Conexão
No dia 10 de janeiro de 2023 eu fiz a entrevista que me garantiu o ingresso no Advanced Standing Program da Boston University. Sinceramente eu já nem estava mais pensando sobre ser chamado para esta entrevista por conta de ter finalizado a minha aplicação próximo à data limite. De acordo com fontes fidedignas – nem tanto – encontradas na internet o recebimento de um e-mail convidando para ser entrevistado geralmente acontecia pouco depois da aplicação ter chegado às mãos do Comitê de Seleção.
Quatro ou cinco dias antes eu recebi o e-mail dizendo que na próxima terça feira eu tinha a entrevista agendada e que deveria confirmar a minha presença respondendo aquele e-mail. Não posso dizer que não fiquei feliz pelo convite, mas depois de ter quase conseguido uma vaga na Residência em Endodontia na UNC – University of North Carolina – eu procurei me manter centrado no aqui e agora. Acho que foi a melhor decisão.
Se estivéssemos falando de uma entrevista para este programa há pelo menos uns 4 anos, certamente esta aconteceria de maneira presencial, mas graças à pandemia decretada em 2020, qualquer processo similar estava se dando de maneira virtual, onde candidato e entrevistador conversariam através do uso de uma câmera de vídeo e um computador. Mesmo sabendo que somente a minha cabeça e torso estariam sendo observados, eu decidi participar desta entrevista vestido dos pés à cabeça como se eu estivesse participando presencialmente desta reunião. Fui questionado no trabalho do motivo pela qual eu estava tão bem-vestido, se eles iriam somente observar o que a câmera de vídeo estaria vendo e eu respondi que era mais por um princípio de integridade, algo como vestir a camisa – no caso – o terno.
Depois de acompanhar tanta gente que passou pelo mesmo processo, agora era a minha vez de fazer a minha pesquisa sobre a instituição, sua história e projetos assim como procurar informações sobre o entrevistador de modo a procurar criar uma conexão pessoal com ele e, assim, poder desenvolver a entrevista mais como uma conversa entre pessoas com os mesmos gostos. Infelizmente o meu entrevistador tinha pouca relevância dentro das mídias sociais. Eu encontrei muito pouco sobre suas atividades extracurriculares, mas acabei descobrindo que junto comigo trabalhava uma antiga aluna – minha residente – que me deu informações preciosas sobre a atividade do entrevistador dentro da Universidade.
Foi através dela que eu soube que ele estava muito envolvido no assunto “Odontologia Digital” e que ele é um grande entusiasta do assunto. Providencialmente o Community Dental Center onde eu trabalho obteve a oportunidade de receber um dos mais modernos equipamentos para confecção de coroas de zircônia e di-silicato de lítio. Não somente o equipamento que fresa o bloco deste material, bem como o último modelo da câmera intraoral, bem como o último modelo do forno de sinterização, e foi com este argumento que eu consegui estabelecer um ponto em comum na nossa entrevista que acabou culminando no meu convite algumas semanas depois.
Conseguir estabelecer esta conexão com o entrevistador é fundamental para poder ter uma entrevista mais fluida. Eu digo isto, porque o nível de ansiedade é tão grande que a gente acaba falando demais ou deixando de mencionar coisas importantes que possam valorizar ainda mais a nossa personalidade junto ao entrevistador. No meu caso, eu imaginava que a minha idade fosse ser assunto durante a entrevista, mas o que eu achei que fosse ser perguntado nunca aconteceu. O que ele perguntou foi como eu me sentiria tendo como Professores, pessoas com menos experiência clínica e como eu me sentiria sendo avaliado por eles. Honestamente eu venho sendo avaliado clinicamente por pessoas com menos experiência clínica há muito tempo. Meus dois últimos Diretores tinham menos experiência clínica e pelo menos 10 anos a menos de graduação do que eu, mas a questão não é o que eles não sabem e eu sei. A questão é o que eu não sei e o que eles podem me ensinar.
Mais do que um lugar para se obter um título profissional qualquer atividade acadêmica tem como objetivo o aprimoramento tanto de um lado quanto do outro. Se por um lado o Professor tem menos experiência clínica, ele tem mais experiência acadêmica haja visto o tempo que ele vem exercendo esta atividade. Do outro lado, como no meu caso, que tenho uma vivência grande com o contato com mais de 100 pacientes por semana, eu posso repassar o que os anos me ofereceram como experiência a fim de melhor atender os pacientes no futuro. No final das contas o que eu acho que seja mais válido é a troca que pode existir entre os Professores e os alunos.
Demorou um tempo para eu entender que esta troca é o que me faz ser um profissional e uma pessoa melhor. Compartilhar conhecimento é a melhor maneira de repassar para os outros aquilo que nos torna o que somos. Nas palavras de Esopo: “Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar”. A humildade acaba sempre prevalecendo.
Um abraço e sucesso sempre!