Dr. João Antonio Costa

Olá!

Bem vindo ao nosso blog. Aqui eu conto um pouco sobre minhas experiências dentro da Odontologia nos EUA e o Processo de Validação do Diploma de Odontologia nos EUA e minha jornada dentro da Boston University Henry M. Goldman School of Dental Medicine.

Espero que você aprenda bastante!

Liderança

Liderança

            De uns anos prá cá o conceito de liderança para mim vem mudando gradativamente. Quando eu era pequeno e assistia ao Fantástico uma das atrações mais chatas era ver o resultado do Campeonato Brasileiro de Futebol. Não que eu fosse obrigado a ficar na sala. Eu sempre tive a opção de sair e fazer qualquer outra coisa. O líder para mim naquela época era sempre o time que estava em primeiro na tabela (ainda é sempre. Um conceito que nunca mudou). Mas quando eu pensava em líder a ideia que eu tinha era sempre de alguém que estava na frente de uma fila de pessoas.

            O tempo foi passando e todo ano a animação “A rena do nariz vermelho” passava toda época de Natal no SBT. Todo ano. Todo ano, impreterivelmente. Ali, deu pra começar a entender que alguém que não tinha o estereótipo necessário para estar à frente de um grupo de pessoas poderia ter uma característica diferente que o faria sobressair no meio dos demais. Vi, ainda ali, que o líder estava na frente dos demais, não somente pelo fato de estar na frente, mas deveria mostrar o caminho a ser seguido por todos. E todos confiavam nele. O senso de responsabilidade começava a florescer.

            Na Faculdade eu tive uma breve noção do peso de ser um líder, mas eu não soube administrar a situação. No primeiro ano da Faculdade, nossa representante de classe deu um calote em todo mundo coletando dinheiro para a compra de um teste salivar. Nós não somente perdemos o dinheiro angariado, bem como a representante de classe trancou a matricula e sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Mudou de escola e ficamos todos à deriva, sem saber para onde ir e necessitando recolher dinheiro novamente para comparar o teste salivar. Neste interim, um rapaz que tinha repetido de ano se levantou para ser o representante de classe, mas os seus colegas repetentes do ano anterior disseram que não seria uma boa ideia por alguns motivos desnecessários de serem explanados. Decidi, então, tomar frente, subir no tablado da sala de aula e me voluntariar para esta posição.

            Bom... primeiramente que eu não estava preparado para criticas. Um bom líder deve ter ouvidos abertos para critica e saber coletar as informações importantes do que se faz criticado. Isso é importante para poder melhorar diariamente. As minhas reuniões com os professores para elaborar o calendário de provas era patético. Não havia negociação. Quando eu chegava na frente da sala para passar o calendário eu tomava uma vaia sem tamanho. Isso porque tudo se concentrava em uma semana e meia. O meu primeiro calendário de provas ficou tão ruim que se eu não pedisse pra sair, a classe inteira ia me tirar. Da Faculdade. Vi, ali, que ser representante de sala é uma posição muito difícil, especialmente quando você quer agradar a todo mundo. O líder não pode querer agradar a todos e deve saber receber criticas com ouvidos abertos e a boca fechada. Isso porque mandei muita gente ir à merda naquele curto período de tempo.

            Passaram-se os anos, uma outra representante de classe assumiu a posição, levou a classe nos anos de curso e até hoje é chamada como Representante de Classe quando a gente se encontra. Mas nos anos que se passaram pouco ou quase nada eu tive de oportunidade para desenvolver esta qualificação que percebi não ter nascido com ela. Trabalhar como “autônomo” e ser “gerente” ou “chefe” de si mesmo me mostrou que eu realmente não tinha esta qualidade dentro de mim. Ser gentil com os pacientes é uma coisa. Ser atencioso e desenvolver empatia foi fácil. Estar à frente de uma equipe de sucesso nunca foi uma qualidade na qual eu poderia sentar e contar com orgulho que eu tinha conseguido fazer. Meus anos de trabalho em consultório próprio foram simplesmente para pagar contas e fazer atendimento gratuito. Pensar que eu fazia fiado para tratamento de canal e extrações... eu era muito mole. Não tinha coragem de dizer para o paciente ir procurar outro lugar para fazer tratamento de emergência fiado porque, primeiro: o paciente sairia do meu consultório e encontraria alguém. Segundo: eu não tinha o luxo de dispensar pacientes que entrassem no meu consultório. Se entrou eu tinha que fazer o que fosse preciso para retê-los ali. Vi, então, que a qualidade de um líder também era dizer não na hora certa.

            Os anos foram passando, em setembro de 2007 eu cheguei nos EUA. Comecei a trabalhar simplesmente para me sustentar e finalmente alguns meses depois comecei a trabalhar com Odontologia. Eu tinha deixado uma vida inteira para trás. Obedecendo sempre o que a minha mãe me falava daquela vez não poderia ser diferente. Eu vim para os EUA e não olhei para trás. Mas acho que não deveria ter feito de maneira literal. Conforme os anos foram passando, comecei a querer colocar as asas de fora. Como membro do corpo clinico Odontológico, comecei a receber convites para participar de reuniões junto com a Diretoria da Companhia. Quando eu justamente deveria simplesmente ouvir e ficar quieto, quando davam oportunidades para falar, lá estava eu... abrindo a boca e falando... Aff... Teve uma vez quando a Vice Presidente da Companhia e Responsável pelos Community Health Centers veio para uma reunião e um dos assuntos em pauta era a obtenção obrigatória de Pressão Arterial dos pacientes antes do inicio dos procedimentos clínicos. Eu sabia que no Brasil a gente era obrigado a ter o efigmomanômetro calibrado anualmente para que a leitura fosse sempre precisa. Quando o assunto apareceu e foi dada a oportunidade para comentários, ao invés de eu ficar quieto, lá estava eu falando de uma lei que ninguém seguia de um país onde eu não mais morava para gente que não tinha o menor interesse de saber. Mas eu tinha que abrir a boca? A mulher olhou para mim, apontou o dedo para mim e disse: “Isso é uma excelente ideia!”. Rá! Lá estava eu reformando a minha casa nova que estava começando a reconstruir. Reputação e confiança. Estava, naquele momento, literalmente trocando meu telhado de alvenaria por um de vidro. E do bem vagabundo.

            Em 2014 nosso então Diretor Clínico teve a ideia de introduzir na Companhia a posição de Team Leader. Na época este Team Leader seria como uma ponte entre a Diretoria e a Equipe Clinica. O Team Leader faria a comunicação entre as partes para poder facilitar o acesso entre um lado e outro. Eu sei que eu não fui a primeira pessoa a ser pensada para esta posição, ainda que tenha recebido o convite posteriormente. Creio que muito sabiamente a primeira pessoa a quem foi oferecida a posição de pronto recusou. Como eles precisavam de alguém para preencher o quadro perguntaram se eu estava interessado. Pedi uns dias para pensar. Conversei com as pessoas as quais eu sempre converso antes de tomar uma decisão mais importante. Todos disseram que seria bom para o meu crescimento profissional. Depois de alguns dias eu aceitei. Para aquela finalidade eu sei que desenvolvi um bom trabalho. Prestava conta de tudo e procurava observar o que acontecia ao meu redor. Ainda que isso possa parecer que eu estava sendo um dedo-duro (o que não deixa de ser verdade), meu Diretor precisava que eu o informasse sobre o que acontecia rotineiramente, já que ele não poderia cobrir 4 clinicas ao mesmo tempo.

            Tudo, então, mudou em 2017 quando um novo Diretor Clinico chegou. Este meu amigo... mudou tudo de vez. Não somente ele deu total poder para os Team Leaders cuidarem de tudo, como também deu autonomia para que déssemos as nossas características para nosso Centro. Realmente ele nos deu a habilidade de liderar. E não somente liderar. Ele nos incumbiu com a tarefa de motivar e organizar tudo de acordo com nossa melhor habilidade.

            Desde então, todos os dias tem sido uma viajem para a sala de aula, vivendo diariamente dentro de um centro de estudos sobre motivação e comportamento humano. Liderar um grupo de pessoas tão diferentes entre si realmente não é tarefa fácil. É preciso ouvir muito e nunca falar nada. Ser exemplo de conduta e produtividade. Ter sempre um sorriso no rosto e nunca – jamais – contradizer as pessoas do lado. É parar para respirar e pensar 10, 20, 30 vezes antes de tecer qualquer comentário.  Mais do que tudo, é preciso dar um passo de cada vez para levar a equipe inteira para o mesmo caminho e objetivo.

            Este não é meu perfil.

            Venho estudando muito sobre o assunto, lendo artigos, livros, assistindo a palestras no Youtube e procurando criar a minha própria filosofia de trabalho como um Team Leader. Esta formação está levando tempo, mas eu quero crer que esta habilidade venha a florescer de maneira integral em breve. Uma coisa que eu aprendi sobre este assunto é comunicação. Muita comunicação. Não existe nada pior para a moral de um grupo de pessoas trabalhando com o mesmo objetivo uma comunicação ineficiente e truncada. Clareza na exposição de ideias e clareza em tudo o que se faz.

            De qualquer forma a vida tem sido uma escola sem igual para mim. Eu tenho certeza que Deus vem me preparando todos estes anos para chegar e estar onde eu estou. É muito fácil dizer que estamos a disposição Dele. Quando Ele realmente nos chama e nos move, é aí que nossa vida e fé são testados.

            Lidere sua equipe com mansidão e paciência. Seja o modelo de equipe que você quer ver trabalhando junto. Ouça muito, fale pouco e nunca deixe de tomar a frente em decisões importantes. Ainda que todos estejam sempre carregando uma pedra com eles, não os trate com indiferença ou desconfiança. Tenha certeza de estar sempre preparado para ser capaz de se desculpar e consertar o seu telhado.

            Um abraço e sucesso sempre!

           

O Garoto da Bolha   

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