Do Sonho à Realidade: Minha Jornada no Advanced Standing Program
Se você me perguntasse no começo de 2007 o que eu estaria fazendo atualmente, certamente estar no programa para Dentistas internacionais da Universidade de Boston não seria uma coisa a ser considerada. Primeiro porque, até então, isso era impossível — conforme o professor de Materiais Dentários da Faculdade — e outra, porque eu não tinha recurso para sair do Brasil e me aventurar fora do país. Foi preciso pouco mais de meio ano para que a decisão mais acertada da minha vida pudesse acontecer e hoje acho que estou onde eu sempre quis.
Dizer que vivo um sonho é um pouco demais. O sonho — a palavra — dá a ideia de alguma coisa fora do nosso alcance. Voar é um sonho. Eu diria que qualquer coisa que é fisicamente impossível poderia ser enquadrada nesta palavra. Tudo o que é tangível e existe uma possibilidade — ainda que remota — de acontecer é mais como que… eu não sei… se eu disser ser um sonho, eu vou estar me contradizendo… tá, então… vou me contradizer. É um sonho. Tudo bem. Hoje, eu estou quase no meio de um programa que apareceu inicialmente na minha vida em 2009, quando uma colega no trabalho foi aceita no mesmo programa. Ela chegou recentemente para trabalhar conosco e logo em seguida ela foi aceita como aluna. Graduou-se com honras e sempre me incentivou a passar na fase I do NBDE para que eu pudesse ingressar no programa também, uma vez que ela era parte do corpo de ex-alunos que se reuniam periodicamente para discutir sobre ações entre alunos e ex-alunos. Foi preciso que ela deixasse esta congregação para que eu finalmente ingressasse neste programa. Mas tudo bem. Saber que tenho a torcida dela é uma motivação a mais para mim.
A vida como aluno do Advanced Standing Program na Universidade de Boston depende muito de cada aluno. Posso responder por mim somente. Vejo alguns colegas que passam apertados — principalmente nos finais de semana — quando não estão com suas famílias e eu, que toda a semana volto para casa. Viver sozinho não é fácil e, mesmo que eu já tenha vivido esta experiência logo quando cheguei aos EUA, saber que terei o conforto de casa aos finais de semana é maior durante a semana. Para mim, a vida em Boston se resume a acordar cedo, ir para a Escola, assistir à aula, ir para a Biblioteca para estudar, voltar para o Dormitorio, comer alguma coisa e dormir. Não tenho atividade fora da Escola, ainda que seja extremamente recomendado por todos os que conversei por aqui. Tenho colegas que acordam muito cedo ou voltam para casa, ou seu dormitório tarde da noite após passarem pelo menos uma hora na academia. Eu não gosto… não é para mim. Sei que precisava, mas… sei lá…
Essa semana tive minha esposa e filha passando o final de semana prolongado comigo. Dividimos o dormitório e finalmente elas puderam conhecer o lugar onde estou morando, em Boston. Neste final de semana, a gente andou — e como andou. Tudo o que fizemos foi andar. A única vez que pegamos carona de Uber foi para voltar do teatro, quando fomos assistir ao “Blue Men Group” e isso ainda porque já estava quase de noite e nós três estávamos muito cansados. Infelizmente, eu ainda não consegui trazê-las para conhecer a Faculdade, mas quem sabe em outra oportunidade faço isso. Além do quê, eu percebi que o trajeto do meu dormitório para a Faculdade é uma coisa totalmente exequível e agora, com o clima ficando um pouco menos frio, é uma chance de fazer a caminhada que todo o médico recomenda. Sei que não virarei atleta, mas não dá para dizer que não dá para fazer.
Dos dias na Faculdade, o contato entre os colegas começou a diminuir e sinto que mais e mais a gente começará a se afastar do grupo maior que existia no início do programa e começar a nos aproximar mais dos membros do nosso grupo clínico. Os alunos que ingressam na Faculdade são divididos entre 10 grupos e, a partir do início das atividades clínicas, esses grupos acabam se tornando um pouco mais coesos. O grupo de colegas com quem você geralmente se relacionava acaba ficando um pouco menos próximo e, conforme as aulas teóricas vão diminuindo e as atividades clínicas aumentando, é natural ter uma certa distância. É por isso que fiz questão de aprender o nome de todos os meus colegas nestes seis primeiros meses do curso. Eu decidi fazer isso, não para que eu pudesse exercitar minha memória, mas para poder ter uma aproximação maior com todos eles. Além disso, não tem som mais agradável para a gente do que ouvir o nosso próprio nome. Mesmo que eu não me torne próximo de todos os outros 99 colegas da classe, pelo menos eles vão se lembrar de que eu sabia seus nomes.
No próximo mês, a contagem regressiva para um ano da cerimônia de graduação começa. Parece piada lembrar que nesta mesma época, no ano passado, eu já estava contando os dias para deixar o trabalho, viajar para o Brasil e começar as aulas no final de julho. Logo, um ano do programa terá passado e hoje sei que, quando isso tudo terminar, sentirei falta dos colegas e amigos que fiz e deste ambiente de Escola que tem me ensinado tanto depois de tanto tempo.
Um abraço e sucesso sempre!