Nada Pessoal
No segundo ano do ensino médio eu tive duas matérias na escola que serviram somente para encher o curriculum. Sabe aquelas aulas onde os alunos não podem não assistir, mas o professor também parece não estar nem aí se eles estão ali ou não? Pois bem. Antropologia e Sociologia foram divididas nos dois semestres e ajudaram a compreender melhor para onde os recursos pagos para a escola estavam sendo orientados.
Pensando sobre este assunto esses últimos dias eu cheguei à conclusão que a Antropologia poderia me dar um pouco de clareza nos motivos pelas quais os povos latinos levam tanto as coisas que acontecem ao seu redor de uma maneira tão pessoal. Por quê? Por qual razão essa específica parte da população mundial se ofende por qualquer coisa ou se dói por qualquer motivo? Por que eu faço parte deste grupo? Por que eu não aprendo?
Pensando no que a gente já conversou aqui sobre calibração cultural, uma coisa que eu acho muito importante falar e, também frisar para aqueles que nos acompanham, é comentar que aqui nos Estados Unidos é muito difícil encontrar pessoas que se comportem desta maneira. Algumas vezes a gente encontra pessoas que não estão absolutamente nem aí como você se sente fazendo qualquer comentário sobre qualquer assunto. Na verdade, eu sinto que por esta não ser uma característica inerente dos Americanos esta sensibilidade mostrando-se mais prevalente atualmente acabou exibindo uma exacerbação deste sentimento fazendo com que os que se sentem ofendidos o façam de maneira mais acentuada. Estes, receberam o apelido de “snowflakes” ou traduzindo ao pé da letra “flocos de neve”, porque derretem por qualquer coisa.
Ainda que eu possa parecer muito duro comigo mesmo, por vezes eu me sinto desta forma e confesso passar por um processo de autorreflexão muito grande, para conseguir tirar este sentimento de dentro de mim. Não é e não tem sido uma tarefa das mais fáceis conseguir fazer uma auto avaliação e chegar a um resultado onde eu consiga separar tudo ao meu redor e me concentrar especificamente nos fatos de maneira isolada.
A verdade é que estamos sempre sujeitos a momentos onde achamos que o mundo conspira contra nós e outros onde nos achamos maiores do que o mundo todo. Conseguir chegar a um meio termo parece ser a busca constante da nossa vida adulta. Mais ainda... eu acho que quem consegue separar de maneira eficiente o sentimento da razão tem uma chance muito maior de tomar decisões mais acertadas e mais bem definidas. E como fazer isto?
Eu acho que o primeiro passo é não se deixar levar pelo ímpeto do momento. Quando você sentir aquela vontade de rebater um primeiro comentário feito, literalmente fechar a boca e abrir a mente. Respirar e não se deixar levar pela avalanche de pensamentos que irão inundar a sua cabeça. Deixe as coisas fluírem de maneira ininterrupta e se conseguir falar com alguém, fale com alguém de confiança, que não vá emitir juízo de valor ou que esteja alheia aos fatos que geraram a situação.
Uma coisa que me ajuda é escrever. Sente-se na frente de um computador ou na sua escrivaninha e comece a redigir exatamente o que está vindo na sua cabeça. Sem interrupção. Escreva tudo e coloque tudo aquilo para fora, como se estivesse literalmente aliviando-se de um peso. Letra por letra, palavra por palavra, linha por linha você vai ter condições de colocar todo seu sentimento para fora de uma maneira eficiente e precisa.
Quando terminar saia para dar uma volta. Procure esquecer o que passou, afinal tudo ficou para trás, salvo em um arquivo de computador ou páginas de papel redigidos. Depois de um tempo, volte para rever o que você escreveu e procure compreender se a história ali descrita realmente condiz com o que aconteceu. Sua verdade naquele momento não necessariamente condiz com o que estava acontecendo naquele momento. Procure observar de uma perspectiva mais distante o quadro vigente, e procure compreender dentro daquele contexto se tudo aquilo condiz com a realidade.
Uma vez terminada esta primeira leitura, repense sobre como você está se sentindo neste momento e comece a fazer conexões com o momento atual e o momento onde você se sentiu “ofendido”. Veja se há substância neste sentimento inicial e procure compreender melhor o contexto onde e como tudo aconteceu. Faça uma digestão completa dos fatos e procure analisar o que foi dito. Atenha-se aos fatos e não divague pelo o que poderia ter sido dito. Nestas horas agradeça por não ter emitido nenhum comentário no calor da emoção (“Três coisas não podem ser recuperadas: A flecha lançada de um arco, uma oportunidade e a palavra dita sem pensar”- Ali the Lion).
Finalmente procure fazer as pazes consigo mesmo. Aprenda que no mundo poucos são os que se importam com o que você sente. Seja franco com todos falando sempre a verdade e não permita que as suas emoções sejam o guia para a sua vida.
Um abraço e sucesso sempre.
