Maratona
Por mais que a gente se esforce não é sempre que a gente consegue o resultado que a gente espera. Pior que não ter o resultado desejado, é conseguir chegar aonde se precisava, mas sem ter o sentimento de vitória nas nossas mãos. Depois de pouco mais de seis meses de volta aos bancos da Faculdade, eu percebi que aquela minha vontade de terminar o programa como primeiro da turma iria somente me trazer angústia e frustração.
Acho que já comentei aqui no blog da primeira visita como aluno recém aceito pelo programa ainda no ano passado. Tive o primeiro contato com alguns colegas, uma visita dentro do prédio da Faculdade e um momento de conversa informal com uma das alunas que estava deixando o programa. Naquele dia eu ouvi dela que não havia problema nenhum ser um aluno com nota “C” e que seria um desgaste físico e mental desnecessário almejar notas A, B e ter um GPA igual a 4.0.
Aquilo não ressonou muito bem para mim. Por que eu iria almejar a mediocridade na maior oportunidade da minha vida? Isso ainda se somou alguns meses depois quando eu ouvi o discurso da melhor aluna da turma durante a cerimonia de graduação que, além de ser também do Brasil, me deu uma motivação muito grande para que eu também estivesse naquele pódio discursando para os colgas de classe.
Eu entrei no espírito de melhor aluno da turma ainda antes de começarem as aulas. Assisti a vídeos de ex-alunos, vídeos de como estudar, como aprender e como me preparar para as aulas de maneira prévia a fim de estar totalmente imerso no assunto e poder participar das aulas de maneira eficiente e ativa. Eu estava pronto.
Os resultados dos primeiros exames começaram a chegar e nem de longe correspondiam ao que eu sabia sobre o assunto. Eu estava aprendendo, retendo informação, fazendo conexões com a minha experiência clínica de mais de vinte anos, mas o resultado no papel que poderia me levar para aquele pódio em maio de 2025 estava longe de acontecer. O sentimento de derrota e frustração começou a me derrubar mentalmente. Por que todo o esforço colocado não estava sendo refletido nos resultados de prova? Pensei que fosse o fato de eu estar há muito tempo afastado do ambiente acadêmico. Pode ser, mas ainda assim eu esperava mais. Eu não vou dizer que eu surtei, porque antes que isto acontecesse eu procurei ajuda por parte da Faculdade que disponibiliza auxilio para quem está precisando conversar. Por dois meses eu me encontrei com um dos psicólogos da Faculdade e, conversando ainda com outros colegas que já tinham terminado o programa e essas conversas semanais, me mostraram que independentemente do resultado ao final do curso, eu estaria andando sobre o palco no dia da graduação, recebendo o meu certificado de conclusão do curso e o reconhecimento nacional de que a partir daquele momento eu seria reconhecido não mais como um Limited Licensed Dentist no Estado de Massachusetts mas como um Dentista.
Em uma dessas conversas que eu tive com um colega que terminara o programa há dois anos, ele me disse que essa preocupação em obter somente notas altas não seria muito salutar, porque ele mesmo desenvolveu um certo trauma pelos dias que ele esteve no programa por conta do excesso de stress que ele passou por querer ser o primeiro da turma. Ele terminou como terceiro aluno de um grupo de cem alunos e ele disse que no final todos receberam o mesmo certificado, o mesmo reconhecimento junto ao Board of Registration do Estado e que nunca ninguém perguntou para ele em que posição da classe ele terminou o curso.
Se para alguns o primeiro lugar no pódio e ser o número primeiro lugar é o que os motiva, para outros terminar uma prova é considerado sucesso. Isso a gente consegue ver bem em tantos milhares de corredores de maratonas que não estão ali para terminarem em primeiro lugar, porque a maior vitória deles é terminar a corrida. O Advanced Standing Program por ser encarado mais ou menos como uma maratona. Um dos alunos vai eventualmente terminar em primeiro lugar, mas no final todos têm as mesmas chances de terminar a mesma prova. Independentemente da sua classificação você já se destacou de milhares de outros Dentistas que se inscreveram para um programa competitivo e difícil e, agora, a única coisa que é preciso fazer é aprender o máximo que você conseguir, velejar por mares um pouco turbulentos para terminar essa corrida sem traumas físicos e psicológicos.
Um abraço e sucesso sempre!