Dificuldades?
Confesso que eu estou muito entusiasmado com o meu retorno aos bancos escolares. Não há dúvida de que tudo o que eu achava que sabia de odontologia estava totalmente defasado, ao ponto de eu ter me esquecido de como eficiente são alguns dos instrumentos mais simples que a gente somente usa na escola e, hoje depois de usá-los novamente, eu ter me dado conta de que perdi muito tempo por não utilizá-los novamente. Tudo bem que os exercícios de laboratório nos oferecem um tempo extremamente prolongado para que a gente complete o procedimento em manequim que a gente nunca - ou quase nunca - encontra na realidade do dia a dia. Quando, em condições normais de temperatura e pressão, eu teria uma hora para fazer uma restauração MOD em um segundo pre-molar inferior esquerdo com isolamento absoluto?
Eu acho que esta é a primeira coisa que eu preciso mudar quando iniciar meus trabalhos depois que terminar o programa. Atualmente eu conheço somente um Dentista que utiliza isolamento absoluto para fazer seus procedimentos de restauração. Somente um. Eu quero crer que existam mais, mas somente um deles para fazer o procedimento de maneira que se garanta a longevidade e função de uma restauração é muito pouco.
Uma coisa que tem me deixado um pouco chateado é o cinismo e sarcasmo que eu encontro por parte de alguns alunos do mesmo programa que eu estou cursando, mas que estão um ano na frente. Tudo bem que este eh somente o primeiro mês do meu ano, mas ter que ouvir toda vez que a gente se encontra pela escola de que eles não tem tempo de nada, que o programa eh muito difícil e que a pressão eh muito grande, e que o professor fulano eh terrível… meu… de boa… já tá chato… Não dá para ter uma atitude um pouco mais positiva? Quem em sã consciência imaginaria que um programa de Odontologia que geralmente eh oferecido em quatro anos não seria difícil ou puxado ou cheio de pressão quando se faz em dois anos somente? A pressão e cobrança oferecida em quatro anos deve ser dobrada, ou pelo menos deve ser - no mínimo - esperado ser o dobro.
Por enquanto estamos tendo muitas aulas sendo trazido a tona conceitos básicos de oclusão, endodontia, patologia, prótese total, DTM e Dentistica. A quantidade de matéria para ser revista diariamente eh considerável, mas não impossível de ser feito. Na verdade, eu admiro muito colegas que trazem suas famílias consigo e conseguem equilibrar o cuidado da casa com a demanda escolar. Tenho uma colega brasileira que tem dois filhos pequenos. Seu marido trabalha para uma companhia local e que exige que ele viaje duas vezes por mês para a central da companhia que fica em outro Estado. Ela precisa administrar duas crianças pequenas sozinha por semana. Enquanto o marido não esta com eles, ela precisa acordar dois filhos pequenos, trocar de roupa, dar cafe da manhã para os dois, levá-los para o daycare, enfrentar 50 min de transito até a escola para chegar quase em cima da hora do inicio da aula. Na saída, tem que estar no day care até as cinco da tarde, levar os dois pra casa, dar banho, janta, cuidar deles, colocar para dormir para somente depois de tudo isto ter tempo para estudar o que foi visto no dia e se preparar para o dia seguinte. E quer saber? Eu nunca ouvi nenhuma queixa por parte dela.
Mas afinal de contas o que é a vida sem a grande diversidade de pessoas, personalidades e diferenças que existem no mundo. Não dá para querer que tudo seja sempre um mar de rosas. Aliás… querer dá até para querer, mas a certeza de que não é por nos dar a motivação que a gente precisa para procurar fazer sempre o nosso melhor. Talvez tenha sido esta mentalidade que tenha faltado em mim por tanto tempo durante meus anos na escola. Hoje eu sei que eu tenho muito mais para dar e meu melhor ainda mais para oferecer.
Um abraço e sucesso sempre!