2020 finalmente chegou
Em fevereiro de 2008 eu iniciei minhas atividades como Dentista aqui nos EUA. Cheguei sem saber muito sobre absolutamente tudo. Ou nada. Cheguei com a esperança de conseguir obter um trabalho como Dentista em um Community Health Center em Massachusetts. Do Estado eu quase eu nada sabia. Tinha uma vaga idéia que tinha Boston como sua Capital, talvez soubesse que Harvard fosse aqui e tinha certeza que o MIT certamente tinha residência por estas bandas (Massachusetts Institute of Technology). Mas sem muitas pretensões. O que eu queria era saber se eu conseguiria alguma coisa em termos de trabalho como Dentista ou se eu deveria retornar ao Brasil e continuar minha vida por lá.
Quis Deus que tudo encaminhasse como foi encaminhado. Depois de alguns meses, o trabalho como Dentista aconteceu no Community Health Center onde cheguei procurando trabalho e o resto é história. Uma grande história.
Durante estes anos aqui eu aprendi algumas coisas muito importantes. Aprendi primeiramente que a Odontologia que se pratica aqui nos EUA difere à Odontologia praticada no Brasil em termos de material, conduta e cultura. Material, porque eu nunca mexi com material de segunda linha. Não é necessário fazê-lo para economizar no final do mês. Conduta, porque eu aprendi muito sobre a importância de anotações clínicas, o que elas representam bem como as formas mais eficiente de fazê-las. Também na parte de conduta a minha total dependência de exames radiográficos obtidos anteriormente à elaboração de planos de tratamento. Sinto vergonha de dizer que foram raras as vezes que pedi – ou obtive (nunca) – uma tomada de boca toda de um paciente para elaborar um plano de tratamento. A gente aprende na Faculdade que sem um bem feito não é possível diagnosticar nada, e é a pura verdade. Se você não usa deste exame para diagnosticar cárie e doenças periodontais no seu consultório, repense sua conduta. E cultura porque a mentalidade dos americanos (pacientes) bem como dos Dentistas (americanos) é diferente. O paciente sabe que o Dentista não vai atende-lo sem que haja atrelado na sua ficha clínica um seguro, convenio, ou um cartão de crédito que será debitado posteriormente, e o Dentista não abre seu consultório de manhã para fazer favor para ninguém. Ele está lá para trabalhar e seu consultório (gerido como uma empresa) deve fazer a única coisa que uma empresa deve fazer: gerar lucro. Fica na disponibilidade sazonal do Dentista tirar um dia, ou alguns dias por ano, para fazer trabalhos pro bono, mas isto nunca é regra. Não existe cheque pré-datado, muito menos “só dá uma olhadinha” ou “dá pra dar um jeitinho?”.
Mas o que mais mudou?
Ainda não mudou... mas vai mudar. E revolucionar o processo de validação do Diploma de Odontologia aqui nos EUA.
As duas provas do National Board of Dental Examiners parte I e II irão se fundir para a Integrated National Board of Dental Examiners (INBDE). Desde 2008 quando cheguei aqui nos EUA já existia os rumores que as duas partes da prova sofreriam uma mudança. Ninguem até então sabia que mudança seria esta. Chegou então. A partir de agosto de 2020 todos que buscarem a validação do Diploma de Odontologia nos EUA deverão passar por esta prova. Aliás... Dentistas graduados fora dos EUA não poderão mais fazer esta prova depois de 31 de maio de 2020. A Joint Commission on National Dental Examiners baixou uma regra que Dentistas graduados fora dos EUA somente poderão fazer o NBDE parte I até o dia 31 de maio de 2020.
Ainda que isso possa parecer frustrante e desafiador, eu creio que a forma como a prova irá ser conduzida a partir de agora será mais justa. Ao contrário do formato do NBDE parte I e II que provavam ser um modelo de prova ultrapassado com associações absurdas, decoreba e questões com duplo negativo, o formato apresentado até aqui irá fazer com que o candidato tenha um real conhecimento das matérias básicas e clinicas sendo capaz de fazer associações e correlações com os casos clínicos que serão apresentados. Creio que será uma prova mais justa e com uma habilidade melhor de demonstrar para as Universidades e a sociedade que aquele Dentista está realmente habilitado a exercer a profissão, não tendo pautado seus estudos em técnicas mnemônicas ou gráficos coloridos.
Estes formatos de estudo ainda poderão fazer parte do preparo do candidato, mas o foco será mais em cima do que se sabe sobre o assunto e não o assunto em si. Não será necessário memorizar os 12 pares de nervos cranianos, mas será possível, através do caso clinico apresentado fazer a associação do problema apresentado com qual nervo craniano afetado.
O grande dilema criado, então, é: Como estudar e se preparar para a prova? Até aqui poucos sabem deste “pequeno” detalhe. Importante detalhe, diga-se de passagem, mas de extrema importância, já que não existem provas já realizadas ou livros que detalhem especificamente o que, como e de que forma estudar.
Uma coisa é certa: Ao invés de 3 dias que as duas fazes anteriormente exigiam (1 dia para o NBDE parte I – 400 questões - e 2 dias para o NBDE parte 2 – 400 questões no primeiro dia e 100 questões no segundo dia) agora o INBDE serão 1 dia e meio. Serão 500 questões divididas em um dia e meio. Minha previsão? Serão 400 questões no primeiro dia e outras 100 questões no segundo dia. Ainda não encontrei o layout destes dois dias, mas assim que surgir qualquer informação eu deixarei uma nota por aqui.
Fui perguntado hoje mesmo sobre se é muito difícil Validar o Diploma aqui nos EUA. Tudo na vida que é muito fácil não vale a pena ou é muito ruim. Não tem caminho fácil. Não tem atalho. É preciso se dedicar, focar aonde você quer chegar e fazer a coisa acontecer. Não tem outro jeito.
Um abraço e sucesso sempre!
