Insights sobre as diferenças culturais e profissionais entre a prática da odontologia no Brasil e nos EUA.
Alguns temas são deixados de lado quando o assunto vai em direção a particularidades nem sempre abordadas em sites, perfis e páginas dedicadas à descrição do que significa exercer a Odontologia nos Estados Unidos. Vamos traçar alguns pontos e tentaremos elucidar um pouco mais sobre algumas diferenças que encontrei nestes últimos anos aqui nos Estados Unidos.
Regulamentação: A regulamentação da odontologia varia bastante entre o Brasil e os EUA. Enquanto o Brasil segue seu próprio conjunto de regulamentos e requisitos de licenciamento supervisionados pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) ao nível nacional, nos EUA cada estado tem seus próprios conselhos de licenciamento e órgãos reguladores específicos. Não existe uma legislação ao nível nacional que promova a regulação da profissão. A American Dental Association é uma entidade independente que promove a padronização dos procedimentos, mas sem causar interferência no exercício da profissão.
Escopo da prática: O escopo da prática dos dentistas pode diferir entre os dois países. No Brasil, os dentistas costumam realizar uma ampla gama de procedimentos, incluindo algumas intervenções cirúrgicas, que podem ser reservadas a especialistas nos EUA. Os dentistas americanos podem encaminhar os pacientes a especialistas para procedimentos como cirurgia oral, endodontia ou ortodontia, mas isso nem sempre é regra. A maior preocupação por parte dos Dentistas nos EUA é a cultura de litígio legal quando os pacientes se mostram insatisfeitos com o resultado ou o erro médico. Por existir uma consciência maior dos direitos que possuem, os pacientes são muito mais inclinados a iniciar um litígio legal. O que vale atualmente é investir tempo na descrição, elaboração do plano de tratamento, bem como a obtenção de formulários de consentimento para a execução dos tratamentos propostos, bem como possíveis resultados que não alcancem a expectativa esperada pelo paciente. Vale a máxima: “Tudo o que é discutido antes do tratamento é devidamente consentido, o que é dito depois do resultado inesperado é uma desculpa.
Expectativas do paciente: As diferenças culturais podem influenciar as expectativas e preferências do paciente em relação ao atendimento odontológico. Por exemplo, no Brasil, os pacientes tendem a fazer várias visitas em diferentes Dentistas buscando o melhor preço, não tendo uma consideração muito grande com o resultado. Muitas vezes eles podem priorizar procedimentos estéticos, como clareamento dental e odontologia estética, pensando prioritariamente no valor que irá ser pago. A competição por pacientes, devido ao grande número de profissionais, acaba abaixando o valor dos procedimentos, deixando de lado a qualidade do tratamento. Nos Estados Unidos, os pacientes têm uma percepção mais aprofundada do trabalho desempenhado pelo Dentista, tendo em mente que, apesar de encontrar outro profissional com um custo menor, tenderá a preferir continuar sendo atendido pelo Dentista com quem tem maior afinidade, apesar de saber que, em muitos casos, o valor a ser pago será maior. Outro aspecto é o que o paciente nos EUA tem consciência de que, se ele perdeu o seguro que dava acesso ao seu Dentista e agora ele não pode mais pagar pelo tratamento, ele não irá pedir por desconto, pagar amanhã ou simplesmente não pagar.
Sistemas de Seguros e Pagamentos: Os sistemas de saúde e seguros no Brasil e nos EUA operam de forma diferente, o que pode impactar como os serviços odontológicos são prestados e reembolsados. No Brasil, há opções de saúde pública disponíveis, mas muitos pacientes optam por seguros privados ou pagam do próprio bolso pelo atendimento odontológico. Nos EUA, a cobertura do seguro odontológico varia muito e os pacientes podem ser responsáveis por uma parcela maior dos custos. Isso é visto rotineiramente com o que se chama de “co-pagamento” quando o paciente faz o pagamento de um determinado valor para ser atendido. Outras modalidades de seguro oferecido nos EUA são um valor máximo coberto pelo seguro que geralmente envolve atendimento de prevenção e emergência. Quando este valor é alcançado, o paciente fica responsável pelo pagamento do tratamento.
Educação Continuada e Desenvolvimento Profissional: A ênfase na educação continuada e no desenvolvimento profissional pode diferir entre os dois países. Nos EUA, os dentistas são muitas vezes obrigados a completar um certo número de créditos de educação continuada para manter a licenciatura. Isto geralmente é feito através da renovação periódica da licença junto aos conselhos de Odontologia de cada Estado. Em Massachusetts, por exemplo, os Dentistas devem apresentar certificados de educação continuada de no mínimo de 40 horas a cada dois anos, quando suas licenças devem ser renovadas. Não é necessário apresentar todos os certificados a cada dois anos, exceto certificados de conclusão de credenciamento para ressuscitação cardio respiratória, prescrição de opioides e biossegurança. No Brasil, embora a educação continuada seja incentivada, os requisitos geralmente são menos rigorosos.
Tecnologia e práticas odontológicas: A adoção de tecnologia e práticas odontológicas modernas pode variar entre o Brasil e os EUA. Os consultórios odontológicos americanos incorporam tecnologia, como imagens digitais, sistemas CAD/CAM e odontologia a laser, enquanto os consultórios brasileiros podem ter níveis variados de acesso a essas tecnologias, dependendo da localização e dos recursos. A progressão do uso de tecnologia vem aumentando gradativamente no Brasil, ainda que o investimento seja muito alto.
Compreender essas diferenças culturais e profissionais pode auxiliar os dentistas brasileiros a navegar na transição para a prática da odontologia nos EUA e a se adaptar às expectativas e normas da comunidade odontológica americana.
Um abraço e sucesso sempre!