Pro Atividade
Eu venho pensando muito neste ano de 2019 sobre a questão de liderança e ser um líder. Ainda que eu esgote toda a bibliografia sobre este assunto tão vasto, liderança somente acontece na vida profissional de um denominado líder quando ele(a) vive a experiência por si mesmo.
Eu busquei – e ainda venho procurando – informações sobre este assunto através de TED talks, livros e artigos na internet, mas tudo o que venho encontrando são experiências de pessoas que viveram e passaram por problemas dentro da sua área de atuação, tiveram condições de juntar os pedaços bem sucedidos e mostrar para o mundo o que realmente deu certo para eles. Mas a experiência de um, infelizmente, não é possível ser replicada para todos. Claro que o ambiente por vezes é parecido, a dinâmica da empresa ou local de trabalho sejam similares, mas a aplicação ipsis leteris para todos os casos é uma pratica arriscada e por vezes sem sucesso.
Eu aprendi desde cedo que a observação é sempre uma grande escola. Aprendi em casa observando meu irmão mais velho o que aborrecia meus pais. Ele tinha um ar um pouco mais ousado em determinadas atitudes comparado a mim que sempre foi muito medroso. Mas eu pude aprender a não fazer vendo o que, de fato, deixava meus pais realmente irritados.
Perdi muita oportunidade na vida por não ter cometido alguns erros. Lembro-me certa ocasião onde ele e meu irmão caçula estavam no banheiro vomitando as tripas por conta de uma ingestão alcoólica um pouco mais exacerbada. Minha mãe estava louca da vida com eles. Do meu pai eu nem soube da sua reação, porque eu nem me atrevi a sair do meu quarto naquela ocasião. No final das contas a própria ressaca por quê passaram acabou sendo suas punições. Percebi que bebida alcoólica levava a vomitar na privada, vomitar na privada levava a um vexame monstruoso, ressaca, dor de cabeça e a vã promessa de nunca mais beber. Cerveja nunca foi uma coisa da qual eu tive gosto ou paixão. Na verdade, nunca me apeteceu. Mas o ponto onde quero chegar é que eu nunca precisei passar por toda esta experiência para saber que o consumo desenfreado de bebida alcoólica leva a um problema que é totalmente possível de ser evitado. Já, hoje, se eu faço uma coisa destas creio que não volto mais para o mundo dos vivos.
Recentemente passei por uma situação muito complicada dentro do ambiente de trabalho. Tendo sido apontado como Team Leader há aproximadamente 5 anos, venho aprendendo meio que na marra que a substituição do seu telhado convencional por telhado de vidro requer que algumas novas telhas acabem se quebrando durante o processo.
Um pequeno problema pela qual passamos onde trabalho é a completa ausência de privacidade entre o corpo clinico e os pacientes. Existe uma comunicação entre a sala de espera e o local onde os Dentistas, Higienistas e Dental Assistants permanecem entre um paciente e outro. Logo ao lado fica o escritório da Gerência e o Zum zum zum ali próximo sempre deixou nossa gerente irritada. Ainda que isso não fosse claro junto à sua atitude, vez ou outra eu acabei sendo testemunha da sua frustração. Aquela reunião de funcionários próximo a ela e à vista dos pacientes deixava ela frustrada e irritada.
Certa feita, tentando ser proativo como Team Leader, procurei chamar a atenção de dois colegas que estavam conversando próximo ao escritório. Era possível vê-los da sala de espera e, da perspectiva de um paciente, dois Dentistas conversando não atrairia uma impressão muito positiva. Foi o pior que eu poderia ter feito porque a coisa se virou contra mim de um modo tão avassalador que eu literalmente fiquei sem palavras. Acusações de mau gerenciamento, soberba, manipulação e incapacidade permearam o meu dia a dia por semanas. Quando reportei o acontecimento para meus superiores acabei sendo recebido com sarcasmo e comentário sobre quão difícil é gerenciar pessoas. Outra coisa foi o termo “you have to pick your battles”. Eu tenho que escolher minhas batalhas. Sinceramente a minha batalha diária é me manter empregado e se qualquer coisa que eu procure fazer para demonstrar pro atividade como Team Leader iria me tornar um pária dentro do trabalho eu preferiria deixar as coisas acontecerem como se nada tivesse acontecido.
Outro momento “glorioso” do meu aprendizado no mundo corporativo foi uma ocasião onde eu adoeci. Uma gripe muito forte que acabou comprometendo meu sistema respiratório. Febre, tosse e um mal-estar muito grande. Depois de uma consulta junto ao centro de atendimento de urgência do Hospital, o medico acabou me dando 4 dias de repouso para ficar em casa.
Eu sabia que isto iria afetar diretamente a produtividade no trabalho. Não somente isto, as recepcionistas deveriam ter o trabalho dobrado em fazer o contato com os pacientes para poder reagendar as consultas, ouvir palavrões e desaforos por conta de um Dentista que estava impossibilitado de trabalhar. Pensando nisto e sendo muito pontual na administração dos medicamentos recomendados, em 3 dias eu já estava me sentindo melhor. Eu entrei em contato com o trabalho e pedi para que os pacientes do dia seguinte não fossem desmarcados. Eu tinha a intenção de ir trabalhar mesmo que meu atestado medico me desse ainda um dia a mais para ficar em casa. Mas eu queria ser produtivo, demonstrar pro atividade e mostrar que uma gripezinha qualquer não poderia me derrubar. Fui trabalhar.
No dia seguinte cheguei cedo como sempre faço, abri meu computador, fiz uma avaliação de como seria o dia e fiz a besteira – agora sei que foi uma grande besteira – de ligar para meu Diretor para dizer que eu estava ali. Trabalhando. Quando eu deveria estar em casa. Descansando.
O que eu ouvi foi muito, mas muito distante de qualquer comentário de aprovação ou elogio por ter sido “corajoso” e ter ido trabalhar mesmo não estando cem por cento recuperado. Eu tomei uma bronca tão grande, mas tão grande que a minha vontade era de ter literalmente entrado no mundo quântico e ter desaparecido da existência.
Acontece que eu não tinha a menor ideia da repercussão que aquele meu “ato de coragem” poderia acarretar para a Companhia caso alguma coisa acontecesse comigo. O fato de eu ter trazido do Hospital um documento dizendo que eu deveria ter ficado em casa um determinado numero de dias; retornar ao trabalho antes da data especificada traria para a companhia a chance de ser responsável caso acontecesse alguma coisa comigo ou um acidente com algum paciente caso eu passasse mal durante o trabalho. Minha ordem – ORDEM – foi de terminar o dia de trabalho e me dirigir logo depois para o consultório médico e obter um atestado dizendo que eu poderia ter retornado ao trabalho sem que houvesse qualquer restrição.
Então... pro atividade nem sempre deve ser uma coisa que se deva demonstrar. Faça seu trabalho quieto. Ninguém precisa dizer que é bom no que faz. Os resultados falam por si. Liderança é um atributo que nasce com certas pessoas, mas que pode ser aprendido por qualquer um. Àqueles que necessitam aprender fica o alerta que as chances de você errar são tão grandes quanto as de acertar, mas o barulho causado por um erro será sempre muito maior do que um acerto.
Um abraço e sucesso sempre!