Tradições

            Com o passar do tempo a gente acaba se acomodando com determinadas coisas que acontecem ao nosso redor. Você vê o caso de quem mora em locais onde a taxa de crime é grande. O relato de assaltos, tiros e homicídios muitas vezes passa desapercebido e o assunto muitas vezes acaba sendo somente mais um tópico de conversas aleatórias. Aqui nos Estados Unidos a mesma coisa acontece, mas não necessariamente falando sobre violência.

            Claro que, dependendo de onde se mora, o índice de criminalidade pode passar desapercebido por quem reside em determinados locais. Aqui mesmo onde eu moro, existe uma vizinhança onde a visita constante de carros de polícia faz, no dia a dia, ser parte normal do que se espera. Eu conheço um rapaz que disse que estranhava quando, de noite, não via as luzes de um carro de polícia piscando do lado de fora da casa. Fosse por denúncia anônima ou simplesmente durante a ronda, as luzes azuis dos carros de polícia faziam parte da rotina local.

            Mas o que eu quero dizer é que o que é extraordinário para alguns acaba sendo a coisa mais normal do mundo para outros. Exemplo disto que quero dizer é a tradição que universidades americanas têm da presença e manutenção de bandas marciais. Há cinquenta anos quando meu pai veio fazer a sua pós-graduação aqui nos EUA ele conheceu a banda marcial da Universidade de Ohio. A majestade e precisão com que os membros realizam suas evoluções é, de facto, motivo para grande admiração. Ainda pequeno, eu me lembro dele e da minha mãe comentando sobre o que eles viam, e sempre nos chamavam para ver alguma reportagem especial na televisão onde apareciam poucos segundos das evoluções. No final dos anos oitenta, depois de uma viagem para os EUA, meu pai trouxe um disco de vinil com a gravação de músicas executadas pela banda marcial da Universidade de Michigan. Ainda que fosse possível ter uma ideia do que era ouvir esta banda dentro de um estádio, não dava pra ter ideia do que eram as evoluções que eles realizavam.

            Chegou, então, a era da internet e smart phones e com ela a aproximação do mundo inteiro na palma da sua mão. O mundo não apresenta mais limites e barreiras intransponíveis de outrora são derrubadas com um simples movimento do seu dedo. As evoluções e músicas executadas por bandas marciais têm, agora, a oportunidade de ser conhecida e apreciada por qualquer pessoa.

            Para os americanos, bandas marciais e evoluções feitas por elas é a coisa mais comum do mundo. Eles crescem e vivem esta cultura a sua vida toda e, por vezes, eu tenho a impressão de que eles não dão o devido valor para esta maravilha. Na minha saudosa São José dos Campos, SP, nos anos 60 existia uma banda marcial no colégio onde eu estudei. Da banda eu só ouvi algumas poucas histórias de competições vencidas, execuções publicas e certa vez eu vi, jogado em uma sala, alguns instrumentos de uma época completamente esquecida.

            A gente sempre espera por dias melhores, esperando que outros o façam para a gente. Não sei se é da natureza humana esperar que as coisas melhorem sem ter o desejo de ser o precursor desta mudança, mas àqueles que se dispõe a fazê-lo, os meus mais sinceros parabéns. Continuem firmes na sua busca por um mundo melhor.

            Um abraço e sucesso sempre!