Aula Dada, Aula Estudada
Vou deixar um pouco a Odontologia de lado hoje. Esse último final de semana marcou o reencontro da minha turma do Colegial do Colégio Cassiano Ricardo em São José dos Campos. Do encontro inadvertido de três colegas nos últimos meses do ano passado surgiu a idéia deste encontro. Trinta anos depois um grupo com aproximadamente cinquenta pessoas que congregam um grupo do WhatsApp poderiam se reencontrar, matar saudades, comer um churrasco, beber uma cerveja e dar algumas risadas. Infelizmente por motivos de força maior eu não pude comparecer ao encontro. Na verdade, tudo estava planejado para a minha ida ao Brasil mais precisamente para participar deste encontro, mas como disseram posteriormente em conversa no WhatsApp, eu tenho outra chance no próximo encontro em 2053.
A minha lembrança dos tempos de ginásio não posso dizer que foram as mais agradáveis no quesito escola. Pouco depois de iniciar minha vida, ainda no antigo ensino fundamental, a mudança de escola por que passei me chocou muito. Um ambiente diferente, com professores estranhos e, mais ainda, meus colegas de classe não eram nem de longe como os que eu tive que abandonar. Este novo ambiente de ensino era cercado de gente nova e desconhecida; uma escola com centenas de alunos onde as séries eram divididas em ordem alfabética. Cada série tinha entre três ou quatro classes diferentes nomeadas de A a C ou até mesmo D, mostrando o tamanho de cada classe que, na maioria das vezes, comportava mais de vinte e cinco alunos.
Demorou muito para que eu tivesse uma adaptação completa neste novo ambiente. Desta época eu pouco ou quase nada trago comigo como lembranças agradáveis, a não ser alguns amigos que carrego ainda hoje com muita saudade da nossa convivência, mas fora daqueles muros. A mudança começou depois de uma segunda tentativa frustrada e consecutiva de ser aprovado no primeiro ano do meu nono ano ou como antigamente denominado colegial. Os motivos e razões desta falta de aprovação podem ficar para uma outra oportunidade. Eu sei que tudo começou a mudar depois de uma conversa entre a minha mãe e o nosso Dentista da família que a convenceu que eu precisava mudar o meu ambiente escolar. Minha mãe estava desesperada por não saber o que fazer com um filho repetente duas vezes consecutivamente e esta conversa foi o que mudou a minha vida para sempre.
O Colégio Cassiano Ricardo era o outro lado da moeda. Ao contrário do ambiente onde eu passara mais de dez anos ali o senso de responsabilidade dada ao aluno foi uma das primeiras marcas que eu observei. Eles davam total liberdade para o aluno assistir as aulas ou não. A responsabilidade de cumprir com o compromisso diário de participação ficava totalmente a cargo do aluno. Uniforme escolar também não era exigido. Claro que o traje não poderia faltar com o decoro e decência, mas a obrigatoriedade de todos se vestirem com as mesmas cores não era mais parte do dia a dia. Ao contrário do que os que defendem o uso de uniforme escolar aquela liberdade de escolha do que eu poderia usar já foi uma mudança muito grande.
O meu primeiro contato com aquele novo ambiente aconteceu na minha entrevista com um dos professores que tive durante os meus três anos ali. Um dos melhores professores que eu tive durante meus anos de escola, ele me ensinou um conceito que pretendo levar comigo no meu retorno às aulas em Julho de 2023: “Aula dada, aula estudada”. Esse lema, esta idéia, este modo diferente de pensar fez toda a diferença porque dava a idéia de que não deixar matéria acumular é, de fato, a melhor maneira de reter aquilo que foi ensinado; e foi, de fato, o que fez a diferença.
Fiz bons amigos ali. Mais do que isto, eu levo comigo as melhores lembranças dos meus anos nos bancos escolares. Ali eu aprendi a ser desafiado, aprendi a demonstrar meu interesse por assuntos que antes nem faziam as sinapses funcionarem. Tive professores que marcaram a minha vida, aos quais eu tinha como plano poder encontrar novamente neste encontro de turma e dizer o que fiz durante estes últimos trinta anos e ainda pretendo fazer daqui para frente.
Quem sabe em breve eu possa encontrá-los de novo. Essa viagem ao Brasil precisa acontecer ainda este ano, afinal de contas já são quase cinco anos desde a minha última visita ao Brasil. Decidimos em casa que não podemos ficar tanto tempo longe dos nossos pais. Os anos passam tão rapidamente que se deixarmos de lado, o trabalho e o nosso dia a dia acabam nos engolindo. Aproveitem ao máximo seus dias na Faculdade. Façam perguntas, mesmo que soem como perguntas estúpidas. Mesmo que os professores digam que não existem perguntas estúpidas e que todo mundo te olhe de maneira zangada. Faça o seu tempo ali dentro uma coisa memorável e aproveite cada minuto porque você vai sentir muita falta.
Um abraço e sucesso sempre.
