Faça o seu melhor
Às vezes acho que o meu trabalho está concluído com este blog. A idéia inicial de me fazer ouvido por Dentistas do Brasil de que o exercício da Odontologia nos Estados Unidos era possível parece ter chegado a muito mais pessoas do que eu jamais imaginei. No Brasil, pelo menos, por que na Índia... phew!... muita gente por lá concluía o bacharelado em Odontologia com o objetivo específico de continuar seus estudos nos Estados Unidos para nunca mais voltarem para casa. Logo no meu primeiro ano por aqui eu tive a oportunidade de conhecer um Dentista Indiano que tinha acabado de concluir o ASP na BU e tinha graduado inicialmente dois anos e meio antes em uma das Universidades de lá. Ele terminou o programa e logo conseguiu um trabalho em uma das franquias de Odontologia aqui nos EUA. Não sei por quanto tempo ele permaneceu ali, mas a última vez que soube, ele tinha mudado para o meio oeste americano.
Dá para saber que a notícia sobre a possibilidade de se tornar Dentista nos EUA já se espalhou pelo Brasil pelo número de brasileiros que existem no meu curso. No total somos dez brasileiros que se revezam para trazer pão de queijo para cafés da manhã e pelo que me consta outros sete já foram aceitos e estão esperando julho do próximo ano para se mudarem para Boston e fazerem parte da turma de 2026. Isso me dá uma satisfação muito grande, porque ainda que sem muita pretensão o blog “Dentista Brasileiro nos Estados Unidos” cumpriu o seu papel.
Penso, talvez, em mudar um pouco a direção do conteúdo, apontando agora para informações sobre o programa propriamente dito, o que acontece dentro do ambiente acadêmico, as interações com professores, funcionários e alunos. Acho que dá para oferecer um assunto interessante de forma a elucidar muita coisa, muitos mistérios e dúvidas sobre como é o dia a dia dentro de uma Faculdade de Odontologia nos Estados Unidos. Estou pensando...
A nossa vida fica mais confortável com a elaboração e constante repetição de rotinas criadas para facilitar nosso dia a dia. Tenho um colega que acorda todos os dias cinco horas da manhã para se exercitar. Ele disse que não consegue ficar sem esta atividade logo quando acorda. No meu caso, minha rotina é composta em acordar cedo e tentar pegar o primeiro ônibus para o campus da Medicina em Boston, localizado no sul da cidade. Minha rotina no início do dia é ser o primeiro a chegar no auditório de aula e ali aguardar a chegada dos outros colegas e ver o auditório ficar cheio. Uma coisa importantíssima que incluí nesta rotina é procurar usar o máximo de tempo possível para rever o que quer que tenha sido dado naquele dia para procurar aprender, e ter a informação da aula mais bem retida naquele mesmo dia. Foram dicas obtidas através de palestras online encontradas no youtube do já falecido Professor Pierluigi Piazzi. “Aula dada, aula estudada hoje!”. já escrevi sobre este assunto anteriormente.
Uma grande vantagem da qual eu disponho – ou nós alunos temos – são as aulas serem disponibilizadas de maneira integral para poder ser assistida novamente no momento que se desejar. O que procuro fazer é me dedicar a rever o conteúdo ministrado e fazer anotações de pontos e tópicos importantes – e muitas vezes ressaltados pelos professores durante as aulas – que a gente as vezes perde por um momento qualquer de distração. Neste mesmo momento, qualquer dúvida que me venha sobre o que foi colocado eu já envio um e-mail para o professor ne certeza de que em no máximo dois dias eu terei a resposta enviada. Quando o assunto necessita ser um pouco mais explorado o professor pede para marcar um horário para a gente poder conversar um a um e ter o caso finalmente totalmente esclarecido.
O que eu acho importante salientar é que quando a gente muda de posição e volta a ser aluno, é importante ter em mente que é necessário “mudar a chave” dentro da nossa cabeça e entender que a gente deve começar a funcionar dentro de um espectro diferente do de ser profissional e começar a ver as coisas como aluno, demonstrando curiosidade e humildade, não tendo receio de perguntar e confrontar nosso próprios paradigmas que muitas vezes estão tão profundamente enraizados. Algumas vezes uma simples poda resolve, mas outras vezes, é preciso remover tudo pela raiz para dar espaço para uma coisa mais nova.
Se você tem o desejo de fazer o programa Advanced Standing Program (ASP), Advanced Education in General Dentistry (AEGD) ou General Practice Residency (GPR) a minha sugestão é que você inicie a sua jornada como se fosse o seu primeiro dia da Faculdade. Você ainda se lembra? Aquele entusiasmo, a certeza de que não sabia nada e a vontade de aprender. Pense na vantagem que os alunos do ASP, AEGD e GPR têm que é infinitamente maior do que aqueles que estão iniciando a vida dentro da Odontologia, porque quem já tem experiência e vivência clínica tem muito mais informação do mundo real e pode usar da sua experiência prévia para entender os motivos pelas quais alguns casos não deram certo, reforçar conceitos aprendidos e trocar informações com colegas e professores da sua própria vivência dentro do ambiente clínico. Esteja sempre de mente aberta e “Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto não pode fazer melhor ainda”. – Mário Sérgio Cortella.
Um abraço e sucesso sempre!