Datas memoráveis
Você se lembra de um dia específico na sua vida onde está marcado na sua memória o dia, mês e ano? Eu tenho alguns. Dia dez de julho de oitenta e sete. Foi uma sexta-feira. Meu dia estava programado para passar a manhã em casa e a tarde ir para a aula de piano no centro da cidade. Eu iria de bicicleta. Decidi arriscar e fui jogar bola com meus amigos da Igreja. Não teria problema porque eu voltaria para casa antes mesmo de alguém se dar conta que eu não tinha ido à aula. A única coisa que eu não esperava era ter a minha perna esquerda quebrada. Quando tudo aconteceu eu fiquei caído na quadra - acabando o jogo - e meu primo foi ligar para meus pais avisando o que tinha acontecido.
- Tia, eu acho que o João quebrou a perna jogando bola.
- Jogando bola? Não pode ser. Ele foi na aula de piano.
- Não tia. A gente está na AABB (Associação Atlética Banco do Brasil).
O primeiro problema era que a AABB ficava na lapa em São José dos Campos, SP. E lapa que eu digo era “lapa putaquepariu”. Longe demais de tudo. Para a gente chegar naquele dia, descemos na linha final do ônibus e ainda andamos mais de vinte minutos para chegar no lugar.
O pior ainda não foi estar caído na quadra, esperando ser resgatado. O problema foi ver meus pais entrando na quadra. A cara do meu pai era de dar medo. Eu acho que ainda preferiria ter apanhado, mas depois de tudo o que aconteceu, punição maior era carregar a culpa de ter feito besteira. Poderia ter ficado por aí, mas eu tentei remediar a situação tentando tirar a culpa. “Foi da vontade de Deus” tentei justificar todo espiritual. Meu pai que estava quieto até então, acho que ferveu o sangue dele todo de uma vez e ele falou: “A vontade de Deus era você ter ido na aula de piano!”.
Lições que a gente aprende na vida e que a gente carrega posteriormente para ensinar nossos filhos. Primeiro: Não mate aula de piano para ir jogar bola. Segundo: Se for jogar bola, não divida a bola com um goleiro que parecia um tanque de guerra. Terceiro: Não culpe Deus pelas suas burradas.
Outra data memorável para mim foi o dia dezesseis de setembro de dois mil e sete. Neste dia eu saí de São José dos Campos para tentar uma vaga como Dentista em uma clínica odontológica nos Estados Unidos onde eu soube que um Dentista brasileiro trabalhava por lá sem que tivesse sido necessário revalidar o Diploma de Odontologia. Cheguei no dia dezessete em Boston, pouco mais de uma hora depois, após uma breve viagem de ônibus eu cheguei até Hyannis no Estado de Massachusetts e não voltei mais para o Brasil.
Quando eu olho para trás e penso por tudo o que eu passei antes de chegar aos EUA, eu penso que eu passei por um longo processo de aprendizado. E ainda continuo aprendendo. Eu acho que manter a cabeça aberta para as possibilidades para aprender uma coisa nova ajuda a manter aquela fagulha do inesperado e desconhecido. Nestes anos aqui nos EUA eu aprendi que eu sempre me cobrei muito a ser perfeito em tudo o que eu faço, quando o que se basta é fazer o melhor que eu posso. Aprendi que é muito mais fácil viver em paz comigo mesmo quando eu não levo as coisas para o lado pessoal. Confesso que esta parte ainda está em processamento dentro da minha cabeça, mas ter compreendido o quão ruim e difícil a vida se torna quando a gente acha que todo mundo faz as coisas por causa da gente me ajudou a perceber que o problema reside nos outros e não em mim. Aprendi que fazer suposições somente atrasa a minha própria vida, querendo imaginar respostas de problemas que eu não tenho as soluções.
Imigrar para os Estados Unidos para buscar uma carreira dentro da Odontologia é um processo que pode ser um pouco lento, mas eu digo que quanto antes você iniciar esta caminhada mais rápido você vai chegar ao seu destino.
Um abraço e sucesso sempre!