Choque cultural

            Quando eu era pequeno o Brasil ainda vivia a época da ditadura. Para mim, criança, pouco me importava o que acontecia nos bastidores do poder. Eu mesmo achava engraçado ver o presidente da época, João Figueiredo, sendo bajulado pelo Silvio Santos durante os comerciais da antiga TVS: “A Semana do Presidente”. Mesmo que nesta época este período já estivesse com o seu final quase acontecendo, ainda me lembro de adesivos colocados em caminhões. “Brasil ame-o ou deixe-o”.

            Eu deixei, mas não foi por falta de amor. Acho que foi mesmo mais por amor. Amor pela profissão, amor pela minha esposa. Aliás... sem ela eu não creio que tivesse chegado onde cheguei.

            Este período de globalização onde vivemos atualmente acabou deixando esta frase de para-choque de caminhão bem desatualizada. Hoje em dia o mundo está em todo lugar. O mundo está na palma da sua mão, provavelmente sendo usado para ler este blog. Semana passada eu estava atendendo uma antiga paciente. Ela é de origem açoriana e tem um português até que bom mas muito carregado no sotaque. Ela chegou toda bronzeada. Fiquei surpreso. Bronzeado nesta época do ano por aqui pode ser duas coisas: Voltou de férias ou é artificial. No caso dela foi o primeiro. Voltou da Jamaica. Duas semanas. Lá, ela disse ter encontrado com o amigo de seu filho ao qual ela não tinha mais contato por quase 30 anos. “O mundo é pequeno senhor Doutor.” ela disse.

            Viver em outro país pode dar uma sensação de distância. Para alguns, somente o pensamento de viver em outro país chega a dar calafrio. Para estes alguns, a idéia de deixar sua casa e conforto nem passa por perto. Para aqueles que buscam esta chance para suas vidas uma coisa muito importante que eu quero lembra-los:

            Os Estados Unidos – ou qualquer outro país – não é o Brasil.

            A língua falada nos EUA não é o Português. Se você quer se dar bem nos EUA a primeira coisa que você tem que pensar em fazer é aprender o idioma. No mínimo. Já falei aqui neste blog mais de uma vez. Não venha para os EUA achando que as pessoas têm a obrigação de te entender. A obrigação é toda sua de se mostrar interessado a aprender o idioma daqui. Você vai ter a oportunidade de falar em Português com algumas pessoas. Brasileiro você encontra em todos os lugares, mas quando decidir mudar para os EUA, traga com você – se já não um inglês avançado – pelo menos a intenção de aprender.

            Os EUA é um pais muito grande. E pelo seu tamanho, é possível encontrar diferentes formas de agir. O que quero dizer é que é muito importante você se familiarizar com os modos e costumes da região onde você fixará residência e respeitar estes modos e costumes. O sul dos EUA, por ser mais calor, pode se assemelhar um pouco ao Brasil. Lá as pessoas são mais amigáveis e um pouco mais fáceis de conversar. Na região onde eu resido – Massachusetts – por ser um Estado localizado em uma região mais fria, as pessoas também são assim. São mais distantes, não afeitas a contato físico – beijos e abraços – como por vezes é possível encontrar no sul dos EUA. Quando eu voltei a primeira vez ao Brasil em 2008 eu percebi que tive um pouco desta cultura de pouca proximidade quando uma amiga veio me cumprimentar com 3 beijos no rosto e eu me afastei dela quando ela chegou perto.

            O que eu quero dizer aqui é que é possível sentir um choque cultural quando você chegar aos EUA. Não é nada de outro mundo. Ninguem vai querer que você faça nada que te faça se sentir desconfortável, mas é importante sempre lembrar que tudo o que você um dia conheceu e dava por garantido – abraços apertados, beijos no rosto, falar em alta voz – vai mudar no seu dia a dia. Será um aprendizado constante e dependerá somente de você querer se ajustar e aprender alguma coisa nova para sua vida.

            Um abraço e sucesso sempre!