Exemplo a Seguir
Eu sou pai há quase 10 anos. A ideia de ter uma pessoa que se espelha em você e que você também ama incondicionalmente não fez qualquer impacto na minha vida até a hora que eu segurei minha filha pela primeira vez no Hospital. Acho que todo mundo que passa por esta experiência vive o mesmo sentimento. Uma mistura de entusiasmo e preocupação. Como ser a melhor pessoa para servir de exemplo para esta pequena vida que está chegando ao mundo?
Nossos filhos caminham sob nossos passos e imitam nossas reações frente as dificuldades da vida. Uma criança que vê seus pais brigando constantemente irá ter colocado em seu subconsciente que brigar com o cônjuge, se não é normal, pelo menos faz parte do dia a dia do casal. Da mesma forma, se a criança vê o pai ou a mãe dizendo “eu te amo” um para o outro todos os dias irá também procurar colocar no seu dia a dia este mesmo hábito quando ela tiver a sua própria família.
Mas por que esta introdução tão nada a ver com Odontologia? Eu gostaria de me dirigir hoje aos que estão nos bancos da Faculdade e que em breve deixarão de ser alunos para se tornarem Dentistas desempregados. Haha... triste dizer que foi exatamente isto que eu ouvi no meu terceiro ano da Faculdade. Em uma aula de Endodontia um dos nossos professores fez este comentário que, dali um ano, seríamos “promovidos”.
Sendo verdade ou não, o que eu quero deixar registrado aqui é a minha experiência nos anos que vieram depois da graduação. Se segura que a história pode ser um pouco monótona.
O sonho do meu pai era que seus três filhos buscassem profissões que pudesse torna-los profissionais liberais. Alguém que pudesse montar seu próprio negocio e viver sem depender de empresa ou tivesse um chefe direto sobre eles. Hoje em dia, acho que ninguém vive desta forma. Pelo menos uma pessoa ou grupo de pessoas o mais alto cargo executivo deve prestar contas. No caso de um Dentista a prestação de contas deve ser para cada paciente que entra no consultório. Se você tem muitos pacientes, você tem muitos chefes e esta presença maciça de tantos chefes pode te oferecer um bom rendimento no final de cada semana e de cada mês. Mas ao mesmo tempo que se tem tantos chefes, corre-se o risco de um deles – ou vários – decidirem que naquela semana ou aquele mês ele não vai te pagar, ou diz que vai te pagar e simplesmente não paga. Ele sai do consultório com aquela prótese parcial fixa de porcelana com 10 elementos montada sobre 6 implantes diz até logo e “esquece” de pagar. Ou diz que no mês que vem ele paga. Só que ele não fala qual mês.
Assim como crianças, Dentistas recém-formados devem procurar exemplos a serem seguidos. Mas veja bem: Não é qualquer pessoa que tem a capacidade de oferecer o exemplo correto e necessário. Lembre-se que ainda existem profissionais que fazem questão de não compartilhar absolutamente nada com a futura concorrência. Eu acho que nem preciso dizer para ficar longe deles porque as portas desses profissionais estarão sempre fechadas.
O que eu gostaria de sugerir é que os futuros Dentistas que estão prestes a deixar os bancos da Faculdade e caírem de paraquedas no mercado de trabalho, que comecem a fazer um network dentro da comunidade onde pretendem fixar residência e aprender com os Dentistas que fazem a diferença dentro da profissão. Aqui nos Estados Unidos é muito difícil ouvir falar de alguém que deixa a Faculdade para montar um consultório logo de cara. Primeiro que a divida que eles carregam de quatro anos de College mais quatro anos de Faculdade de Odontologia proíbe qualquer desejo de se afundar ainda mais em divida. Muitos deles se associam a Dentistas já bem estabelecidos no mercado e começam a trabalhar por porcentagem.
De quanto é essa porcentagem? Geralmente 30% da produção realizada. Antigamente o pagamento acontecia no momento que o Dentista-Chefe recebia do convenio o pagamento pelo procedimento e somente depois de recebido fazia o repasse para o Recém-Formado. Hoje em dia a procura por novos Dentista está com a demanda tão alta que os que contratam pagam por dia aquilo que foi produzido naquele dia, sem que haja a necessidade de esperar por um mês para receber. Um excelente negócio, porque se em um dia de trabalho o Recém-formado faz bruto US$5000,00 ele sai do consultório com US$1500,00. Mil e quinhentos dólares por dia de trabalho – 8 horas de trabalho – dá aproximadamente US$187.00 por hora. Agora, mil e quinhentos por dia vezes cinco dias da semana, vezes 52 duas semanas – se a pessoa não tirar férias – da mais ou menos uns trezentos e noventa mil dólares por ano. Tira 30% aproximadamente de imposto de renda e a gente chega em um numero aproximado de duzentos e setenta mil dólares por ano. Para quem está começando na carreira? Vou parar por aqui...
O que eu quero sugerir é que no momento que você se deparar com uma oportunidade de trabalho logo no inicio da sua carreira, abrace a causa com toda sua força. Faça uma entrevista muito bem-feita com a pessoa que irá empregar você. Pergunte coisas sobre o numero de pacientes novos que entram todo mês no consultório. Que tipo de seguro eles utilizam, se existem muitos e quais os casos que mais sofrem glosa por parte dos seguros. Quais os principais motivos destas glosas para que você fique atento a detalhes no futuro e isso acabe levando tanto quem te contrata como você contratado a não receber seu pagamento.
Neste aspecto os Estados Unidos e o Brasil são muito diferentes. É muito difícil ouvir dizer de um pagamento por procedimento que não é pago pelo convenio. Existem casos, sim, como restaurações que falham com menos de um ano, próteses parciais que necessitam ser refeitas com menos de sete anos depois da instalação. São poucos casos quando comparados com o Brasil, mas aqui nos EUA são casos que tem um custo alto e, que ao final do mês, pode fazer uma grande diferença na contabilidade do consultório.
Procure gente de confiança, honesta e com disposição para ajudar. Isso certamente fará toda a diferença para quando você decidir montar o seu próprio negócio.
Um abraço e sucesso sempre!