Minha história – Stéfano Lima
Nascido na terceira geração de dentistas meu futuro não poderia ser diferente. Não sofri nenhuma pressão dos meus pais para seguir a carreira, porém vendo meu pai e meus irmãos trabalhando na área me inspirou bastante.
Segui o curso normal. Fiz Faculdade de Odontologia por 5 anos na UNIFOR (Universidade de Fortaleza). Trabalhava com minha família enquanto cursava minha primeira Especialização (ortodontia). Resolvi abrir minha própria clinica, fiz minha segunda Especialização e um ano depois comecei minha terceira (Prótese) que acabei não concluindo. Eu poderia dizer que estava chegando no auge da carreira.
Comecei a fazer um dinheiro razoável e fiz minha primeira viagem para os EUA. Fiquei maravilhado com tudo aquilo, mas nunca passou pela minha cabeça me tornar um Dentista Americano pois nas devidas proporções era como tentar tocar a lua. Toda vez que esse assunto surgia em mesas de bar com amigos as reações eram sempre as mesmas: “Tu é maluco”? “Tem que ser fluentíssimo no inglês!” “As provas são impossíveis de se passar!” Então eu seguia o fluxo e só concordava com meus amigos.
Naquele momento minha esposa estava estudando para sua Residência em Medicina e o Brasil, especialmente o Ceará, estava passando por um momento turbulento em relação à violência. Carros blindados, muros mais altos com cercas elétricas israelenses. Vídeos sobre assaltos, facções criminosas expandindo e chegando cada vez mais próximo de nossas casas. Um belo dia de domingo minha esposa chegou para mim e perguntou: “O que você acha se eu fizesse minha residência nos EUA? Você sabia que que o volume de estudo seria o mesmo? Um amigo me falou que se eu fizer uma pesquisa em qualquer faculdade vai me ajudar a entrar na residência!” Minha reação não poderia ter sido outra. Acredito que qualquer pessoa em sua sanidade mental reagiria da mesma forma “Estás doida? Esquece isso!” Óbviamente que o dia não foi o dos melhores pois não tem coisa pior do mundo que uma esposa sendo contrariada.
No dia seguinte, já na minha clinica, resolvi eu mesmo pesquisar como me tornar um Dentista nos EUA. Primeira coisa que me veio para colocar no Google: “dentista brasileiro nos EUA”. Vi esse tal de João Costa (mal sabia que esse tal cara mudaria minha vida). Na página dele explicava tudo. Quais os caminhos, quais as provas, relatos e etc. Conversei com minha esposa e ela fez suas aplicações como pesquisadora e foi chamada para algumas entrevistas nos EUA. No dia 31 de agosto de 2015 minha esposa me ligava de Boston me comunicando que fora aceita para fazer pesquisa em Harvard no laboratório de neuromodulation.
Com todo o conhecimento sobre o processo e já com o contato feito com o Dr. Joao Costa me lancei no projeto de me tornar dentista no EUA. Para minha sorte minha esposa recebeu o visto J-1 e eu o J-2 o que significa dizer que eu poderia tirar meu Social Security Number e o work permit (permissão de trabalho). Comecei trabalhando como Dental Assistant para melhorar o Inglês e entender melhor a dinâmica de um consultório nos EUA. Para aplicar para as Universidades eu teria que ter um TOEFL de 90 no mínimo; porém alguns colegas me orientariam que o melhor era estudar para o NBDE parte I e depois fazer o TOEFL.
Seguindo o conselho dos meus amigos fiz o NBDE parte I na segunda semana de outubro em 2016. Uma semana depois comecei a fazer a prova de Inglês. Marquei 5 exames na sequencia para garantir que teria pelo menos um score acima de 90 pontos pois meu primeiro score ainda no brasil foi 78 e eu queria participar daquele ciclo de aplicação. Resultado do NBDE parte I saiu em duas semanas e meia e o TOEFL fiz os scores 90,93,92,96, 94 pontos. Estava pronto para aplicar.
Apliquei para as Universidades que ainda estavam abertas. A BU (Boston University -Advanced Standing Program), Eastman Dental (AEGD program) e UCDenver (University of Colorado - Advanced Standing Program).
Não fui chamado para entrevista na BU porem fui chamado no Eastman. Depois fiquei esperando para o Colorado pois só chamariam para as entrevistas em Março-Abril. Ate lá decidi melhorar meu CV pois aqui nos EUA eles valorizam muito pesquisa e seria um fator diferencial no meu currículo.
Apliquei para todas as Universidades de Boston. Devo ter mandado com minha esposa cerca de 200 e-mails. A maioria nem respondeu. Recebi uns 48 dizendo: “ I’m sorry but we don’t have any available position” e 2 deles foram “ Hello Dr Lima, I’m more than glad to discuss the position with you”.
Quando vi de onde era quase caio para trás. Os dois e-mails de Harvard. Fui lá discutir a posição e depois da entrevista fui aceito no departamento de Oral Biology. Era um laboratório básico. Em outras palavras minha função era: preparar, seccionar e examinar as amostras no microscópio.
Começo de abril, após dois meses no laboratório eu já tinha dado como perdido ser aceito no Eastman ou no Colorado e já me preparava para o NBDE parte II e para um novo ciclo de aplicação. Foi quando minha esposa me manda uma mensagem: “Você passou! Você passou!”
Não acreditei! Era meu sonho se tornando realidade! Falei com minha chefe no laboratório, finalizei meus trabalhos e comecei a ver casas em Rochester NY.
Hoje estou finalizando meus dois anos de AEGD e fui aceito como GME no mesmo departamento que me dará o direito de receber minha licença no estado de NY ( regulação deles não é teste e sim um ano extra de residência). Nesse momento vem na minha cabeça o nome dos anjos da guarda me ajudaram a chegar ate aqui, como Carlos Henrique e sua esposa (Debbie). Amigo desde a faculdade em Fortaleza, me orientou sobre o programa e me recebeu na casa dele como um irmão de sangue. Palavras de agradecimento não existem para descrever o quanto sou agradecido.
Agradeço demais também ao meu diretor Dr. Ghanem por ter me aceito no programa e pela amizade que nós temos ate hoje dentro e fora do Eastman. E claro não poderia faltar o agradecimento a essa pessoa que foi uma das principais responsáveis por todo esse processo: Grande amigo Joao Costa. Muito obrigado meu amigo por todo o suporte e orientação.