Fundamento
Setembro de dois mil e sete foi um mês decisivo na minha vida. Passei as primeiras duas semanas no Brasil e logo no início da segunda semana tudo mudou para mim. Nova vida, nova casa, novo país e novas perspectivas que estavam se abrindo naqueles dias de um agradável outono setentrional. Não tão importante quanto metade do meu coração que ficou no Brasil foi uma história de fracassos e sucessos que serviram como lições de vida. Como tudo do passado, nada poderia mudar o que viria pela frente, somente as experiências vividas que ajudariam a caminhar em uma estrada ainda cheia de obstáculos, mas com um pouco mais de experiência.
Quando eu cheguei nos Estados Unidos o que não saía da minha cabeça era algo como um mantra. Uma série de frases e pensamentos interligados que me faziam prosseguir em momentos de incerteza. Esse mantra dizia que eu estava tendo a oportunidade de recomeçar a minha vida e eu queria poder fazê-lo da maneira correta. Sem atalhos. Sem atropelos. Sem nenhum sentimento de intempestividade que pudesse me fazer andar passos para trás. Acontece que eu acabei caindo na rotina de um recém chegado em uma terra estranha e isso pode ter sido uma brecha que eu acabei abrindo e demonstrando uma certa fragilidade.
Sem querer fazer apologia política eu gostaria de fazer um breve comentário:
Perto dos anos 2009 e 2010 o Brasil concedeu asilo político a um condenado italiano. A suprema corte italiana chegou a entrar com apelo junto a corte internacional de justiça para que pudesse conceder a extradição do seu prisioneiro. Veio então a pergunta: Como é que alguém com um passado tão tenebroso como este conseguiu viver por tanto tempo em solo brasileiro sem que não levantasse suspeita. Certa vez eu ouvi uma coisa que me marcou muito e que faz muito sentido. Toda vez que a gente chega em um lugar desconhecido, a gente nunca chega botando a banca. Ninguém chega com o nariz empinado, apontando o dedo querendo mandar e desmandar. Uma hora isso pode até acontecer, mas geralmente isso não acontece porque a gente quer ser aceito. Quer ser bem recebido. A gente quer encontrar gente que partilhe dos mesmos sentimentos e ideais que a gente para que, passo a passo, consigamos chegar e fazer o que a gente quer.
Uma das formas de se criar empatia com as outras pessoas é falando sobre a sua vida. Contar como era a vida antes de chegar onde se chegou, experiências de sucesso, fracasso e outros momentos que tragam para próximo de você pessoas com sentimentos similares. Eu não sei se o caso do italiano que no final das contas foi extraditado de volta para a Itália foi assim, mas não dá para imaginar ter alguém condenado por assassinato e procurado pela Interpol como vizinho. E mesmo que isso aconteça, ninguém fica em paz quando se sabe o que aconteceu na vida pregressa dele. Provavelmente quando ele chegou na vizinhança, ele se mostrou todo simpático, errando no português, se fazendo de sonso, ganhando a confiança das pessoas para fortalecer vínculos afetivos que nunca levariam seus conhecidos a imaginar a sua vida pregressa.
Quando você chegar aos Estados Unidos, algum país da Europa, Ásia, Oceania, outro planeta ou mesmo outra galáxia, tome muito cuidado com o que você vai contar e abrir sobre a sua vida. As pessoas não pedem para você falar nada sobre a sua vida, mas tudo o que você falar pode e eventualmente pode ser usado contra você. Pense muito bem antes de se abrir com alguém que você não conhece. É claro que a gente tem aquele “gut feeling”, aquele sentimento dentro da gente quando a gente sente que aquela pessoa é confiável? Não é sempre que a gente sente isso. Pondere muito bem com quem você vai se abrir e confie no seu instinto. Crie um mecanismo de proteção contra eventuais brechas de assuntos pessoais e evite ao máximo compartilhar seus pensamentos, pelo menos no início da sua jornada. Ainda que nos Estados Unidos a cultura não seja como no Brasil de empurrar você para baixo, quando você demonstra real interesse em crescer as pessoas realmente te empurram para frente ou te ajudam a escalar os obstáculos. O seu trabalho feito corretamente e sua ânsia de aprender e ensinar pode fazer toda a diferença no seu projeto para o futuro. Seja humilde, mas não seja capacho. Seja autêntico, mas não seja arrogante. Seja alegre, mas não seja sarcástico.
O seu sucesso em solo americano virá com muito trabalho. Se você ouvir alguém ou alguma coisa que te prometa sucesso rápido e imediato, fuja depressa. Um futuro sólido e permanente só vai ser bem construído com um alicerce bem feito; não importa o tempo que leve com certeza vai valer muito a pena.
Um abraço e sucesso sempre!