Monumento
O dia estava perfeito para simplesmente ficar em casa. A previsão do tempo, ja desde quarta feira, prometia um clima quente a agradável, ainda que a intensidade da chuva daquele dia causasse duvida e questionamentos. O final do dia de ontem ja se manifestava como uma perfeita forma de se acabar o dia. O céu ja azul e uma leve brisa que refrescava o final de tarde logo na saída do trabalho.
Nossa ida para Boston tinha sido inicialmente agendada para o dia das maes. Mas depois de alguma ponderação, resolvemos ir para a BeanTown no dia anterior, aproveitando ao máximo o clima e a perfeita companhia das minhas duas mulheres. Geralmente estacionamos no mesmo local, em um estacionamento vertical localizado no mesmo predio do Restaurante Hard Rock Cafe.
Por pura distracao minha fomos parar do outro lado deste referido sendo necessario utilizar outro edificio de estacionamento. Este, localizado proximo a uma feira livre, não era tao frequentado como o anterior. Talvez pelo cheiro de peixe vendido naquele local aquela hora. Mas o que me chamou a atencao não foi o cheiro de peixe ou o vai e vem de pessoas fazendo compra no sabado de manha. Logo na saida do estacionamento uma praca, sem muito chamariz estetico, servia de passagem para os transeuntes locais.
Varias pedras com inscricoes esculpidas comecaram a me chamar a atencao de maneira sorrateira. O chao de paralelepipedo tinha nas suas beiradas, pedras de marmore com inscricoes talhadas da mesma forma. Logo a frente, cerca de 5 ou 6 colunas de vidro serviam como area de passagem para quem quisesse faze-lo. Eu estava passando dentro do Monumento ao Holocausto.
As colunas de vidro tinham em toda sua area os numeros dos 6 milhoes de judeus mortos durante a segunda guerra. Enquanto eu caminhava por dentro destas colunas, era possivel ler testemunhos de sobreviventes. Coisas terriveis descritas, como relatado por este judeu que fora chamado para cavar uma vala para jogar os corpos dos prisioneiros mortos nas camaras de gas e ter viso entre eles toda sua familia: pai, mae, esposa e irmas.
Cada uma das seis colunas possuia em ambos os lados por onde se passava por entre elas historias semelhantes a esta e outras menos chocantes. Abaixo das colunas, as grades que serviam como passagem liberavam vapor oriundo do metro subterraneo, dando a horrivel sensacao de que o lugar estava sendo usado como um forno.
As inscricoes, os numeros nas colunas de vidro, o vapor do chao foram demais para mim. Ao sair do monumento, eu precisei parar para poder respirar, porque uma tristeza muito grande tomara conta de mim. Enquanto a Lilian e a Olivia se afastavam, eu tentava recuperar o folego e enxugar as lagrimas. Um sentimento que ha muito tempo eu não tinha. Uma tristeza misturada com revolta por saber que existem muitas pessoas que ainda negam que o Holocausto aconteceu.
Pra ser sincero, este assunto sempre me perturbou profundamente. Tanto me revolta que nem o filme "A Lista de Schindler" eu ainda assisti. Eu fico revoltado pensando no que o homem eh capaz de fazer com seu semelhante em favor de uma ideologia tao maluca. Meu sentimento ali foi de tristeza. Foi um pouco amainado por algo que li em uma das inscricoes que dizia que varios judeus se revoltaram contra os nazistas, provocando insurgencias e chegando a tirar a vida de muitos soldados.
Fiquei feliz porque pude saber que eles foram mortos mas lutaram. Não morreram como covardes. Morreram como herois que nunca serao conhecidos e jamais terao seus nomes lembrados. Mas naquele monumento suas vidas jamais serao esquecidas.