Leverage

            Um dos presentes mais esperados por crianças na minha época era uma bola de futebol. Como toda criança normal nos anos 80 eu sabia que aquele Natal foi muito legal porque eu tinha ganhado uma bola de capotão. Curiosamente ela veio embrulhada como ela estava. Quem visse não poderia deduzir outra coisa, diferentemente de um meme muito engraçado que eu vi recentemente por conta do dia das mães onde uma frigideira é embrulhada com papel de presente e a inscrição dizendo: Dia das Mães – Espero que seja um iPhone 11. E estupidez é tão grande que é o que realmente faz o meme engraçado. Eu não poderia pensar nada diferente com a minha bola de capotão. Não poderia imaginar sair uma bicicleta de dentro daquele pacote esférico.

            Colocar a bola de capotão para funcionar não exigia energia elétrica ou qualquer outro aparato. Era somente colocar no chão e gastar energia, mas uma bola e uma criança sozinha não dá para se ter muita diversão. É necessário pelo menos dois ou três pares de crianças para fazer dois times. No caso de ter um número ímpar de crianças o dono da bola acaba ganhando permanência de maneira indefinida porque se ele não pode jogar, ninguem mais jogaria. A bola era dele. Dependendo da influência do “dono da bola” ele ainda ditaria as regras. Poderia ser o maior perna de pau. Sendo o dono da bola seu lugar no time certamente estaria garantido.

            É muito fácil cavar um lugar ao sol quando se tem o que a gente chama aqui nos Estados Unidos de “Leverage”. O termo em si significa “alavanca”, mas também pode significar uma vantagem sobre os demais. Seria como você ter informações privilegiadas sobre alguém ou alguma coisa, que te ofereceria um benefício não compartilhado com as demais pessoas. Se você pensar bem, possuir este tipo de posição por conta de informações privilegiadas não seria algo do que se orgulhar. Ter ou estar em determinada posição por conta disto não te faz melhor do que ninguem; muito pelo contrário. Quando a notícia sobre esta informação se torna pública a pessoa provavelmente acabaria sendo a primeira a ser colocada de fora.

            A cultura norte-americana tem uma característica muito interessante. Você dizer que é um bom Dentista é uma coisa que todas as pessoas irão aceitar sem qualquer questionamento. Duas coisas podem acontecer: A primeira é ter suas credenciais confirmadas com pessoas que te conhecem e já trabalharam com você. A outra é acreditarem na sua palavra e com o tempo ter esta informação comprovada. De início eles não vão fazer uma sabatina para saber se você realmente sabe ou é quem diz ser. A possibilidade de ter suas credenciais confirmadas com terceiros é um dos motivos pela qual cartas de recomendação são exigidas. Nem todas as pessoas que fazem a recomendação são contatadas para confirmar a veracidade das suas informações, mas elas podem ser a qualquer momento.

            O que eu quero dizer com tudo isto é: não exagere nas informações que descrevem você como um candidato a um programa de AEGD, GPR ou ASP. Seja você mesmo(a) e não crie um perfil falso simplesmente para impressionar a equipe que está te selecionando. Acredite ou não esse pessoal tem um conhecimento muito grande de como ler e interpretar as cartas de intenção e são muito habilidosos na confrontação de informações quando o candidato chega para a entrevista; motivo pela qual a entrevista existe. Ser chamado para ser entrevistado em nada significa ter a sua vaga garantida.

            Seja você mesmo, nunca minta ou crie situações onde você não tem experiência e mantenha-se sempre aberto a novas formas de se fazer as mesmas coisas que você sabe. O que eles esperam de você é alguém pronto para ouvir, pronto para compartilhar informações e sempre pronto para aprender.

            Um abraço e sucesso sempre!