Doze Anos
Esta semana eu comemoro 12 anos desde que cheguei aqui nos Estados Unidos. Já falei em mais de uma ocasião sobre o meu processo de mudança, o que era a minha vida antes de depois que cheguei, o trabalho, o inicio deste blog e as mudanças que aconteceram na minha vida desde então.
Não que eu queira parecer repetitivo ou absolutamente não ter assunto para dissertar. Na verdade, eu creio que se eu quisesse escrever o que eu venho pensando ultimamente eu estaria correndo um serio risco de tomar um processo. Ah... tudo bem. Nem é assim tão sério. Eu corro o risco real de parecer estar julgando pelas aparências e acabar me metendo em uma fria a qual eu sinceramente não desejo.
Mas do que eu estou falando?
Um dos motivos porque eu demorei tanto para chegar até os EUA foi um comentário feito por um professor sobre a impossibilidade de exercer a Odontologia nos EUA. Na época eu levei aquele comentário tão a sério, não por ter vindo de um professor, mas por ter vindo de um professor que tinha um contato e conexão com alguém muito próximo a mim. Ouvindo aquilo naquele momento eu imaginei que tudo o que eu pensara até então, como me preparar e me mudar de vez para os EUA para poder trabalhar como Dentista seria uma tremenda perda de tempo. Eu deveria estudar, concluir os quatro anos da Faculdade e deixar este velho sonho de lado.
Se este texto pode servir para alguém, gostaria de dedicar a todos aqueles que fazem do ensinamento o seu ganha pão. Aqueles que estão à frente de uma classe de futuros profissionais – não necessariamente da Odontologia – e têm o poder de orientar e dar motivação aos futuros profissionais. Minhas palavras:
Sejam autênticos influenciadores na vida de seus alunos. O poder que vocês exercem sobre eles é muito grande e tem a capacidade de guiar o futuro de cada um deles. Ofereçam conselhos pautados pela sua experiência profissional e de vida, não por o que vocês não conseguiram conquistar. Não ofereça conselhos sobre assuntos que vocês não tem experiência e, principalmente, meçam muito bem suas palavras quando se dirigirem à alguém que pede uma orientação.
Não há vergonha nenhuma dizer que não se sabe sobre determinado assunto. Ou ainda, dizer que não é capaz de ajudar. Dou um exemplo da qual vivi esta semana.
Uma paciente que veja já há mais de 5 anos chegou ao consultório esta semana como emergencia. É uma senhora de 77 anos com uma compleição frágil, mas com a mente muito ativa. Comunicando-se bem e fazendo sempre perguntas diretas. Da mesma forma, sem fazer rodeios procuro sempre respondê-la da maneira mais direta e sincera possível também.
Há algum tempo ela vem tendo problemas com um segundo molar inferior esquerdo. Já passou por outros Dentistas antes de mim, fez uma coroa metaloceramica e esta quebrou. Mas quebrou somente a parte de porcelana. O metal de base estava bem adaptado e vínhamos fazendo um acompanhamento do caso de maneira periódica. Certa vez ela chegou se queixando de dor e acabou que eu a encaminhei para um Endodontista. Um trabalho perfeito que o Endodontista fez. Perfeito mesmo. Ela retornou e, ainda com a coroa fraturada na porção distal eu fiz uma restauração onde o acesso ao canal foi feito e expliquei para ela que futuramente ela poderia substituir a coroa, já que naquele momento ela não poderia pagar pelo tratamento.
Esta semana ela chegou e pediu para eu a visse – escreveu na folha de emergencia que queria ser vista somente por mim. Ok, sem problemas. O problema foi quando eu vi o raio X. A base, o preparo do dente estava todo cariado e a possibilidade de um tratamento de sucesso com os recursos que eu disponibilizava ali não seriam suficientes.
Eu mostrei o caso para a paciente e falei que eu não me sentia confortável em oferecer um tratamento que eu mesmo não considerava uma chance grande de obter sucesso. Falei para ela que eu conhecia outros Dentistas que poderiam entregar o trabalho com mais precisão e com uma chance de sucesso maior do que eu poderia oferecer.
Os olhos dela se arregalaram quando eu falei isso. Ficou grata pela sinceridade e agradeceu pelo tempo da consulta que tivemos.
Não há vergonha nenhuma em dizer que não se é capaz de fazer alguma coisa. De fato, a experiencia somente é que nos habilita a se colocar nesta posição e realmente assumir a nossa incapacidade. Eu prefiro enviar um paciente para quem eu saiba que pode ajudar mais e melhor do que eu ter que me desculpar por um trabalho que não ficou bem feito. Lembre-se que tudo o que se diz antes de um procedimento é explicação. Depois, tudo o que se fala é desculpa.
Daquele professor que me colocou para baixo quando perguntei o que era preciso fazer para exercer a Odontologia nos EUA, pouco ou nada sei sobre ele. Na verdade, eu vejo algumas postagens dele no Facebook e outras mídias sociais. Sei, também, que eu não fui o único a quem ele disse que não era possível trabalhar como Dentista nos EUA e, coincidentemente, esta outra pessoa agora gere e trabalha em seu próprio consultório no Estado do Texas.
A impossibilidade de qualquer tarefa se dá a partir do momento que você mesmo estabelece este limite. Não exista nada que não consigamos fazer se a gente colocar todo nosso esforço naquilo. Depende somente de você. Não deixe que ninguém te diga que é impossível alcançar o que você quer para sua vida. “Entregue teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará.” Sal 37:5.
Um abraço e sucesso sempre!