O Medo do Desconhecido
Todos nós temos nossas histórias de sucesso. Eu tenho a minha. Engraçado que histórias de sucesso não acontecem de repente. Às vezes são uma sucessão de acontecimentos encadeados, completamente desconectados que ao longo dos dias, somando-se os acontecimentos chega-se ao resultado por vezes inesperado.
Este final de semana eu atendi uma paciente muito ansiosa. Um problema simples de ser resolvido, mas a paciente se mostrando com um nível de ansiedade acima do normal. Depois de dar muita cabeçada na vida profissional, eu aprendi que este tipo de paciente chega até você primeiramente para conversar. Eles querem sentir segurança em você. Eles não estão procurando ajuda para o problema de dente deles. Principalmente quando não existe dor envolvida. Quando é este o caso, qualquer um que se colocar na frente dele dizendo que é Dentista ele vai deixar fazer o que quiser, desde que o problema dele (a dor) seja resolvida. Mas quando não há dor envolvida, você percebe que estes pacientes estão procurando alguém para contar sua história, deixando o problema dentário em segundo plano.
Este caso não foi muito diferente. Paciente agendada para o último horário do dia com um espaço Inter proximal grande observado entre o segundo pré-molar e primeiro molar inferior direito. Primeiramente o caso foi observado por dois outros colegas do trabalho. O primeiro observou que uma restauração feita anteriormente no local fraturou. O raio-X mostrava a parte fraturada abaixo do preparo original dando a impressão de que estava no meio do tecido gengival. Eu imagino a dor constante que aquele pedaço de resina estaria causando. O reparo foi feito, mas agora, deixava um espaço Inter proximal indesejável. Ponto de contato aberto é convite para problemas constantes no pós alimentação.
A ansiedade da paciente não estava no fato de ter que constantemente manter a região sem resíduos alimentares. Sua ansiedade estava na possível – possível – dor que qualquer procedimento feito ali pudesse trazer. Ela tinha sido encaminhada para que eu avaliasse e, conversando com ela, pudesse dar uma orientação para o seu caso. Conversamos. Opções de tratamento no caso ficava restrito à nova restauração utilizando um sistema de matriz para casos como o dela, com contato aberto, ou uma coroa. “Qual é o que vai resolver meu problema?” – ela perguntou. “A coroa.” – foi o que eu respondi. “Mas o seguro não cobre.” – emendei. Ela não se importou. Se o problema fosse para ser resolvido com a coroa ela estava disposta a partir para tal.
Foi depois de entender que o problema dela residia na possibilidade de sentir dor que eu compreendi o motivo dela ter comparecido à consulta. Ela queria um reforço psicológico na incerteza que ela estava passando sobre a chance de sentir ou não dor. Todos nós temos receio do que não conhecemos. Todos nós temos medo de nos aventurarmos no desconhecido. Nossos pacientes têm medo porque não sabem pelo que vão passar. Cabe a cada um de nós sermos o porto seguro deles, oferecendo confiança no que fazemos e assegurando a cada momento que eles não devem temer estarem sentados ali.
Um abraço e sucesso sempre!