Critérios para atendimento
Nos últimos anos eu testemunhei uma grande mudança dentro do ambiente de trabalho. Os Community Health Centers (CHC) recebem financiamento federal para suas atividades e, como organizações sem fins lucrativos, o simples fato de terminar o ano fiscal sem déficit é uma grande conquista. Digo isto porque muitos dos procedimentos que realizamos e que não são cobertos pelo seguro do Estado – chamado Mass Health – devem, ainda assim, serem oferecidos aos pacientes sob o que a gente chama de “sliding fee scale” que funciona mais ou menos como um valor mínimo a ser pago pelo paciente e que depende diretamente da sua renda anual; ou seja: quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos.
Ainda que isto pareça ser uma forma de se obter recurso financeiro e ter dinheiro no caixa, esta realidade nem sempre acontece. O custo operacional muitas vezes é maior do que o que se obtém financeiramente e no final das contas é muito normal acontecer perdas substanciais de dinheiro por conta de procedimentos que não foram cobrados na sua integralidade. Este parece ser o principal motivo pela qual Dentistas em consultórios particulares não atendem pacientes sob a cobertura do seguro do Estado. Além do mais, quando você aceita fazer o atendimento de pacientes cobertos pelo seguro do Estado você abre as portas da sua prática odontológica para auditorias clínicas onde os prontuários são avaliados, assim como os métodos de biossegurança, e segurança do trabalho.
Este assunto é bem interessante porque o que eu já ouvi sobre biossegurança em alguns consultórios particulares é meio assombroso. Talvez eu não seja a melhor referência porque o nosso padrão de biossegurança é acima do normal. Todos os ciclos de todas as seis autoclaves são registrados. Cada uma das autoclaves têm uma impressora matricial que indica a temperatura, pressão e tempo de esterilização. Esta fita impressa é anexada junto ao relatório daquele ciclo indicando a quantidade de material esterilizado. Cada pacote com material é identificado com o conteúdo – o que está sendo esterilizado – bem como a pessoa que embalou e colocou na esterilização e dentro de cada embalagem é colocado um sensor para provar que o ciclo foi completo. Duas vezes por semana é feito controle biológico para se ter certeza de que as autoclaves estão funcionando efetivamente.
Só aí dá para ver que, além de ser um trabalho longo e extenuante, acaba sendo caro. Imagine que cada pacote destas tiras de esterilização custa quarenta dólares para cada cem tiras. Não somente isto, é necessário manter um padrão de trabalho e registro do processo de esterilização que demanda tempo. Uma alternativa é contratar uma pessoa específica para tal finalidade, mais uma vez aumentando o valor final do trabalho.
A prática privada dificilmente abraçará a quantidade de pacientes que o seguro do Estado tem para oferecer. Infelizmente isto é uma coisa que não dá para mudar. No entanto, a abertura de horários da agenda para fazer o atendimento destes pacientes pode ser um começo. Como dono do seu próprio consultório, você pode estabelecer os parâmetros para o atendimento. Talvez seja necessário alguém iniciar este processo e dar o pontapé inicial nesta importante mudança de mentalidade.
Um abraço e sucesso sempre!