumar e acertar tudo para as consultas, trabalhava durante o dia, esperava muitos pacientes aparecerem, outros a não comparecerem e ficava ainda depois do expediente fechando e preparando tudo para o dia seguinte.

            Algumas coisas eu percebi que tínhamos em comum: Contato direto com o cliente (paciente), seleção de material para o trabalho (ele qual o tecido a ser usado e eu qual a resina, porcelana ou dente a ser escolhido), trabalho feito sob medida com visitas regulares para prova. Uma coisa que eu nunca tive a oportunidade de conversar com ele foi sobre seus clientes que não pagavam pelo trabalho. Eu nunca tive a oportunidade de conversar sobre isso com ele. Talvez na época eu não tivesse essa idéia de similaridade entre nossas profissões. Quem sabe se eu tivesse usado do seu conhecimento e experiência, eu tivesse um pouco mais de êxito na profissão enquanto no Brasil.

            Um abraço e sucesso sempre!

Merecimento

Merecimento

Bifurcação

Bifurcação