Rápido, fácil e menos oneroso
Bill Maher é um apresentador de televisão norte-americano que apresenta um programa semanal de entrevista e opinião. Confesso não o ter como referência em termos políticos e sociais, uma vez que ele tem uma visão bem progressista da vida e da política e eu, ao contrário, me considero mais conservador. No entanto, Bill Maher não é um daqueles defensores da sua posição que mais se assemelham a ditadores que dizem: “Se não pensar como eu penso, você será execrado do mundo”. Só o fato de ter tido em seu programa uma das mentes mais brilhantes que eu conheço na atualidade – Ben Shapiro – que é um advogado e defensor ferrenho de pautas conservadoras para entrevista, para mim já é um ponto de destaque.
Fazendo parte da outra ponta desta linha de pensamento, Bill trouxe para seu programa um ponto antagônico do que ele considera correto e ficou aberto ao debate. Conversaram sobre diversos assuntos e no final do programa todo mundo ganhou. Hoje em dia esta qualidade está cada vez mais em desuso, onde as pessoas não têm a capacidade de pelo menos tentar entender o que a outra pessoa está falando. Mais ou menos como universos pessoais e fechados para ideias que contrapõe as suas próprias e que no final somente faz todo mundo avançar.
Pois então, Bill Maher em seu programa fez troça do grupo de jovens progressistas que se autointitulam justiceiros sociais e que querem que o mundo gire em torno do seu ponto de vista. Ele trouxe ao seu programa e mostrou para sua audiência a sua fantasia de Halloween. Brinco para o nariz, uma camisa com os dizeres “fuck the patriarchy” – foda-se o patriarcado, um cheque assinado pelo seu pai, um cigarro eletrônico, três tipos de máscara e uma máscara de poliuretano, um remédio para controlar a síndrome do pânico e outro para te deixar mais alerta, um troféu de participação, um fone de ouvido com orelha de gatinho e para o caso de que alguém não saiba do que ele está falando, leva consigo ainda um cobertorzinho para enxugar as lágrimas. O que ele mostrou foi um monte de objetos que caracterizam os jovens da atualidade que são bancados pelos pais, se consideram donos da verdade, que não aceitam a derrota e que no final eles somente podem chorar quando não têm sua vontade feita.
Este tipo de personalidade parece que é o que está começando a chegar do Brasil em solo americano buscando trabalhar como Dentista aqui nos Estados Unidos. Claro que o retorno do recém-eleito presidente do Brasil poderá causar um êxodo ainda maior de profissionais das mais diversas áreas, mas é preciso ter em mente que deixar o Brasil de maneira rápida e intempestiva poderá causar mais danos do que benefícios.
Esta semana eu recebi uma mensagem no meu Instagram de uma colega Dentista que está com planos para imigrar para os Estados Unidos. Se você pensa em fazê-lo, excelente! Planeje-se e venha! O mercado Odontológico está precisando de profissionais. Esta colega descreveu a sua situação, motivos e objetivos pessoais e profissionais. Muito bom! Minha primeira pergunta quase sempre é: “o que você quer fazer? Residência ou ter o Diploma reconhecido?”. Eu gosto de perguntar isto porque dá para ter uma noção melhor de como poder ajudar a pessoa. Eu sempre digo que a conquista do seu objetivo fora do Brasil deve ser pautada por uma estratégia bem elaborada. Plano de ação e passos a serem seguidos a fim de conseguir chegar aonde se deseja. Se no meio do trajeto algumas mudanças devem ser feitas, isso faz parte do processo, mas é importante sempre ter em vista o objetivo a ser alcançado. Eu sabia que de posse desta informação inicial eu poderia ajudar de maneira mais adequada e responder com mais precisão. Pois a resposta não poderia ter sido mais decepcionante: “quero o que for mais rápido, fácil e menos oneroso”.
Ah... mas sabe quando sobe aquela vontade de falar umas coisas impublicáveis? Pois então. Foi assim que eu fiquei. Vou transcrever aqui o que eu respondi:
“Mais fácil, rápido e menos oneroso? É melhor ficar no Brasil então. Imagine você no seu consultório e todo o dinheiro, tempo e dificuldade que você investiu e dedicou para tornar-se a profissional que você é. Um dia uma pessoa chega no seu consultório e pede o melhor tratamento que existe, mas ele fala que quer o mais fácil de ser feito, o mais rápido e o que custe menos. Que tipo de tratamento você vai oferecer para ele? Vai durar? Vai ter a melhor qualidade? ...Imigrar para os Estados Unidos para ser Dentista não é tarefa impossível, mas nem de longe é fácil, rápido e barato...”.
Infelizmente esta é a atitude com que as pessoas encaram mudar de país para buscar alguma coisa sólida. Buscam justamente aquilo que eles detestam ouvir quando seus próprios pacientes chegam ao seu consultório, desejando um tratamento de primeira qualidade que seja rápido, fácil e menos oneroso. Tudo junto e ao mesmo tempo. E para ontem. Deixa-me colocar um pouco sobre o que eu penso sobre este assunto:
Rápido. O processo de imigração nem de longe é um processo rápido. Confesso ter ficado surpreso ao saber que um colega brasileiro obteve o seu Green Card sem muitas conquistas acadêmicas como Mestrado e Doutorado, mesmo assim, ele teve que passar por todo o processo de aplicação e espera até chegar o documento de residência permanente. A minha orientação sobre este assunto sempre foi a mesma: Consulte um advogado especializado em imigração. Somente este profissional pode ajudar a conseguir um status imigratório adequado de maneira permanente. Leva tempo!
Fácil. Nada que vem fácil permanece. Para se conquistar alguma coisa duradoura, é preciso muito trabalho e esforço. Não ache que as coisas irão cair do céu para você aqui nos Estados Unidos. Tudo bem que eles admiram a força de trabalho de estrangeiros que deixam seus países de origem para iniciar sua vida novamente aqui nos EUA, mas nem de longe o fato de você ser imigrante irá te dar oportunidades mais fáceis. Muito pelo contrário. O aprendizado do idioma e cultura são somente duas partes de difícil assimilação que poderá tornar a vida do imigrante um pouco mais difícil.
Menos oneroso. Quando eu penso neste assunto um sorrisinho sarcástico brota no canto da minha boca. Em nada desta busca pela felicidade se faz “menos onerosa”. Para eu me ater somente ao processo de inscrição para os programas onde eu apliquei este ano, viagens para visitar somente dois programas e uma entrevista não saiu por menos de cinco mil dólares. É pouco dinheiro? Para alguns sim. Para outros não! Eu conheci um americano que aplicou para vinte - VINTE! – programas de residência em Endodontia. Eu apliquei para sete. Sabe como se calcula o pagamento para o envio das suas aplicações pelo PASS? A primeira inscrição fica em torno de 200 dólares. As demais ficam em torno de 90 dólares. Este colega pagou – somente em inscrição quase dois mil dólares. Caso ele seja chamado para entrevista presencial no local do curso, ele deverá adicionar ainda passagem e estadia, além de perder dinheiro por não estar trabalhando durante este tempo em que está passando pela entrevista. Se a gente pensar que com uma tarifa de vôo mais hospedagem fique em torno de mil dólares – por conta da urgência em se obter vôos – se ele for chamado para quatro entrevistas, adiciona-se mais quatro mil dólares... e os números somente vão aumentando. E eu ainda nem falei no tempo investido em estudo, pagamento de taxas para provas – INBDE e TOEFL... os números somente vão aumentando...
Como disse antes: A sua decisão de imigrar para os EUA é louvável. Venha mesmo! Dedique-se ao máximo, procure gente capacitada para te ajudar e quando decidir vir de vez, venha e não olhe para trás, mas lembre-se de que em nada a vida nos EUA se assemelha ao paraíso idílico que os filmes vendem. Defina muito bem o que você quer, elabore sua estratégia e siga em frente.
Um abraço e sucesso sempre.
