COVID
Agora já acabou.
Dia dezesseis de março de dois mil e vinte ficou marcado para muita gente como o primeiro dia de um longo período que acabou com a produção profissional de um quarto do ano inteiro. Para uns menos tempo. Para outros a improdutividade ainda continua. No meu caso foram oitenta e nove dias.
Mesmo voltando às atividades no meio do mês de julho, eu não tive um retorno de maneira integral até a primeira terça feira de agosto quando o meu local de trabalho finalmente recebera o alvará do Departamento de Saúde Pública. Ainda assim, nosso horário de funcionamento não estendeu as horas até o horário noturno como antigamente, a abertura aos sábados foi postergada e mesmo deste dia perdeu-se cerca de uma hora de funcionamento.
Durante todo o período de quarentena, a grande discussão estava sobre o confinamento ser correto ou não. Estava o governo fazendo certo impedindo as pessoas de interagirem umas com as outras? Estaria o governo fazendo um desserviço com as pequenas empresas? Quem arcaria com os prejuízos? Como fazer para mudar um quadro que parecia estar piorando cada dia que se passava? Mesmo com tantas perguntas que precisavam ser respondidas, estávamos todos vivendo somente de muitas perguntas com poucas respostas e, mesmo as respostas que chegavam, elas não eram suficientes para apaziguar nossas incertezas.
Até quando minha família acabou tornando-se vítima desta doença. Nossas incertezas aumentaram. Não havia o que fazer. O que antes parecia ser um exagero, acabou tornando-se uma obrigação permanecer isolado para demonstrar empatia e responsabilidade neste período de tanta incerteza que o ano de dois mil e vinte acabou nos proporcionando.
A primeira a manifestar sintomas foi minha esposa. Febre, mal estar e uma tosse seca que não se prolongou por muito tempo. Em menos de uma semana depois do seu diagnostico positivo, foi a vez da minha filha de onze anos testar positivo. Essa, foi como se nada tivesse acontecido. Literalmente ela passou ilesa, totalmente sem sintoma. O último a testar positivo fui eu e quando eu achei que não seria nada mais do que um resfriado forte o medo bateu com força cerca de três dias depois do diagnostico.
Uma das coisas que me foi sugerida fazer por um amigo foi a aquisição de um oxímetro digital que me daria a leitura do nível de oxigênio no sangue. Qualquer número abaixo de noventa e três por cento seria uma alerta e qualquer número abaixo de noventa, o sinal para ir para o Hospital. Naquele dia eu fiz a leitura logo quando eu acordei e os números começaram a vir erráticos. Noventa e dois, noventa, oitenta e cinco. Quando o leitor digital mostrou setenta e nove, eu decidi ir para o Hospital. Eu não me sentia mal, a respiração não estava ofegante e eu não apresentava cianose, mas achei que seria prudente pelo menos ter a certeza que tudo seria propriamente avaliado.
Uma vez no Hospital eu fiquei em observação por todo o dia. Fiz exames de sangue, urina, raio x do pulmão e tomografia com contraste. Se do COVID 19 talvez eu não fosse vítima, essa visita ao Hospital confirmou que eu tivera desenvolvido uma co-morbidade relacionada à presença do vírus no meu organismo. Uma pneumonia viral instalara-se de maneira oportunista e isso poderia ser agravada caso eu não seguisse de maneira cuidadosa as orientações médicas. Foram quatro dias de febre alta simplesmente esperando o curso da doença passar para que eu pudesse ter a saúde totalmente reestabelecida. Dois dias depois, ainda voltei para o Hospital quando a minha febre não mostrara sinal de melhora. Ainda neste dia outro raio X foi feito e a orientação de repouso absoluto foi ratificada.
Eu presenciei de maneira muito evidente a perda de olfato e paladar. Graças a Deus o que mais eu temia acabou não acontecendo comigo, que foi a diminuição da função respiratória. Com meu histórico, sabe-se lá o que aconteceria. Lentamente a febre foi cedendo sem deixar qualquer outro sintoma mais evidente. Eu posso dizer que comparado a outros casos o meu não foi dos piores, mas ainda assim eu digo: Não é brincadeira!
Siga as instruções que são passadas diariamente para todo mundo. Lave as mãos! Uma atitude tão simples que faz toda a diferença. Mantenha-se distante das pessoas! Se estiver se sentindo doente não saia de casa! Evite aglomerações e seja responsável. Por mais que a gente aqui em casa estivesse fazendo de tudo para evitar contaminar-se, acabamos vítima deste inimigo invisível. Passamos por esta prova, mas até que todos estejamos livres desta ameaça, muito ainda teremos que fazer.
Amanhã voltamos às atividades normais.
Um abraço e sucesso sempre!