Dois Mil e Vinte
Dá para dizer que 2020 foi um bom ano? Eu acho que sim. Dentre tanta coisa que aconteceu, gente que se foi e promessas não cumpridas só o fato de estarmos ainda por aqui é possível dizer que o ano foi bom. É claro que muitos vão dizer que não foi possível fazer nada proveitoso, ou que ficar preso em casa não foi uma boa experiência, pais e mães presos com seus filhos impedidos de ir para a escola ou mesmo o alívio de tanta gente por não ter que suportar a presença do chefe no cangote, podendo fazer todo o trabalho de casa.
É preciso lembrar que para tudo na vida a gente tem que ponderar os prós e contras. No meu caso eu quero compartilhar o que foi o meu ano de 2020 e tentar ajudar quem quer que se interesse pela história.
O ano começou como outro qualquer. Grandes expectativas no trabalho por conta da mudança que estava programada para acontecer no final de abril. Devido a reforma da Escola Técnica onde o Ellen Jones Community Dental Center (EJCDC) estava localizado, as conversas para que mudássemos para o novo prédio não evoluíram, então ficou decidido que um novo local seria criado para que pudéssemos continuar com nossas atividades. As obras iniciaram no final de janeiro e tudo parecia mostrar que no final do primeiro semestre tudo estaria finalizado.
Eu ainda me lembro das piadas que estavam sendo feitas sobre o Corona Vírus. Tudo parecia muito distante, acontecendo exclusivamente na China e sem qualquer chance de chegar em solo Americano. Os dias foram passando e quando foi a pandemia foi decretada pela OMS, em pouco menos de dez dias tudo parou. Tivemos uma reunião online com toda a equipa do Departamento de Odontologia onde tudo foi apresentado e quais os planos para dali a diante.
Foram três meses esperando ser chamado para retornar ao trabalho. Três meses sem ter muito o que fazer, e sem se planejar muito para o que fazer já que - particularmente - eu estava pensando que esse interlúdio não fosse durar mais que duas semanas. Quando a segunda semana terminou, comecei a pensar que aquela próxima semana seria a última do recesso. Isso durou doze semanas e quando voltei para o trabalho no meio do mês de junho voltei para trabalhar dois dias por semana.
Acabou que o retorno se mostrou um pouco mais estressante do que eu imaginava. Estressante no aspecto de paramentação. Um respirador com filtro N95, óculos, máscara, jaleco e gorro. Nada de mais em termos de biossegurança, a não ser pela presença do respirador; algo que no final acabou se tornando parte constante da nossa atividade. Eu sinceramente acho que não deixaremos de usar este aparato ainda por um bom tempo.
Eu imaginava que ficar tanto tempo sem trabalhar iria causar tanto prejuízo. Muita coisa que acontecia nos bastidores vieram à tona e as condições de retorno para o trabalho acabaram se tornando um pouco mais difíceis de serem contornadas. Foi um momento, também, de reflexão e aprendizado quando eu finalmente tive a oportunidade de me afastar de uma posição que desde o início não estava sendo muito bem administrada por mim. Ter a chance de me concentrar exclusivamente no meu trabalho clínico acabou me aliviando de uma maneira muito grande, possibilitando continuar exercendo a Odontologia que tanto gosto de praticar.
O que o ano de 2021 reserva eu sinceramente não sei e tento não me preocupar com o assunto. Eu contraí o COVID 19 juntamente com minha esposa e filha. Não cheguei a ver a luz no fim do túnel, mas digo que essa experiência me debilitou um pouco e me mostrou que por mais cuidado que a gente tenha, o mundo invisível da microbiologia tem a habilidade de nos atacar quanto menos esperamos. A vacina chegou, o processo de imunização já começou e os planos para o retorno ao que conhecíamos como “vida normal” parece estar para acontecer no meio do ano. Até lá, o aprendizado sobre distanciamento social irá continuar. A feiura das pessoas continuará sendo escondida pela obrigatoriedade do uso de máscaras. No final das contas, a pandemia se mostrou útil, removendo do nosso convívio gente feia e emburrada. Quem sabe nos próximos anos não chega alguma coisa para tirar a chatice do nosso meio? A gente pode sonhar.
Um abraço e sucesso sempre!