House, MD
Dr. Gregory House fez parte das semanas de milhões de pessoas pelo mundo durante a exibição do seu seriado. Considerado um gênio tomado por uns e por outros, adjetivos não tanto publicáveis, o fato é que ele tinha um domínio profundo da sua área de conhecimento. O fato dele não gostar das pessoas acabava por ficar de lado. Sua paixão estava em desvendar os mistérios que aqueles pacientes traziam para ele. Ele tinha uma falta de vontade o motivação tremenda quando o assunto era conhecer seus pacientes. Para isto ele tinha a equipe que trabalhava com ele. Ele atinha-se aos detalhes do histórico médico e mergulhava profundamente na etiologia, diagnóstico e tratamento da doença. Não do paciente. O paciente se recuperar era uma consequência.
Alguns vão discordar de mim sobre a descrição do Dr. House. Mas como ele mesmo dizia: “I don’t care”. Mas este não é o ponto que quero trazer aqui. Volta e meia durante meu trabalho diário eu me deparo com pacientes que, se estivessem sob o cuidado direto do Dr. House – como aqueles da Emergência do Hospital ao qual ele obrigado a atender – certamente não retornariam. Eu digo isto, porque me falta uma certa dose de honestidade com os pacientes. No intuito de estabelecer um contato mais próximo a eles eu deixo o pragmatismo de lado e contorno a situação com algo menos doloroso, como a verdade crua e nua.
Isso não quer dizer que eu minta para os pacientes. Não é isso. Eu simplesmente não sou direto e contundente como o Dr. House era. Vejamos um exemplo:
Paciente chega a consulta com os dentes cobertos de placa, matéria alba, tártaro, gengivite, sangramento e bolsas periodontais reclamando de sangramento quando escova, uso de fio dental e mau hálito. Quando eu pergunto quando ele escovou os dentes, a resposta que vem é aquela de sempre: “Escovei antes de vir pra cá.”
Dr. House dizia que “todo mundo mente”. É uma característica humana. Não vou me ater a filosofia envolvida no assunto, mas isso é verdade. Sua resposta direta seria: “Você é um idiota”. Desfiaria um rosário de evidencias clinicas provando para o paciente o que ele mesmo não gostaria de saber ou quem sabe até mesmo de ver.
Não estou dizendo que gostaria de chamar os pacientes de idiotas. Ainda que alguns o sejam, eu não acho que esta aproximação seja a mais adequada. No entanto, eu sinto um pouco de dificuldade em ser mais direto com o paciente. Naquelas entrevistas de emprego, quando o entrevistador pergunta qual seria o meu ponto fraco eu diria que ser direto com paciente seria algo na qual eu precisaria trabalhar mais. Dói ouvir dos pacientes que eles “herdaram” dos pais aqueles dentes cariados e apodrecidos. A única coisa que foi herdado foi a falta de vontade de escovar os dentes. O exemplo vem de casa, e pelo que vejo por aqui ainda haverão outras muitas gerações de “dentes fracos” a serem atendidos.
Sendo direto ou não com os pacientes, o que quero dizer é que sinceridade e grosseria são separados por uma linha muito fina. Cruzá-la de maneira irresponsável pode custar uma discussão desnecessária e até mesmo improdutiva economicamente falando.
Do Dr. House quero ter somente a habilidade e capacidade de diagnosticar e tratar os pacientes.
Um abraço e sucesso sempre.